LONDON LETTERS
This is Sportmanship, 2016
O momento é incrível e revela a sublime classe olímpica dos Brownlee Brothers. A descrição fica aquém da cena a todos ofertada pelos campeões do Rio. É o fim da 2016 Triathlon World Series no Mexico. Jonny
lidera a corrida, seguido pelo old brother e um atleta sul africano. A escassos metros da meta o passo cambaleia-lhe com a desidratação. Os assistentes acodem a quem desfalece. Alastair ampara já o irmão, passa-lhe o braço por cima da cabeça, fala-lhe e ajuda-o a passar a linha final. Perde o ouro, mas ganha grata admiração de uma nação face ao spirit of The Team GB. — Chérie! Qui se ressemble s'assemble. A Prime Minister RH Theresa May está em New York para defesa do controlo das fronteiras no UN Summit for Refugees and Migrants. Um relatório do Foreign Affairs Committee censura fortemente RH David Cameron na House of Commons, pela guerra na Syria. — Well! A good deed is not without reward. A CDU de Frau Angela Merkel sofre nova derrota face à Alternative für Deutschland (AfD), agora na urbana Berlin, adensando as nuvens para as eleições federais de September 2017. Monsieur Alain Juppé marca nas primárias gaulesas da direita, com propostas integracionistas sobre o “Islam français.” Na White House Race, Mrs Hillary R Clinton e Mr Donald J Trump divergem entre a vigilância e a securização enquanto a atmosfera do terrorismo regressa a West Side e Manhattan na NYC. GB arrecada 147 medalhas, 64 em ouro, nos 2016 Rio Paralympics. Bavaria acolhe a Oktoberfest. A Countess of Wessex inicia uma corrida filantrópica de 445 milhas em bicicleta, entre os palácios de Holyrood e Buckingham, para recolha de fundos nos Duke of Edinburgh's Awards.
Mild temperature and a few showers within the thrive of Autumn colours at London. A cidade acorda com Parliament Square enlaçando a tragédia dos boat peoples no Mediterraneon Sea, com refugiados a clamarem por “urgente action” no meio de estridentes 2,500 salvavidas e cascata de negras estatísticas continentais. A United Nations estima que diariamente morreram 11 crianças, mulheres e homens a atravessar Europe em 2015. Seis anos após o deflagrar da guerra na Syria, com as fronteiras a erguerem muros e a passarem responsabilidades, a General Assembly suscita novas esperanças quanto a articulada resposta global capaz de melhor gerir a tormenta migratória. No weekend milhares de pessoas marcham por aqui em colorida manifestação de apoio. Ao ver e ouvir os cartazes, cânticos e outros sinais, sobretudo antiracistas, penso que a solução continuará distante enquanto despudoradamente se tentam ganhos alheios à questão, ao invés de avançar com uma abordagem pragmática, organizada, ancorada em estrita perspetiva humanitária ― full stop. No mais, como assinala a teoria walzeriana da justiça, "the good fences make the just societies". Os migrantes equivalem à população nestas ilhas. O voluntarismo de uns, a indiferença de muitos e o egoísmo de outros é que não vem ajudando quantos buscam melhor vida e para isso a arriscam. À partida para New York, Downing St deixa escapar tópicos do discurso primoministerial na UN. Mrs May apresentará “a three-point strategy to tackle the migrant crisis” com compassionate alert do sentido do tráfego: “the problem must be addressed to ensure public confidence in the economic benefits of legal and controlled migration."
No plano doméstico também o movimento ganha a cadência gravitacional da natureza das coisas. As oposições continuam a arrumar a casa em vésperas da outonal série de conferências partidárias. A disputa das lideranças apresenta os primeiros resultados. RH Diane James MEP conquista a chefia do (alegadamente misógino) Ukip. RH Nigel Farage cede o leme; e consigo desce o apelo populista aos blue collar do North e aos social conservatives do South. O desafio dos soberanistas é agora diluir a presente perceção de que terão esgotado o futuro com a vitória no euroreferendo, indo além do tradicional papel de guardiões de uma hard Brexit e assumirem-se como força eleitoral capaz de finalmente franquear a entrada em Westminster. O terreno está aberto, aliás, quer pelo colapso de LibDems e de Labourites, quer ainda pelas divisões latentes no new regime dos Tories. Ora, se os Liberal Democrats sob RH Tim Farron pegam sozinhos na bandeira azul da EU e podem capitalizar no voto eurófilo à esquerda e à direita, desde que credíveis, há que esperar pelo próximo Saturday para confirmar a vitória vermelha do RH Jeremy Corbyn no Labour Party. Será o desfecho de três meses de azeda batalha campal entre moderados, agnósticos e esquerdistas. As feridas são mais que muitas. Até a alusão ao imperativo de unir o partido suscita controvérsia, pelo hate against the Blairites. O honorável Comrade Jez quer entregar mais poder aos militantes. Segundo ele, democratiza a decisão; segundo os rebeldes, esvazia o Parliamentary Lab Party.
Já o Institut Montaigne debate "Great Britain, Europe and the world after Brexit" em Paris (Fr). Durante uma animada sessão presidida por Madame Dominique Moïsi, com a participação nativa de Mr Robin Niblett, director da Chatham House, e Mr Nick Butler, professor no King’s College, afloram contrastadas perspetivas sobre o futuro nas relações internacionais. Resultam quatro interessantes cenários em encontro onde também pontua o Churchillian dream em torno do concerto no velho continente: "(1) The UK will pursue its development on its own, while the EU will do the same on its side; (2) Brexit will in reality never come about because of its complexity and because of the administrative burden; (3) The EU will adopt radical changes by breaking austerity, by becoming more independent from the German leadership, and by renouncing to the membership; and, (4) The EU will change by integrating to the core with a truly efficient common parliament, a common defence policy and a more protectionist economic policy." Dos riscos comummente identificados está o efeito de potencial erosão na(s) parceria(s) transatlântica(s).
Que o oceano não está para marujos de água doce, é fácil observar. O ano de 2016 e a Brexiting inauguram uma sísmica mudança na paisagem política ocidental. Pesemos só os eventos maiores na agenda do triénio. Além das presidenciais nos USA e da incerteza quanto a quem será o próximo residente no Oval Office, haverá eleições gerais em France e em Germany a par do referendo constitucional italiano. Qualquer um dos unknows neste quadrilátero tende a trazer diferentes políticos e/ou políticas, para mais quanto as
vagas populares se inquietam nas equações nacionais. Se a geografia de cada qual é inescapável no mapa dos interesses, preocupante é a impreparação de desatentas casas das máquinas governamentais para gerir estrategicamente as oportunidades e os desafios que se esboçam no horizonte. Quem siga o debate pelos media ocidentais espantar-se-á até com a insustentável leveza do business as usual com que o Bratislava Summit aborda a nova situação na European Union. — Well! Remember Master Will and how the noble Mark Antony provides for the ambition, honour and friendship in Julius Caesar: — Friends, Romans, countrymen, lend me your ears: I come to bury Caesar, not to praise him.
St James, 19th September 2016
Very sincerely yours,
V.
PS: Parabéns a Dame Maggie Smith (Downton Abbey) e Mrs Susanne Bier (The Night Manager) pelos triunfos nos 2016 Emmys, em nova noite de Game of Thrones.