LONDON LETTERS
Victoria (1837-1901), 2016
Aleluia é a melodia recorrente que acompanha as imagens, explorando a filigrana das emoções. Vemos a adolescente Drina no Palace of Kensington, ainda às voltas com a Doll 123 e o jogo de influências que marca o início da aprendizagem de reinar. São as vésperas da coroação da segunda geração de princesas
Saxe-Coburg-Saafeld no trono britânico, o qual corrige o uso do alemão na linguagem diária e rejeita a Salic Law que coíbe a linhagem feminina na sucessão da Deutsch Haus Hanover. A 28 June 1838, na Westminster Abbey, é coroada Alexandrina como Her Majesty The Queen Victoria. — Chérie! C'est trop d'un ennemi et pas assez de cent amis! A série da ITV arranca e logo conquista 5,4 milhões de espectadores. Visa a legião de fãs de Dowton Abbey. Projeta a estória filmada da grande rainha imperatriz. — Well! Historical accuracy is considered at every point. A batalha pela alma do Labour Party segue com fervor e… paso doble. Nas primárias da direita ao Élysée, Monsieur Nicolas Sarkozy quer renegociar a fronteira de Calais enquanto a república gere a novela mediterrânica dos burkinis. O Brazil ouve a defesa política da Senhora Dilma Roussef no processo senatorial de impedimento. Já na campanha norteamericana pontua RH Nigel P Farage MEP. O ukipper surge em comício de Mr Donald Trump como “Mr Brexit” e atrai a hostilidade de Mrs Hillary R Clinton a três meses do dia das eleições para o Oval Office. Proxima Centauri b é o novo e potencialmente habitável exoplaneta descoberto nas cercanias do sistema solar.
Sunny and warm days at Central London. As ruas em volta estão mais preenchidas que o habitual, com o Notting Hill Carnival a sitiar os residentes com paradas musicais, pina-coladas and that smell of barbecues in the air. Muitos divertem-se, mas outros nem tanto com a big street party numa área já inundada de milhentos turistas ocasionais. Da proximidade vem ainda o mega achamento astral do Professor Guillem Anglada-Escudé, da Queen Mary University, e do seu Pale Red Dot Team. Segundo o grupo da School of Physics and Astronomy, com base nos dados recolhidos no European Southern Observatory entre 2000 e 2014, Proxima b é “an Earth-like planet orbiting a red dwarf star at a range where conditions might be right for water, and maybe, just maybe, life.” A revelação agita a comunidade científica e contém as certezas do corpo celeste ter o tamanho terreal e estar a alcançáveis 4 anos-luz. Desse cruzamento quase mágico do conhecimento, da imaginação e da fé sai também o novo drama televisivo em torno de Victoria, a jovem rainha que se tornará Empress of India e Grandmother of Europe, dominando o prodigioso 19th British Century e legando as linhas políticas da modernidade global de que todos somos tributários.
A série de oito episódios abre em 1837, com veado imperial em twilight e a cavalo de mensageiro, sob o título de a monarchy in crisis. Filha de seu pai e neta de rei, o Prince Edward of Kent and Strathearn e King George III, Alexandrina cedo recusa assumir-se como Elizabeth II e luta contra as sombras de ensaiada regência. Ms Jenna Coleman é uma imperiosa Victoria… in the making, fixa sucessivos enredos. A um tempo circula na vida política, inicialmente marcada pela relação com o Viscount Melbourne. Mr Rufus Sewell é o friendly Whig Prime Minister, apoio seguro e alvo instrumental nas tentativas de enclaustrar a jovem rainha por ambiciosos inside and outside. A outro tempo roda nas intrigas da corte, upstairs and downstairs. Não por acaso avultam ainda hoje os Victorians no imaginário nacional. A unir os planos está a arte de governar que sempre V. avoluma nos 63 anos de reinado. Uma das linhas a fixar é que o cetro pode aconselhar, mesmo encorajar, mas lhe está vedado insistir em políticas públicas. No mais ‒ better the devil you know. A primiére foi este Sunday e a segunda parte passou há pouco nas telas. So, I say no much more. Em breve chegará Mr Tom Hughes como Prince Albert. O script de Mrs Daisy Goodwin baseia-se nos diários reais e serve à mestria da inicial direção por Mr Tom Vaughan, com co-produção executiva da Masterpice e Mammoth Screen. A música Aleluia da coroação seduz na dramaturgia, com piano de Mr Martin Phipps e coral das Mediaeval Beabes. Seguem o elenco e os locais de filmagem de fina gramagem, entre os refeitos Kensington Palace e a então House of Buckingham até ao verídico Harewood Estate em Yorkshire (Eng). À presente vaga novecentista não faltam até os rumores, agora sobre a estreita amizade da protagonista e do Prince Harry of Wales.
Se no écran se recriam as lutas políticas entre Whigs e Tories sob o entendimento de laço sagrado entre The Crown and The Parliament, na vida real decorrem dramáticos episódios no regresso às Houses of Parliament. A Brexit está no topo da agenda e os insatisfeitos Remainers reagrupam. Aproveitam a estrutura
e os apoios do Stronger In em refrescada campanha eurófila, ora sob nova designação. Dizem ao que vêm: "Open Britain will help tackle the many unanswered questions about our future relationship with the EU, whether over funding, trade, immigration, security, the environment or workers’ rights. We will also, we hope, play a part in the now necessary debate about how we make our economy fairer – arguably the most pressing issue after June 23rd.". No segredo dos deuses está o plano negocial do Number 10 para Brussells, mas a Prime Minister RH Theresa May emitiu ordens claras para o conjunto administrativo de Whitehall e sedeia já o quartel general dos Brexitters no… Number 9. Ainda sem rumo está a Her Majesty Most Loyal Opposition, entre comícios a abarrotar no aplauso a RH Jeremy Corbyn e a artilharia mediática no apoio a RH Owen Smith. A semana nada trouxe. O primeiro envolve-se em bizarra polémica com a companhia ferroviária Virgin e o segundo abunda em promessas eleitorais do tipo unicórnio. Não bastara este duo e eis que surge terceiro personagem em campo. Ocupado nas voltas do Strictly Come Dancing, o concurso da BBC 1 dedicado às danças de salão, o ex Shadow Chancellor Mr Ed Balls serializa as memórias no Times e descreve o programa corbynista em letra de jornal como “a leftist utopian fantasy”. Sobre as eleições de 2015, onde perde o lugar de MP por Morley and Outwood para os Tories, é também incisivo: "We [o Labour Party] weren't ready - and didn't deserve - to return to government."
O débil estado das oposições é o que é, pois a história esquecida obriga-se a recorrente repetição. O Labourism arrisca não apenas a divisão, como a própria extinção entre as desirmanadas fações. A memória cede, porém, ao bad blood. No século vitoriano também as transformações políticas abrem espaço a novas forças partidárias e apagam de Westminster os liberais Whigs, apesar dos seus veneráveis pergaminhos recuarem à Glorious Revolution de 1688. Das ideias recordo ainda o legado final da “Conscience Whig” para denotar a final marcha abolicionista contra a escravatura, mas hesito a futurizar o legado que restará dos atuais trabalhistas. — Well! Remember the works of Master Will on love and death in Romeo and Juliet: O true apothecary! / Thy drugs are quick. Thus with a kiss I die.
St James, 29th August 2016
Very sincerely yours,
V.