LONDON LETTERS
The Great Meritocracy, 1916-2016
Quem ouve, vê, cheira, prova e sente o Royal Albert Hall durante a Last Night of the Proms sabe da música, das bandeiras e da emoção. Ali e à volta do reino gera-se uma atmosfera eletrizante, única, sobretudo quando as plurais vozes entoam Jerusalem ou God Save The Queen. — Chérie!
Il est bon d'avoir des amis partout. Este momento patriótico é agora alvo de uma tentativa de sequestro europeu. Paredes meias, na British Academy, a Prime Minister RH Theresa May expõe a sua visão de “a true meritocracy in Britain.” — Well! Land of Hope and Glory, Mother of the Free. RH David Cameron demite-se da House of Commons. Além Channel, o terrorismo e as migrações pautam as primárias da direita nas presidenciais francesas. A duas semanas dos debates na White House Race, Mrs Hillary R Clinton sofre um episódio médico que a força ao cancelamento da campanha na California e no Texas; o rival Donald J. Trump silencia-se por momentos. Após os tanques turcos avançarem na Syria, os USA e a Russia unem esforços no combate aéreo ao Isis. No terreno ensaiam-se novas tréguas humanitárias durante o Eid Al Adha. O globo censura em uníssono a nuclearização da North Korea. O GB Team regressa ao ouro nos 2016 Paralympics do Rio de Janeiro. Há 15 anos é o 9/11 que muda o mundo do Post-Cold War.
Still heat and humidity at Great London. O dia está aqui marcado pela demissão de RH David Cameron como Tory MP por Witney (Oxfordshire). O ex PM abandona a vida política com legado positivo, da economia à primeira maioria conservadora em 20 anos, mas preso ao euroreferendo. Acaba a abandonar o exemplo de um inderrotável Sir Winston Churchill como Commons Man. Conclui-se que o Summertime não auxilia à acalmia das mentes agitadas pelo voto de 23rd June. Se a esquerda ata a derrota ao relutante Comrade Jezza Corbyn e à direita permanecem latentes as paliçadas entre os hard & soft Brexitters, no espaço mediático chove o desconforto dos Remainers. A clivagem fora da Westminster é amiúde simples de decifrar: follow the money. Os segmentos financiados pelos programas da European Union fruem as oportunidades para marchar sobre Parliament Square com cartazes do “I Love EU.” Ora, a mais recente manifestação desconcerta. Um grupo de jovens músicos intenta fazer da Last Night of The Proms palco para “2,500 flags” azuis estreladas – aquelas mesmas que, quiçá por ironia, mal se viram durante a longa campanha referendária. A iniciativa acaba esbatida, face às bandeiras da Union Jack e das demais nações dos Prommers. Segundo a Press, a iniciativa recolhe £1,175 com 60 pessoas e outros tantos donativos para a causa bandeiral. Porém, aquém do potencial explosivo, a reação é comum: How dare you? O God Save The Queen é uno, soberano e inegociável, como os republicanos sabem. Para menos, logo quando passam os 100 anos de Jerusalem e da Fight for Right. Em 1916, com a Royal Choral Society e o join in como lema, pela primeira vez ouve o Hall o hino paraoficial e inicia-se a corrente miltoneana: “And did those feet in ancient time.”
Este sentimento, que é uma paixão melódica e é um laço político nas ilhas, tem fundas raízes. Muitas vezes se debate o que é Britain; encontro resposta ali, no monumental espaço idealizado por um infante alemão que a política interna ao tempo cataloga como Der King mas só obtém reconhecimento, por prerrogativa real, como Albert, Prince Consort. Dos versos proféticos de um Mr William Blake ou Prof A. C. Benson às notas de Sir Edward Elgar e Sir Hubert Parry, é toda uma visão da terra prometida, anualmente celebrada pelos concertos estivais na sala inaugurada em 1871 pela Queen Victoria. O RAH quer-se a salvo das divisive politics. Tem missão universal, pergaminhos e defensores. É o coração de Albertopolis, que o Saxe-Coburg and Gotha idealiza nos 1850s como bairro cultural em South Kensington, para acolher a Great Exhibition (1851), o Victoria & Albert Museum (1852) e o Science Museum (1857). Abre em 1867 como Central Hall of Arts and Sciences, para, uma década depois, pro memoria, Victoria o rebatizar como Prince Albert Hall. É o herdeiro do Queen’s Hall, destruído em 10 May 1941 durante o London Blitz. Nesta sala ocorre a primeiríssima First Night of The Proms, a 10 August 1895, que o recinto congénere retoma na II World War e apresenta em já 75 anos de concertos. Carimba o calendário. O conceito das Proms populariza-o: permitir que a audiência passeie enquanto ouve música, noite após noite de veraneio, com programa clássico, em espaço com qualidade acústica e bilhete a todos acessível. Se serve de farol aos pilotos na Battle of Britain, 63 dias após a bomba nazi sobre Langham Place, um apinhado Royal Albert Hall escuta “the first ever Last Night of the Proms.” A 23 August 1941 canta-se Land of Hope and Glory, Mother of The Free.
