A FORÇA DO ATO CRIADOR
Acerca das Pontes do Porto – D. Maria Pia, D. Luís e Arrábida.
Só no início do séc. XIX (em 1806) foi construída a primeira ponte que liga a cidade do Porto a Vila Nova de Gaia e que atravessa o rio Douro. Era constituída por 20 barcas ligadas por cabos de aço e por isso designada por Ponte das Barcas. O aumento do tráfego e a grande actividade comercial que caracterizava o Porto, fez com que a Ponte das Barcas fosse substituída pela Ponte Pênsil, em 1843, a primeira ponte metálica construída em território português.
Em Portugal, a revolução industrial arrancou mais tarde do que em outros países da Europa (como em Inglaterra e na Alemanha). Mas entre as décadas de 1850 e 1880, Fontes Pereira de Melo propôs-se a criar riqueza para consolidar o regime constitucional e a transformar o país de modo a integrá-lo numa Europa que passava por uma época de grande prosperidade. Com a abertura de estradas e ao introduzir o caminho-de-ferro, Fontes Pereira de Melo permitiu a ligação entre povoações num país cujo principal meio de locomoção ainda era a mula. O primeiro troço de via-férrea em Portugal foi inaugurado em 1856 e ligava Lisboa ao Carregado. Nas décadas seguintes o Estado promoveu, em associação com empresas privadas, a expansão de uma considerável rede de transportes – só entre 1856 e 1890 foram lançados 1689 Km de linha férrea. Na década de 1880, empreendimentos grandiosos como a ponte ferroviária D. Maria Pia e ponte rodoviária D. Luís I representavam um esforço acrescido e importante por parte do Estado na promoção de uma certa ideia de prosperidade. Ao promover melhoramentos materiais, fazer circular com mais facilidade bens, capitais e pessoas e ligando Portugal com o resto da Europa (a construção da linha de caminho de ferro permitiu que Paris ficasse de Lisboa somente a dois dias de distância) aspirava-se a aumentar a matéria colectável e assim habilitar os poderes públicos a poder acorrer às despesas necessárias.
De facto, a utilização do ferro fundido, muito divulgado na Era Industrial aquando da expansão das linhas de caminho-de-ferro, trouxe aos projetistas a possibilidade de construir pontes com soluções inovadoras no que diz respeito à geografia do terreno e a sua vasta aplicação (em estações, mercados, salas de espectáculo, armazéns, elevadores, garagens, quiosques, lavadouros, fábricas, etc.) deveu-se à facilidade do seu manejamento, à rapidez da sua montagem e à economia de meios. Sendo assim a Ponte D. Maria Pia (1876-77),da autoria de Théophile Seyrig, na altura colaborador da empresa do engenheiro francês Gustave Eiffel (que se instalou em Barcelos entre 1875 e 1877, para poder seguir o curso das obras da ponte de mais de perto), apresenta um modelo pioneiro de uma ponte construída em tempo recorde, em ferro fundido com um grande vão. Esta ponte somente ferroviária era na altura da sua construção, a que apresentava o maior vão da Europa. Foi também a primeira ponte ferroviária a atravessar o rio Douro e a ligar as Fontaínhas a Vila Nova de Gaia. É constituída por um arco biarticulado que, através de pilares em treliça, suporta o tabuleiro ferroviário. A ponte foi inaugurada em 4 de Novembro de 1877 e contou com a presença do casal real D. Luís I e D. Maria Pia. Após 114 anos de funcionamento, a Ponte D. Maria Pia foi desactivada. Era dotada de uma só linha e só uma composição com uma carga limitada podia passar de cada vez, a uma velocidade máxima de 20 Km/h. E assim em 1991, a Ponte de S. João foi construída para passar a servir a Linha do Norte.
Na segunda metade do séc. XIX o comércio progredia no Porto, o tráfego para Gaia e para Lisboa aumentava e por isso a necessidade de uma ligação rodoviária ainda mais eficaz, levou ao desmantelamento da Ponte Pênsil para no mesmo local se construir a Ponte D. Luís I, inaugurada em 1886. A Ponte D. Luís I é uma ponte rodoviária e é a ponte mais antiga do Porto ainda em funcionamento. Tornou-se um dos símbolos da cidade pela sua estruturação em dois tabuleiros metálicos (um inferior e outro superior), sustentados por um grande arco de ferro e cinco pilares. Os dois tabuleiros, originalmente serviam como ligação rodoviária entre as zonas baixa e alta de Vila Nova de Gaia e do Porto. Durante décadas a ponte ligou o norte e o sul do país. O projecto da Ponte D. Luís foi também executado pelo engenheiro belga Théophile Seyrig. Em 1879, fora aberto um concurso para a construção de uma ponte metálica que substituísse a Ponte Pênsil. Diversas propostas e concorrentes apresentaram-se a concurso e o projecto da empresa de Gustave Eiffel foi rejeitado porque só contemplava um tabuleiro ao nível da Ribeira. Foi assim vencedora a proposta da empresa belga Société de Willebroeck, com o então projecto do engenheiro Théophile Seyrig, autor da concepção e chefe da equipa de projecto da Ponte D. Maria Pia. Em 1881, inicia-se a construção da Ponte D. Luís I e à inauguração do tabuleiro superior, em 1886 sucedeu a abertura do tabuleiro inferior em 1888. Nos dias de hoje, o tabuleiro superior serve uma das linhas do metro do Porto e o tabuleiro inferior serve ainda para peões e veículos automóveis.
Por sua vez, a Ponte da Arrábida, da autoria do engenheiro Edgar Cardoso, foi a segunda ponte rodoviária a ser construída sobre o Douro, e que liga também o Porto a Vila Nova de Gaia. Inaugurada em 1963 veio dar resposta a um aumento significativo do fluxo de circulação rodoviária na ponte D. Luís I, sobretudo causado pelo acentuado crescimento demográfico que se registava na área metropolitana do Porto. A necessidade de uma travessia alternativa tomou forma por iniciativa da Junta Autónoma das Estradas, que em 1952, adjudicou a elaboração de um anteprojecto, para uma ponte entre a zona da Arrábida e o nó do Candal, ao engenheiro Edgar Cardoso. O projecto foi aprovado em 1955 e a sua construção iniciou-se em 1957. Aquando da sua inauguração, em 1963, a ponte registava o maior arco construído em betão armado do mundo. O arco sustenta uma plataforma com um comprimento total de 615m, apresenta um vão de 270m e 52m de flecha e é constituído por duas costelas ocas paralelas de 8m de largura, ligadas entre si por contraventamentos longitudinal e transversal. Originalmente, apresentava duas faixas de rodagem e duas faixas laterais para peões e ciclistas. A ponte dispõe de quatro elevadores para peões, para permitir a travessia pedonal entre as duas margens. Nas torres dos elevadores podem observar-se quatro esculturas ornamentais da autoria de Barata Feyo e de Gustavo Bastos. A ponte faz parte da auto-estrada que faz a ligação entre o norte e sul de Portugal.
Ana Ruepp