RECORDAR: “lembrar-se, trazer à mente”, de RE-, “de novo”, mais COR, “coração”
A
António Alçada Baptista
PLURALIDADE
Voltámos a pousar as palavras no local do seu nascimento. Fez-se um silêncio, e perguntaste
- Queres ser minha vizinha? Farei o que for possível para que os olhos dos outros não deixem queixas nos teus
Vizinha sou e fui
(asilo e paz. Porta)
Eram sete os palácios brancos e habituámo-nos a deles partir sem nunca dizer adeus.
Não sei se nasci para este destino
(disse)
Pois também acho que deveria ser possível inverter o sentido dos dias
- Eu escolhia ontem e tu o amanhã. E ambos o mesmo ainda assim
E eu, dúvida, a pensar se acaso, os ponteiros do relógio se encurvam no meio dos dias e digo-te
- É que a aprendizagem também se converte no aprendido
(que se não resigna)
a superfície do mistério não existe. Olha-se de dentro das coisas
- Pois. O que interessa não é que a infância retorne. As perguntas não devem despistar
(também as quero com ternura)
-E?
Cada um tem o seu pedaço de tempo, de espaço, de vida. Não se deve viver na vida dos outros. Aliás isso faz confundir as mortes
Fazia frio. Recostei à lareira
e não é preciso ler para aprender
- Não, não é. A prometida razão expõe-se e tu sabes, se sabes que o caminho real passa pelo meio
(quando deixo de te escutar, pareces-me impossível)
Não digas isso. Uma pessoa, às vezes, agarra-se a tudo, até mesmo às contradições
- E o Borges também dizia que o mundo es el segundo término
cuyo primer elemento se há perdido.
Teresa Bracinha Vieira
Junho 2007