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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LIBERDADE CRIATIVA EM LIBERDADE

 

A liberdade é intrinsecamente antiautoritária e autocorrige-se.

 

Questiona a autoridade, erode a superstição, exige que as pessoas sejam livres e façam valer os recursos intelectuais ao seu dispor.

 

Se nos assuntos humanos é inviável alcançar a certeza, sendo os seres humanos inerentemente ignorantes, têm de ser livres para continuarem a aprender, adaptando essa ignorância a probabilidades.

 

Daí que, glosando e adaptando uma conhecida observação de Churchill, a democracia, a ciência, as artes e humanidades em liberdade, sejam os piores sistemas de governação, de criação, de investigação e de liberdade de expressão e de pensamento, à exceção de todos os outros.

 

Onde a nossa ignorância é maior, mais importante a liberdade, atento o incerto, o imperfeito, o impermanente, a dúvida, que nos atrai e estimula a querer saber o que não sabemos, a criar, a inovar e continuar.

 

Nesta sequência, a liberdade criativa em liberdade é uma condição e necessidade de vida, uma sua exaltação e revelação, em que a arte, a literatura, a pintura, a escultura, a música, o teatro, o cinema, a fotografia, a filosofia ou a ciência podem compensar o empobrecimento e a rotina das nossas vidas. É liberdade de criar, de ousar e de imaginar outros mundos e outras vidas. E de transgredir, mesmo em transgressão, superando limites, o que não equivale a anarquia, tendo sempre presente que a liberdade criativa em liberdade não significa independência absoluta, dado que o artista, o criador, o cientista e o inventor, ao movimentar-se no âmbito da sua autonomia privada e criatividade pessoal, não o faz ignorando o contexto em que se insere.

 

Sendo um bálsamo, uma compensação, um consolo e prazer do conhecimento, é também um grito de infinito em busca do infinito, um processo criativo de porquês formulador e produtor de outros porquês, que tanto enriquece espiritualmente o indivíduo que cria, como o que goza, usufrui e recebe a criação para si.

 

Literatura, pintura, escultura, música, as belas artes em geral, a ciência, por exemplo, são formas de liberdade, de criação em liberdade, em que há liberdade, criatividade e imaginação total, criando e inventando em liberdade, ao invés da notícia e do jornalismo, que não se podem inventar.

 

Uma parte significativa dessa liberdade criativa, que alimenta e provoca mais conhecimento, saber, sentido dos sentidos, a desconformidade, o desacordo e o conflito é tida, para alguns, como parasita, acima de tudo por não dar dinheiro numa lógica de pura eficácia e rentabilidade, às vezes por desadequada e incompreendida na sua época, mas que tantas vezes resiste ao passar dos anos, tornando-se intemporal, chegando o dia em que o Tempo a imortalizou.  

 

Em qualquer caso, o que artistas e criadores rejeitam é a estagnação, o determinismo e a rotina, baseados na censura e na repressão, sendo por essência potencialmente livres na sua liberdade criativa, dado que, como no poema “Livre”, cantado e musicado por Manuel Freire, com versos de Carlos Oliveira: “Não há machado que corte/ a raiz ao pensamento, (…) Nada apaga a luz que vive/num amor num pensamento/porque é livre como o vento/porque é livre”.

 

E sem razão seria a vida, sem razão…

 

24.01.2017

Joaquim Miguel De Morgado Patrício