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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

RECORDAR: “lembrar-se, trazer à mente”, de RE-, “de novo”, mais COR, “coração”


A

António Alçada Baptista 

 

PLURALIDADE

 


Voltámos a pousar as palavras no local do seu nascimento. Fez-se um silêncio, e perguntaste

          - Queres ser minha vizinha? Farei o que for possível para que os olhos dos outros não deixem queixas nos teus

Vizinha sou e fui

(asilo e paz. Porta)

Eram sete os palácios brancos e habituámo-nos a deles partir sem nunca dizer adeus.

Não sei se nasci para este destino

(disse)

Pois também acho que deveria ser possível inverter o sentido dos dias

- Eu escolhia ontem e tu o amanhã. E ambos o mesmo ainda assim

E eu, dúvida, a pensar se acaso, os ponteiros do relógio se encurvam no meio dos dias e digo-te

- É que a aprendizagem também se converte no aprendido

(que se não resigna)

a superfície do mistério não existe. Olha-se de dentro das coisas

- Pois. O que interessa não é que a infância retorne. As perguntas não devem despistar

(também as quero com ternura)

-E?

Cada um tem o seu pedaço de tempo, de espaço, de vida. Não se deve viver na vida dos outros. Aliás isso faz confundir as mortes

Fazia frio. Recostei à lareira

e não é preciso ler para aprender

- Não, não é. A prometida razão expõe-se e tu sabes, se sabes que o caminho real passa pelo meio

(quando deixo de te escutar, pareces-me impossível)

Não digas isso. Uma pessoa, às vezes, agarra-se a tudo, até mesmo às contradições

- E o Borges também dizia que o mundo es el segundo término

cuyo primer elemento se há perdido.

 

Teresa Bracinha Vieira

Junho 2007