LONDON LETTERS
Sir Antony Jay, 1930- 2016
Um dos génios da sátira política de todos os tempos parte em dias de Brexiting. Sir Antony Jay CVO CBE é um dos co-criadores das séries Yes Minister e Yes Prime Minister, bem como de ensaios libertários do tipo Corporation Man e de apelações cívicas como How to Save the BBC.
Assiste à contemporânea reinvenção da retórica maquiaveliana. — Chérie! La barbe ne fait pas le philosophe. Tempos difíceis na frente interna, avisa a Prime Minister RH Theresa May na entrada em cena no palco do G20. China recebe a cimeira dos líderes mundiais em Hangzhou e estes acordam em maior partilha dos ganhos da globalização com os povos. Tokyo ensaia aqui peculiar manobra diplomática, em documento de 15 páginas intitulada “Japan’s Message to the United Kingdom and the European Union” e que basicamente visa condicionar os termos do eurodivórcio. — Well! When in doubt, leave it out. As imagens dos salvamentos e afogamentos de migrantes no Mediterranean Sea captadas pela Sky News são cruamente chocantes. Na Germany, o AfD supera a CDU da Kanzlerin Angela Merkel nas eleições do seu próprio estado de Mecklenburg-Vorpommern. França gere a pressão para demolir a Calais Jungle. No Brazil cai a Presidenta Dilma Roussef a mão senatorial e sem ida para eleições. Já na White House Race, Mr Donald J Trump estreita a distância nas sondagens após visita a Mexico City e Mrs Hillary R Clinton avança envolta nas redes de emails e dinheiros. Pope Francis santifica Mother Teresa of Calcutta no Vatican.
First Autumn clouds at Central London. Uma nova sessão parlamentar revivifica os negócios de estado em Westminster Square e até a House of Lords se rejuvenesce com um novo Lord Speaker. A Baroness D'Souza cede o posto eleito a The Rt Honourable Peter Norman Fowler, de 78 anos, logo assinalando que o Baron Fowler traz consigo a "wealth of experience" e replica o antigo ministro de Mrs Margaret Thatcher que o traquejo tanto ajudou à quebra do "female monopoly" no cargo como explicará o seu desempenho. Afinal, ele o diz: ―"What do you expect from a man?” Para animar a rentrée, igual pergunta anda Fleet Street, e não só, a formular em torno das relações privadas de um Labour Chair Committe dos Commons, cuja veterania não lhe salvará o lugar. Mas tal qual o membro do Her Maj Privy Council, à era de Lady T pertence também um seu grande admirador, e admirado, senhor da Britcom que agora parte para a eternidade aos 83 anos.
Sir Antony Jay é a asa direita dos clássicos Yes Minister e Yes Prime Minister. Com Mr Jonathan Lynn cria nos 80s o inesquecível trio RH Jim Hacker, Sir Humphrey Appleby e RH Bernard Woolley, respetivamente protagonizados nas séries da BBC por Mr Paul Eddington, Mr Nigel Hawthorne e Mr Derek Fowlds. Magistrais na caraterização e nas justas verbais que ventilam Whitehall, a todos o Minister/PM, o Permanent Secretary e ainda o Private Secretary ensinam – a começar pelos profissionais do voto e afins ― como opera a máquina administrativa e se defende o interesse público. Exemplos? Recorde-se RH Jim Hacker no episódio Equal Opportunities [YM] a enunciar os princípios do funcionalismo: “First one. It takes longer to do things quickly; Second. It is more expensive to do things cheaply; Third. It is more democratic to do things in secret.” Ou pondere-se a ragione dello stato presente na estratégia do Foreign Office para resposta a qualquer crise internacional, conforme definida em A Victory for Democracy [YPM]: “(1) Say that nothing is going to happen; (2) Say something maybe going to happen, but we should do nothing about it; (3) Say maybe we should do something about it, but there is nothing we can do; (4) Say maybe there was something we could have done, but it is too late now.” Sir Antony Jay deixa vivo legado. E os maiores e menores Hackers & Applebys em volta demonstram-no.
