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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO


XI - O DILEMA BIPOLAR DA LÍNGUA PORTUGUESA


O nosso idioma é visto com futuro, com países e populações jovens, onde há  crescimento demográfico, disponibilidade para crescer, atentas as condições, bem positivas, de subida populacional na América do Sul, em África e sudoeste asiático. O espaço europeu é o único em que os seus falantes nativos podem vir a decrescer, segundo projeções demográficas da Organização das Nações Unidas (ONU). Quanto mais população maioritariamente jovem, países emergentes ou recentes, maior a ascensão demográfica. Quanto maior a antiguidade, estabilidade e longevidade, menor o crescimento demográfico. No âmbito europeu, onde nasceu, é uma língua parada demograficamente, ao invés de outros continentes, por onde se disseminou e floresce. Estudos feitos, a nossa língua terá, em 2050, 355 milhões de falantes nativos. Indicia-se ser apenas no continente europeu que estagnarão, ou não crescerão significativamente, os seus falantes maternos. É um idioma pouco falado na Europa e União Europeia (UE) e mundialmente dos mais falados numa escala global. Daí, autores como Phillipson, falarem do dilema “bipolar” da língua portuguesa, dada a sua posição no Mundo e na Europa, entre o estatuto de língua global e de “pequena” língua na Europa e UE.


Tendo como critério de classificação a organização espacial em que é falada, conhecida por variação geográfica ou diatópica, sobressai, para além da sua descontinuidade demográfica e territorial, uma distribuição desproporcionada, em termos geográficos, dos seus falantes europeus e de fora da Europa. Embora de genealogia europeia, é cada vez mais, nesta perspetiva, um idioma não-europeu, contrariamente a outros, como o alemão, italiano, polaco, dinamarquês, neerlandês. Não faz sentido, em qualquer caso, serem os portugueses proprietários da língua, nem sequer donos dominantes ou preferenciais, nem os utilizadores mais competentes, pertencendo a todos os seus falantes por igual. Com a particularidade de ser do Brasil, por agora, que dependerá essencialmente a sua internacionalização e globalização, dado o seu peso e poder geopolítico, possuir caraterísticas de potência emergente a nível demográfico, territorial, económico, cultural, científico, tecnológico, de recursos naturais e humanos. Se o eurocentrismo a disseminou e globalizou pelos achamentos ou descobrimentos, hoje são seus atores e difusores principais os sucessores dos falantes de outrora.

Este contraste bipolar também é comum a outras línguas, ressalvadas as necessárias especificidades. Por exemplo, embora o inglês tenha mais falantes nativos europeus que o português, não é do seu poder eurocêntrico atual que lhe vem a aceitação de idioma global de comunicação internacional dominante, uma vez que, em termos europeus, tem menos falantes maternos que o russo, o alemão e o francês, menos que o alemão e francês na União Europeia, ainda menos que o alemão, francês, italiano, espanhol, polaco, neerlandês, português e grego na zona euro. É de um seu descendente, os Estados Unidos da América, superpotência número um a nível mundial, que lhe vem essa supremacia linguística, que permanecerá como autêntica língua franca na Europa, UE e zona euro, mesmo que o Reino Unido fique de fora da União, com a agravante de não integrar o euro. Na zona euro apenas a Irlanda tem como língua oficial a inglesa, aí menos falada que o português. A toda esta bipolaridade se associa também um dilema bipolar de língua hiperglobal no mundo, pequena na zona euro, e se bem que ainda grande na Europa e UE, cada vez menos o é por um mero nexo de causalidade com os seus falantes nativos, antes primordialmente por fatores exógenos. Se a Turquia, por exemplo, integrar futuramente a UE, a língua turca também suplantará a inglesa quanto a falantes nativos.

Mas se é verdade que o português se impõe factualmente em termos demográficos e geopolíticos, mesmo que bipolarmente, não se impõe ainda suficientemente via desenvolvimento económico e cultural desses falantes, provocando o aumento de falantes não nativos à medida que esse desenvolvimento for crescente, por maioria de razão se os dois processos (de expansão demográfica e desenvolvimento) se interligarem em crescendo e em proporção. O que não exclui a possibilidade de Portugal  dar conteúdo aos discursos de afirmação, valorização, promoção e difusão do português como desígnio nacional, tendo sempre presente ser um, entre vários, dos seus coproprietários. Contrabalançando, em termos europeus, a demografia adversa que há, de momento, no nosso país, promovendo no exterior o crescimento dos seus falantes ativos e não nativos, sem esquecer o critério que objetivamente hoje mais nos favorece: o do número global de falantes da língua. Tendo assente que todas as línguas são mutáveis (incluindo o inglês) e que o eurocentrismo já não é o que era.    

 

5 de agosto de 2016
Joaquim Miguel De Morgado Patrício

A Nau e os Dias (Páginas iniciais)

             

 

“Ahead of us the sky’s a geyser now.

A calm voice talks of cloud yet we feel lost.

 Air-pockets jolt our fears and down we go.

Travellers, at this point, can only trust.” 

 Seamus Heaney

 


Não, não sei a razão de aprisionar.

Não sei se é porque sobra ou

Mingua, ou porque se gasta

                                   

A substância. Nem sei atar-me.

Desloca-se comigo, quer eu vá

Ou fique,

Uma tribo de ideias

                                   

Cujo pão que lhe assiste

Tem a diferente temperatura

Das perguntas levedadas.     

 

E como não escorregar

pelas colinas?

 

Ou abusar da luz?     

 

 *****

 

                                     

É-nos dorido o rosário

Dos vazios, em altura

E em profundidade.

 

Mas, por vezes, estrear

Vazios é a única forma

De nos aproximarmos

 

De alguma coisa

                                          

 

 “Nadie conoce al hombre, nadie

puede sondarle en su corazón,

pero debemos creer en él y

esperar de él”

José Luis L. Aranguren 

 

Teresa Bracinha Vieira

(in "A NAU E OS DIAS ", ed. Dinalivro 1999)