CARTAS DE CAMILO MARIA DE SAROLEA
Minha Princesa de mim:
Voltando aos místicos carmelitas espanhóis, deixo-te um poema de Santa Teresa de Ávila, que também com livre cumplicidade traduzi. Compô-lo a madre carmelita - boa prosadora, mas menos lírica, mais linear, sem a intuição poética de João da Cruz, por aí se diz, mas pensossinto eu, arrebatadora nestas três sextilhas sobre uma glosa que rezava assim:
Vivo sem viver em mim,
e com tal pressa espero,
que morro por não morrer.
Vivo bem fora de mim,
desde que vivo de amor,
porque vivo no Senhor,
que para si me quis assim:
dei-lhe o coração inteiro,
nele posto este letreiro:
ai que morro por não morrer!
Esta divina prisão
do amor com que me vivo
fez de Deus o meu cativo,
e livre o meu coração.
E causa-me tal paixão
ver Deus na minha prisão...
que morro por não morrer!
Ai que longa é esta vida!
Que duros estes desterros,
este cárcere, estes ferros,
em que a alma está metida!
Só de esperar pela saída
me vem uma dor tão ferida...
que morro por não morrer!
Camilo Maria
Camilo Martins de Oliveira