A história elucida das sensibidades, tal qual a política expressa as afinidades eletivas. A PM acaba de surpreender quantos a pensaram como uma circunspeta tecnocrata sem ideologia. A senhora quer ser, com estilo e substância de Thatcher 2.0, a champion for the working people. Assim: Alinhando a máquina de Whitehall com a estratégia para o Post-EU UK, Mrs May avança com radical reforma no ensino. Um só princípio ancora a mudança: a aposta na seleção académica, com regresso às Grammar Schools (banidas pelo PM Tony Blair, em 1998, porque desigualitárias) e liberdade para as Faith Schools (com obstáculos vários, por temor de segregação). Donde, quando a Brexit is starting to bite e tocando em massa de interesses A sideshow? Ou um projeto de futuro? A retórica é forte: “When I stood in Downing Street as Prime Minister for the first time (…), I set out my mission to build a country that works for everyone. Today I want to talk a little more about what that means and lay out my vision for a truly meritocratic Britain that puts the interests of ordinary, working class people first. We are facing a moment of great change as a nation. As we leave the European Union, we must define an ambitious new role for ourselves in the world. That involves asking ourselves what kind of country we want to be: a confident, global trading nation that continues to play its full part on the world stage. (…) Let’s build a truly dynamic school system where schools and institutions learn from one another, support one another and help one another. Let’s offer a diverse range of good schools that ensure the individual talents and abilities of every child are catered for.” O futuro mostrará se temos May ou… May be?
Downing Str continua em roda vivísima. A Premier recebe o European Council President no Ten. É a primeira reunião formal “to discuss preparations for the UK’s withdrawal from the European Union.” Na ementa do friendly breakfast constam ainda os planos para o October EU Summit e as posições face à crise migratória no contexto do acordo Brussels/Ankara a par da ratificação do Paris Climate Change Agreement. Em termos da Brexit, que é o que pesa na agenda, se Mrs May quer que o processo decorra “as smooth as possible”, já Mr Donald Tusk assinala que terá de accionar o Article 50 “as soon as possible.” Até lá, reitera o polaco, não haverá negociações. Como sempre, the proof will be in the pudin. Mas as atenções centram-se no PM Office por outras razões e não obstante a prodigalidade que vai pelas oposições. Passa sem furor em Westminster a afetação de £1.9m para a fortificação de Calais, algo como a 13ft-high & 0.6-mile-long wall, num esforço conjunto de London e Paris para suster os migrantes que tentam a entrada no reino. A cada qual, porém, as suas prioridades. Enquanto se aguarda a provável vitória de RH Jeremy Corbyn no Labour Party, os Greens substituem Mrs Natalie Bennett na liderança pelo duo RH Caroline Lucas MP e Mr Jonathan Bartley (o GP Work and Pensions Spokesman). No meio da colorida agitação esquerdista e da trepidação crescente no Brexiting, durante os seus doces 60 dias de governação, Mrs T May reorienta a bússola ideológica dos Tories. Nove em cada 10 militantes declara hoje que ruma para a new conservative majority. O estilo e as medidas agradam, segundo as sondagens, rompendo as linhas partidárias e atraindo mesmo os outrora desencantados. A Baroness Emma Nicholson, que em 1995 passa para os Lib Dems de RH Paddy Ashdown, está de regresso a casa. No mais da bancada azul, nota para o Foreign Secretary. RH Boris Johnson declara o seu público apoio a um grupo de pressão que prolonga a vida aos Brexittism. Chama-se Change Britain, visa “to demand measures such as pulling the UK out of the single market” e agrupa personalidades como a Lab MP Gisela Stuart, o antigo Chancellor RH Nigel Lawson (do Thatcher Government) e ainda Mr Steve Hilton (assessor político no Cameron Govt).
A veia reformista permeia outras áreas. O novo Oxford Dictionary apresenta 1,000 new words. Confirmando a abertura académica dos filólogos nativos, open – we may say – to a lot of made-up expressions, surgem vocábulos como slacktivism, yolo, squee e gender-fluid; i.é o ativismo digital, o acrónimo de you only leave once, o novo grito para great ou wow, e ainda a designação para a fluidez dos géneros que anda em circulação.
A minha nova favorita tem som atlântico e é fuhgeddaboudit. Traduzindo: Forget about it. A tradição que ilumina a Glorious Revolution gera coisas destas. A medalha de tolerância vai aqui, porém, por mérito na line of duty, para Mr David Thompson, não obstante a acesa concorrência dos nove jovens que, durante várias horas, bloqueiam o Heathrow Aiport em manifestação do Black Lives Matter. Brancos de pele, por sinal, protestam contra as emissões aéreas que “disproportionately affect black people.” Haverá melhor!? Sabeis que a polícia gaulesa vigia as praias do Mediterrean em busca de senhoras usando burkas. Nas West Midlands (Eng) antes quer o Chief Constable colocar as polícias a vestir a islâmica vestimenta. Afinal, explica o oficial, se o uniforme permite aos Sikh usar os turbans, aos Muslim os kufis e aos Jewish os yarmulke e kippah, porque não permitir às female Muslim officers & staff envergar hijabs? Que só revelem os olhos e tapem o demais corpo não embargue recrutamento ou ação. — Well! Think about the sea of inkhorn terms by an indulgent Master Will in Love's Labor's Lost: — Chirrah! / — Quare chirrah, not sirrah? / — Men of peace, well encount'red. / — Most military sir, salutation. / — They have been at a great feast of languages, / and stol'n the scraps. / — O, they have liv'd long on the alms-basket of words.
St James, 12th September 2016
Very sincerely yours,
V.