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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

O Homem Unidimensional e as tendências do modernismo.

 

‘Free election of masters does not abolish the masters or the slaves.’
Herbert Marcuse

 

Em ‘Tudo o que é sólido se dissolve no ar’, de Marshall Berman, lê-se que no final dos anos sessenta do séc. XX, 'O Homem Unidimensional' de Herbert Marcuse (1898-1979) estabeleceu um novo paradigma em que as massas não têm ego, nem identidade, porque as suas almas carecem de tensão interior e dinamismo. Marcuse acreditava que as suas ideias, as suas necessidades, até os dramas 'não são delas mesmas'; as suas vidas interiores são inteiramente administradas, programadas para produzir exatamente os desejos que o sistema social pode satisfazer, nada mais. E Marcuse afirmava que o povo prefere reconhecer-se no seu conforto e encontra a sua alma nos seus automóveis, nos seus aparelhos eletrónicos, nas suas casas e nas suas cozinhas equipadas. E para Marcuse, a modernidade, é assim somente constituída pelas suas máquinas, e por isso os homens e mulheres modernos não passam de reproduções mecânicas.

 

‘The so-called consumer society and the politics of corporate capitalism have created a second nature of man which ties him libidinally and aggressively to the commodity form. The need for possessing, consuming, handling and constantly renewing the gadgets, devices, instruments, engines, offered to and imposed upon the people, for using these wares even at the danger of one’s own destruction, has become a “biological” need.’
Herbert Marcuse


Ora, as lutas sociais dos anos sessenta ansiavam por mudanças radicais, que pudessem tornar o povo de novo capaz de controlar as suas vidas - Marcuse sugeria que o sistema democrático em que vivemos é na verdade um sistema autoritário, porque é, um número reduzido de indivíduos, que dita a nossa perceção de liberdade, ao conceder-nos a possibilidade de escolha na 'compra para a felicidade'.

 

The truth of art lies in its power to break the monopoly of established reality to define what is real.
Herbert Marcuse

 

E assim Berman declara que, no campo da arte, a atmosfera volátil, dos anos sessenta, gerou um amplo e vital pensamento sobre o sentido do modernismo, que passou a dividir-se em três tendências, a partir de então:

 

Ausente: ao retirar-se o modernismo das impurezas e das vulgaridades da vida moderna, gerou-se uma arte-objeto pura e auto referencial, uma arte desprovida de sentimentos pessoais e de relações sociais.

 

Negativo: concretiza-se na procura pela destruição violenta de todos os valores e pela afirmação do modernismo como revolução interminável e apenas como subversão. Em alguns círculos a palavra ‘modernismo’ tornou-se código para todas as forças rebeldes que se nutriam da verdadeira perturbação das ruas modernas, transformando os seus ruídos e dissonâncias em beleza e verdade. E por isso, alguns artistas procuram por uma vanguarda no substrato dos proscritos e marginais, os explorados e perseguidos por outras raças e outras cores, os desempregados e os incapazes de conseguir um emprego. Porém, este modernismo implica um modelo ideal de sociedade, isenta de desigualdades e de contradições – é um modernismo que se pudesse ser expulso do mundo moderno permitiria a reordenação do espaço, do tempo e do cosmos.

 

Afirmativo: este ideal estabelece-se no abrir-se o homem à imensa variedade, complexidade e riquezas materiais e ideais que o mundo moderno inesgotavelmente oferece. Isto, porque, o modernismo da forma pura ou o modernismo da pura revolta está condenado. O modernismo afirmativo coincide com o aparecimento da arte pop e recriou uma espécie de abertura ao mundo, mas também ao passado e à história.

 

 

Ana Ruepp