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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

"Possibilidade expectável"

 

Ao ler um texto recentemente, registei que era citado Paulo Freire:

«Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo» e Steiner sublinha “e pobres dos que se educam entre si sem se melhorarem”.
 

Registe-se que este ano os laureados para o Prémio Nobel da Física foram os que escolheram o tema, a transição da matéria para estados exóticos, ou seja, estados que não seriam expectáveis de encontrar na natureza. Do nada que sei deste mundo da Física, tem sido ele, contudo, sempre uma semente irrequieta que me lança na busca.
 

E então qual é o quarto estado da matéria? Perguntamos:
 

O quarto estado natural da matéria é o plasma (um gás que em vez de um comportamento neutro tem cargas positivas e negativas e propriedades distintas dos outros estados da matéria).

Aprendemos, desde o ensino básico, que a matéria pode aparecer em três estados – gasoso, líquido e sólido – e que estes estados podem mudar de um para o outro consoante as condições do ambiente, como temperatura e pressão. Pensemos no vapor de água, na água líquida ou no gelo, que são todos estados da matéria (água) e que facilmente podemos fazer variar recorrendo apenas a alterações da temperatura. São três estados que podem existir na natureza – pelo menos, na Terra – e em três dimensões.

Mas as descobertas destes cientistas foram muito além disto, entraram no campo das transições da matéria que não acontecem naturalmente na natureza.

Ora para conseguirem chegar a estes resultados, estes laureados recorreram a conceitos de topologia, uma área da Matemática que descreve as propriedades que apenas mudam passo a passo.

Basicamente podemos dizer que a Física é um termo que significa “natureza”, e que é a ciência que estuda as leis que regem os fenomenos naturais e que alguns dos físicos mais conhecidos da História são Galileu Galiei, Isaac Newton e Albert Einstein. Então, como não atentar no primeiro parágrafo:
 

Dizia Paulo Freire: «Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo» e Steiner acrescenta “e pobres dos que se educam entre si sem se melhorarem”. Como se não questiona a ignorância que obsta a qualquer surpresa à nossa felicidade profunda e que é tão distante da transição da matéria para estados exóticos, estados que não seriam expectáveis de encontrar na natureza, tal como o amor na sua capacidade de ser superior ao vulgar.
 

Sabem os sentires que o silêncio é um privilégio da leitura que afugenta o nível de ruído das sociedade de hoje. A eclosão da barbárie expõe a parafernália tecnológica com que os investigadores têm de lutar para que a leitura silenciosa seja uma idade de ouro. Os poetas das palavras-estrelas expõem as auroras boreais nas alexandrias que permitem o trânsito aos pensamentos para estados exóticos, enquanto a Astrofísica também explica o campo gravitacional dos Buracos Negros, sendo que nada sai dessa região, nem a própria luz se consegue evadir. E no entanto os seres continuam a comportar-se de maneira conveniente, diria mesmo que a sua única indiscrição é a da capacidade para se manterem decisivamente iguais, ou nulos na mestria do nada.
 

A nossa época é parca nas promessas de um sentido que envolvam o seu cumprimento. A propensão do homem para a mentira e para uma alternância sem perguntas, constitui o inimigo de tudo. A Física é uma linguagem fundamental para comunicar significações, e muito grande é o meu desejo que ela assim me aceite pelos ângulos possíveis com que a espreito. Sinto-a também como uma mãe no deserto que nos acompanha passo a passo se a quisermos, educando-nos para a consciência.
 

Valham-nos as clandestinidades dos laureados e sobretudo dos não laureados deste mundo, afinal únicos viventes e sobreviventes da palavra exótica e não expectável que um dia se lhes colou ao pensamento e lhes desabrochou um esboço, depois outro e outro ainda e eis o big bang no seu labor…

 

Teresa Bracinha Vieira