Mesmo a vida política convida à rememoração. Em tempos de Brexiting, como fugir à declaração de Sir Humphrey em The Writing on the Wall: “Well, Minister, I’m afraid that this is the penalty we have to pay for trying to pretend that we are Europeans. Believe me, I fully understand your hostility to Europe.” Divisões entre Outers e Inners? Explica o RH Minister: “Humphrey, I’m not like you. I am pro-Europe. I’m just anti-Brussels. You seem to be anti-Europe and pro-Brussels.” As true as ever. Ontem como hoje, cada evento político é manusueável segundo 5 elásticos eixos. A saber, no brilhantismo da mente criadora: (1) o que acontece; (2) o que o político crê que sucede; (3) o que ele/a deseja que ocorra; (4) o que aspira que os outros acreditem ter sucedido; e (5) o que quer que os outros acreditem que sobrevém. A dupla cruza o humor com finíssima inteligência, aguçada no caso de Sir Antony por paixão pela história e observação da Westminster desde os Fifties treinada. Nascido na London de 1930 e filho de atores remediados, distingue-se ao ganhar uma bolsa de estudo para St Paul's que o endereça ao Magdalene College de Cambridge.
Os Classics licenciam-no nos intervalos do bridge. Serve como 2nd Lieutenant nos Royal Signals já no calmo pós-guerra. Entra para a BBC em 1955. Trabalha na atualidade e nos documentários, lá editando o Tonight. É um dos primeiros produtores da Queen's Christmas Message. Colabora com Mr David Frost em The Frost Report (o das Nixon Interviews) e arvora a Video Arts com Mr John Cleese. É o Phython quem o apresenta a Mr Lynn. Casa em 1957 com Jill Watkins, gerando Mike, Roni, Kate e David. Sai da TV em 1964 para carreira de produtor independente. Após o sucesso, refugia-se em Somerset e publica sucessivos livros entre artigos e pontual comentário. Em 1988 recebe a KBE - Knight Bachelor. Sempre desenvolve ação cívica e critica assertiva de Thatcherite contra as burocracias. Nos dias do fim, all the time very quietly, diverte ainda com Mr Lynn em short & sharp script sobre o Brexit. Aqui auxilia Sir Humphrey Appleby no inicial contato simplificador face a novel Outer Cabinet Minister enrolado no… what the Brexit means? ― Farewell. And, Yes Sir Antony.
Se em Management and Machiavelli interroga Sir Jay “if States can practice realpolitik and profit by it, why not corporations?, na Chamber da House of Commons é o viceversa. Cabe hoje mesmo ao SoSExEU RH David Davis explicar o conteúdo do May Govt dictum “Brexit means Brexit” So, shall we get down to business? O Secretary of State for Exiting the European Union está duas longas horas na Dispatch Box. “Naturally, people want to know what Brexit will mean,” declara no momento há dois meses esperado. “Simply, it means the UK leaving the European Union.” Woaw! DD regista o não a segundo euroreferendo e a manobras ínvias para relação com Brussels. Os MPs aguardam detalhes. RH Jim Hacker, sorry, David Davis continua o statement. Finalmente ancora a negociação do Brexit em quatro firmes princípios, a fim de o reino obter “the best deal”: (1) “a national consensus around the government’s position, (2) acting in good faith towards EU partners, (3) minimising any uncertainty, and (4) ensuring that the process resulted in Britain leaving the European Union and the sovereignty and supremacy of this Parliament being put beyond any doubt.” Com a Premier em altos contatos, dos presidentes Obama, Putin e Xi Jinping ao primeiro ministro australiano Malcolm Turnbull, sob a mensagem de Britain open for business, dos green backbenchers soa clara reação à estratégia do Number 10: “Waffles.”
Joly interesting days, pois, na volta outonal às Houses of Parliament. Ontem o Thames revive por momentos a recriação ao vivo do Great Fire of 1666. Precisa escultura da Old London arde até às cinzas da criatividade. Em Leicester Square antes se estende comum mas inovada pink carpet. O fenómeno Bridget J está de volta, desta feita sob a fórmula Bridget Jones’ Baby, decerto para irritação de um certo feminismo que há 20 anos se encoleriza com a popularidade de personagem em busca de... Mr Darcy. A promessa do novo filme é recuperar as originais gargalhadas geradas pela pena de Mrs Helen Fielding, em 1996, com BJ’s Diary e, em 1999, com a sequela BJ: The Edge of Reason. O primeiro trabalho ganha até o 1998 British Book of the Year. Em breve, with a baby on board, saberemos o que resta da clássica inspiração de Pride and Prejudice (pela insuperada Ms Jane Austen, em 1813) e ainda do moderno par romântico protagonizado por Mrs Renée Zellweger e Mr Colin Firth. — Well! Remember the cry of the Roman triumvir by Master Will in Antony And Cleopatra: Let Rome in Tiber melt, and the wide arch / Of the rang'd empire fall! Here is my space, / Kingdoms are clay; our dungy earth alike / Feeds beast as man...
St James, 5th September 2016
Very sincerely yours,
V.