LONDON LETTERS
Mrs May goes to Philadelphia, 2017
O discurso da senhora é fantástico, simplesmente fantástico. Ecoa o espírito do lugar e dos seus heróis, a Philadelphia que em 1776 acolhe a Declaration of Independence dos Founding Fathers.
Em Philly de novo ergue RH Theresa May a tradição da Magna Carta e os valores que ancoram “the promise of freedom, liberty and the rights of man.” Só depois de ali falar ao Republican Party Congress e recordar que a NATO é “the cornerstone of the West’s defence,” avança a Prime Minister para o primeiro encontro com o US President Donald John Trump de uma líder ocidental. É ouvida e certifica-nos do facto em Pennsylvania Avenue. — Chérie, la conviction déplacera des montagnes. A PM inicia em Washington um périplo diplomático que também a conduz a Ankara e a Dublin, durante o qual poupa futuras hipotecas às organizações internacionais fundadas no pós II World War. No UK, em vésperas de mais uma votação histórica, a House of Commons debate a European Union (Notification of Withdrawal) Bill. — Humm! But doubt is the beginning of wisdom. A US Administration confirma a tinta de Executive Orders que vivemos já num… Brave New Trumped Wordl. As primárias francesas votam Monsieur Benoît Hamon como candidato à esquerda da esquerda, abrindo espaço à polarização total no debate presidencial. Um deslumbrante Mr Roger Federer soma o seu 18th Grand Slam após bater Mt Rafa Nadal no Australian Open. Sir John Hurt parte.
Misty, rainy & polar days in Central London! Às voltas com febricitante gripe, eis serenata à porta for two hours. De Trafalgar Square a Westminster Square marcha ruidoso protesto contra os controlos fronteiriços erguidos nos States pelo President Donald Trump. Informam que, em maior ou menor número, ao frio e à chuva, idênticas manifestações percorrem outros lugares do mundo. Não sei se sou eu ou o media frenzy (o senhor não sai das manchetes), mas intui-se a moral panic quando ao que Washington faça. Tudo corre como anunciado, todavia. O “extreme vetting” que ora agita as gentes surge na linha das suas “strong borders,” cujo rigor é sabido por quantos para lá viajam. Se são debatíveis as “unintended consequences” do travão temporário à entrada de cidadãos de sete países do cinturão islâmico, tidos como ameaças à segurança nacional, anda aqui um outro elemento deveras perturbador. O senhor é eleito com um manifesto. Assim que entra em funções, começa a aplicar as políticas que apresentara a votos e lhe entregam as chaves do Oval Office. Imaginem se a moda alastra? Políticos a executar as promessas eleitorais? Truly shocking, indeed! Afinal, a democracia é coisa má ― nem sempre ganham os mesmos sob regras iguais para todos, o poder é efémero e a mudança dispensa o derramamento de sangue! Na House of Commons, entre apaixonados mas repetidos argumentos pró e contra a Brexit, o SecSExEU RH David Davis enquadra o debate sobre o famossíssimo Article 50 com uma pergunta: “Do we trust The People?” Nas bancadas da Most Loyal Opposition é o caos habitual, com anunciada rebelião no Labour Party contra a disciplina de voto (favorável) exigida por RH Jeremy Corbyn. Restam os coesos blocos minoritários dos Lib Democrats e dos independentistas do SNP para travar o divórcio com Brussels. Revogarão o voto referendário? A EU Bill logo seguirá para escrutínio nos indefinidos Lords. Fascinante procedimento, não é?
Nas paredes das Houses of Parliament ressoam ainda os sucessos primoministeriais e a boa vontade gerada nos States pela visão da Global Britain. Deixando os detalhes da reunião entre Mrs May e Mr Trump, por cá rotulado como "the greatest diplomatic challenge for a British politician in living memory" entre entusiasmos por “free trade deal after Brexit” e polémicas por visita de estado ”to come and meet The Queen,” destaco a admirável declaração da PM durante apinhada conferência de imprensa na White House quando aponta para o presidente, afirma que este está “100% behind NATO” e liquidifica o seu áspero criticismo eleitoral contra a aliança de defesa. Se um suspiro de alívio soa nos quartéis-generais, que leitura disto faz Moscow ou Beijing? Mr Vladimir Putin é um dos líderes europeus com quem Mr DJT dialoga por telefone, depois da cimeira USA-UK, a par de Frau Angela Merkel e de Monsieur François Hollande. Pouco transpira destas conversas cruzadas, mas o silêncio do Oval TweetOffice revela frescos cuidados no almejado desanuviamento nas relações com o Kremlin por parte da nova administração. Tema forte na cimeira atlântica, a Premier aborda-as abertamente para recordar o credo “trust but verify” com que Ronald Reagan e Margaret Thatcher lidaram outrora com a URSS de Mikhail Gorbachev. Sob a luz de renovado trilho internacionalista, deixa RH Theresa May churchilliana advertência no discurso de Philadephia: “With President Putin, my advice is to engage but beware.”
Já o grande Sir John Vincent Hurt (1940-2017) parte nestes dias para a eternidade, deixando-nos legado onde avulta aquele espantoso grito de alma que estremece profundamente quantos visionam The Elephant Man: “I am not an animal! I am a human being. I.. am.. a Man!”
Se a película a preto & branco de Mr David Lynch sobre a história do deforme Joseph Merrick na Victorian England marca a estação cinéfila de 1980, arrecadando prémios e nomeações onde os havia, dos Oscars da Academy aos British BAFTA, do US Golden Globe ao French César Award, é a voz do protagonista que acaba por vencer a barreira do tempo; e com esta, o seu espesso portador. E é ainda aquele seu timbre único que evoca a fragilidade da dor, a brevidade do sorriso ou a rugosidade do sarcasmo a marcar épicos Winston Smith no orwelliano 1984 (Michael Radford, 1984), Max em Midnight Express (Alan Parker, 1978) ou Control em Tinker, Tailor, Soldier, Spy (Tomas Alfredson, 2011). HM Elizabeth II fê-lo Commander em 2004 e Knight da Most Excellent Order of the British Empire em 2015. Na forja póstuma, decerto para a galeria de nostálgicos fãs com um urbano So Long.., o ator de Chesterfield deixa cinco filmes por estrear. Fica o farewell ao homem, até próximo contacto com o talento. — Humm. Even Master Will plays with the perplexed when confessing the deeds in his Sonnet CX: — Alas, 'tis true I have gone here and there / And made myself a motley to the view, / Gored mine own thoughts, sold cheap what is most dear, / Made old offences of affections new; / Most true it is that I have look'd on truth / Askance and strangely: but, by all above, / These blenches gave my heart another youth, / And worse essays proved thee my best of love. / Now all is done, have what shall have no end...
St James, 31th January 2017
Very sincerely yours,
V.