LONDON LETTERS
Now is the time, 2017
O ano novo atrasa um segundo na abertura, a compensar natural vagar na rotação terrestre, para logo acelerar na vertigem dos acontecimentos humanos. A busy timetable revela os efeitos do passado recente que semearam consequências no próximo futuro. Depois do Trump triumph no January dos USA e do Brexit article no March do United Kingdom, a European Union peregrina pela electoral silk road de 2017.
Se Madame Marine Le Pen surfar a onda populista em France e Germany ceder na censura à Bundeskanzlerin Angela Merkel, ainda que com muito window dressing, assitir-se-á a novel queda do império romano no velho continente. — Chérie! Il y a un temps pour tout. Com a política global em fluxo, em London, hoje mesmo, o HM Government reivindica o centre-ground com uma agenda reformista. Mrs Theresa May adverte contra as “politics of division and despair” e defende a visão de “a shared society,” enquanto persiste no calendário anunciado do Brexiting face a fogo cerrado dos eurófilos liderados pelos milhões do ex PM Tony Blair. — Aye! All's well that ends well. Em New York, RH Boris Johnson dialoga com o Trump Team e o US President-elected saúda a Prime Minister na TweetWhiteHouse. Já Washington e Moscow revisitam o universo ficcional de Mr John Le Carré em frescos episódios da Cold War, com Beijing a observar a neo cyberwarfare. O calvário dos refugiados enfrenta as temperaturas gélidas na Balkan Route. A lista das New Year Honours consagra Sir Andy Murray e outros heróis olímpicos. O iPhone comemora 10 anos.
Heavy snow alert at Britain. Com o mercúrio dos termómetros a cair com a aproximação do polar vortex, o reino respira de alívio com a visão pública de Her Majesty. Uma constipação mais severa impede Elizabeth II de assistir aos tradicionais serviços religiosos em Sandringham (Norfolk, Eng) e as sucessivas ausências suscitam até desassossego nos altos círculos, mas eis a monarca aos 90 anos a retomar os compromissos a par do regresso dos MP’s a Westminster após a pausa natalícia. A cidade vive ainda a onda grevista oportunisticamente iniciada durante as festas. Ir do ponto A para o ponto B é agora uma aventura colossal, com 24 horas de paralisação no Metro por entre estações fechadas por excesso de pessoas, eventuais autocarros e um caótico trânsito automóvel. Ao desânimo salvam as Boris Bikes, um hire-scheme disponível por todo o lado de Canary Wharf a Camden Town. A odisseia cosmopolita testa o dito de que to be British is above all to be pacient. O quadro de fundo enfurece, porém. Em nome da segurança dos passageiros, os meios laborais exortam ao derrube do “bloody Tory government” e à troca do capitalismo pela “socialist order.” O Mayor Sadik Khan crítica “a pointless strike” a arrepio do manto de silêncio do Labour Leader Jeremy Corbyn, cujos aliados abertamente apoiam a industrial action a expensas dos agnósticos. As pendências inclinam as sondagens para a direita e aguardam pelo voto das by-elections do ano, com o Ukip a cavalgar o descontentamento, os liberais democratas a assumir-se como a hoste dos Remainers e os conservadores a faturar nos dividendos dos Brexiters. A sintonizar os humores, nas ondas hertzianas da LBC começa o Nigel Farage Show – o ukipper por cá reconhecido como Sir Brexit. Em semelhante tela publica a Fabian Society a usual análise das tendências eleitorais, sob título de Mr Andrew Harrop: "Apocalypse soon? Labour is too weak to win and too strong to die. It needs to find a new cultural centre ground and consider how to work with others."
A Anglosfera fica também marcada pela agitação dos last days do suave President Barack Obama no Oval Office. Na senda das alegações de manipulação informática na ida campanha presidencial, ao melhor estilo da Cold War, Washington DC expulsa 35 diplomatas russos e admoesta Moscow que não sairá impune “to pursue similar tactics in forthcoming elections in Germany and France.” O Kremlin tudo nega, faz compasso de espera pela transição nos US e até convida os membros da embaixada local dos US para a sua mesa. Ora, se a caça das agências ocidentais de espionagem incide desta feita sobre o Russian malware code, o xadrez geopolítico conta com aliança ímpia dos democratas e da ala republicana do Senator John McCain em Capitol Hill. Assim se hipoteca a guerra pelo impeachment de um presidente ainda não empossado, em torno da National Security. Convenhamos que Mr Richard Condon não desgostaria da reedição de The Manchurian Candidate nas vestes de um milionário improvavelmente eleito para a White House, finda que ali está a série de um desconhecido professor de Chicago com raízes africanas.
Inesperado é o efeito colateral registado na envolvente de St James. As casas de apostas abrem os balcões a BuzzWord para o Trump’s Inaugural Address. As probabilidades oratórias para January 20th são reduzidas, jogando os bookies com peculiar quarteto de risco: a presença da locução “corrupt” apresenta prémio a 2/1, “I like hackers” surge a 4/1, “Brexit” a 5/1 e “fake news” a 10/1.
Em plena contagem decrescente para a tomada de posse de Mr Donald John Trump como líder do West, pois, revisito os discursos inaugurais junto ao Potomac River. Espantam as 73 páginas de diretivas do honorável George Washington, entre as quais, o compromisso de não fundar dinastias no novo mundo; pesam as referências dos sucessores à divina providência e às clássicas repúblicas. Com ecos em volta de ambicionado retorno da special relationship solidificada nos 90’s pelo duo Maggie Thatcher e Ronnie Reagan, é o distinto Abraham Lincoln que fixa finalmente a atenção com um olive branch em mandato inquieto. “I am loath to close. We are not enemies, but friends. We must not be enemies. Though passion may have strained it must not break our bonds of affection. The mystic chords of memory stretching from every battlefield and patriot grave to every living heart and hearthstone all over this broad land, will yet swell the chorus of the Union, when again touched as surely they will be, by the better angels of our nature.” Sabeis aonde conduzem estas palavras dirigidas aos confederados em 1861. — Well. As echoes Master Will by the voice of that industrious mutineer Lord Hastings in Henry IV/PII: — Don’t worry about that. If we can come to terms that are as comprehensive as the ones we’re insisting upon, then the peace will be as durable as rocky mountains.
St James, 9th January 2017
Very sincerely yours,
V.