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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO


XXII - DIVERSIDADE E DIVERSIDADE LINGUÍSTICA

 

Por princípio, a diversidade linguística não coincide com as necessidades de unicidade e  homogeneização do mercado global, dado que a existência de várias zonas linguísticas fomenta mercados parciais e em concorrência, enquanto a globalização tende a impor a unicidade a todos os níveis, desde o económico, científico, linguístico, político, entre outros. Se, nesta perspetiva, a diversidade linguística e cultural é um perigo, outros opinam ser saudável mantê-la, pois cada língua tem um tipo de relação especial com a realidade, sendo uma janela especial do pensamento humano aberta sobre o mundo, um valor não quantificável que pertence à esfera do conhecimento.

Segundo a linha oficial da Unesco, na sua qualidade de organização plurinacional com maior responsabilidade quanto ao estatuto e futuro das línguas, é um pressuposto culturalmente correto, que todas as línguas, sejam nacionais, regionais ou minoritárias, têm o mesmo valor, a mesma dignidade ou merecimento, não havendo as “boas” ou “más”. A conservação e difusão da diversidade linguística, da diversidade cultural em geral, é condição prévia para uma sadia e pacífica convivência internacional.

Assim como a biodiversidade nos ensina que a observação e compreensão, sob várias perspetivas, aumenta as probabilidades de adequação da resposta, o mesmo sucede com a diversidade e a democracia. A diversidade linguística e cultural, ou qualquer outra, é uma ferramenta para pesquisar a realidade. Quando usamos várias ferramentas de pesquisa, tipo Google, Yahoo, aumentam as probabilidades de encontrar mais e melhor informação. A diversidade configura um enriquecimento numa sociedade que se quer pluricultural e plurilingue, por maioria de razão em países que se têm como democráticos e reclamam os benefícios dos direitos e deveres inerentes a um Estado Democrático de Direito.

Para os defensores de uma planificação linguística democrática, esta tem de contemplar a vigência de uma língua num espaço ou mercado interior e a sua flexibilidade de ser convertível num espaço ou mercado exterior. Além de língua biológica, herdada, materna, nativa, patriota (transmitida de pais para filhos e entre nações), tem de ser uma língua útil, aprendida e de exportação (quanto mais útil, mais aprendida e maior a sua necessidade e procura).

 A diversidade não exclui, por natureza, o desaparecimento de uma ou várias línguas, por baixa consideração social pelos próprios falantes, por que pouco unificadas internamente, sem correspondência com o poder económico, político, educacional ou social, ou por um número insuficiente de falantes.

O que também não exclui a necessidade de um debate sério sobre a questão da diversidade linguística, mesmo em países democráticos e pluriculturais, defensores das mais amplas liberdades e diversidades, nem sempre alheios a assimetrias de relações de poder em termos linguísticos, de etnicidade ou de raça, tentando explicar o crescimento e importância de certas línguas, com o argumento da superioridade de um povo, de uma raça ou religião.   

 

27.12.2016

Joaquim Miguel De Morgado Patrício