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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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OS 150 ANOS DO TRINDADE (II) – A COMPANHIA PORTUGUESA DE ÓPERA

 

Ópera Serrana, de Alfredo Keil no teatro da Trind
    Ópera Serrana de Alfredo Keil, no Teatro da Trindade

 


Merece o maior destaque esta evocação da Companhia Portuguesa de Ópera - CPO, que marcou, entre 1966 e 1975, o meio musical-cultural português, na perspetiva aglutinadora da música e do teatro, essência da criação e realização operística – mas que, em Portugal, constituída como exceção nas temporadas aliás de grande qualidade do Teatro Nacional de  São Carlos – qualidade, sim, mas temporadas quase exclusivamente constituídas por produções basicamente italianas e/ou alemãs: o que não questiona a qualidade em si mesma  (bastaria recordar, entre inúmeros espetáculos, ter lá assistido à “Traviata” cantada por Maria Callas, nada menos!) mas que não correspondia em rigor à função cultural abrangente de um teatro do Estado. E note-se que frequento a ópera do São Carlos desde 1947. 

 

Nesse aspeto, a CPO, instalada no Trindade e dirigida por José Serra Formigal, constituiu um importante fator de divulgação do espetáculo de ópera, mas sobretudo da profissionalização dos cantores portugueses, e também, de reforço da própria expressão musical e teatral. De tal forma que se justifica esta evocação, tantos anos decorridos, na medida em que a CPO conferiu ao Trindade uma função singular. E isto, não esquecendo a própria qualidade, tradição e modernidade do Teatro em si nas sucessivas grande companhias e iniciativas que marcaram a sua atividade ao longo de 150 anos. 

 

Ou, tal como escreveu Tomaz Ribas, “os principais e salutares objetivos (da CPO) eram, por um lado, criar condições de estabilidade profissional e artística aos cantores portugueses e formar novos cantores, novos artistas do bel canto e, por outro lado, proporcionar ao grande público e à classe média espetáculos de ópera e opereta a preços módicos, populares”. O que se conseguiu. (cfr. Tomaz Ribas “O Teatro da Trindade – 125 Anos de Vida” ed. Lello e Irmão 1993).

 

Agora, passaram mais 25 anos!      

  

Ora bem: um aspeto relevante da CPO foi a produção de óperas portuguesa, sabendo-se que, historicamente não são muitas… Em qualquer caso, de acordo com o levantamento exaustivo de Nuno Domingos, entre óperas e operetas, o Trindade programou e executou, no período referido, ao todo para cima de 60 títulos, em sucessivas produções e encenações. E seis eram de autores portugueses: “A Serrana” de Alfredo Keil, logo como segundo espetáculo da temporada inaugural (1963), “A Vingança da Cigana” de António Leal Moreira, “A Condessa Caprichosa” de Marcos Portugal, “Inês Pereira” de Rui Coelho, “Variedades de Proteu” de António Teixeira, “Rosas de Todo o Ano” de Rui Coelho. (cfr. Nuno Domingos «A Opera do Trindade» - ed. Lua de Papel 2007). 

 

E no repertório operístico internacional destacaram-se, segundo a mesma fonte, produções de ópera de Rossini, Puccini, Schubert, Verdi, Mascagni, Donizetti, Leoncavallo, Gounod, Massenet, Belini, Wolf-Ferrari, Mozart, Menotti, Casavola, Bizet, Gluck, Giordano, delibes, Franz Léhar, Massenet, Hindemith. 

 

O repertório operístico conciliava assim os grandes títulos com revelações, clássicas ou modernas, para um público não especializado mas cada vez mais empenhado na participação dos espetáculos: e importa também lembrar que a produção de cada uma das óperas não se limitava, como há décadas sucedia no São Carlos, a dois espetáculos (6ª feira à noite, domingo à tarde) por cada produção.   

 

E mais: a CPO era formada principalmente por cantores portugueses, dos quais citamos, com injustiça para os não citados, nomes como Maria Teresa de Almeida, Maria Cristina Castro, Hugo Casais, Guilherme Kjolner, Ana Lagoa, Armando Guerreiro, Álvaro Malta, Zuleika Saque, Carlos Jorge, e tantos mais… 

 

E tudo isto em sucessivas encenações de nomes notáveis da cena portuguesa, como Álvaro Benamor, Tomaz Alcaide, Artur Ramos, Couto Viana, ou o grande cantor italiano Gino Becki… E maestros também notáveis, como Silva Pereira, Ruy Coelho, Manuel Ivo Cruz, Joly Braga Santos, Filipe de Sousa…   

     

Havemos de evocar ainda, no Teatro da Trindade, dois grandes momentos seletivos: o Teatro Nacional Popular - TNT, dirigido por Francisco Ribeiro (Ribeirinho), e a Companhia Nacional de Teatro, de António Manuel Couto Viana. Ambas marcaram por um repertório avançado para a época. Recordo em particular o que foi a estreia de “À espera do Godot” de Samuel Beckett, numa época e num enquadramento que não se mostraria especialmente adequado a estas expressões dramatúrgicas!   

 

DUARTE IVO CRUZ