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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO

 

 

I - VANGUARDAS ARTÍSTICAS DO SÉCULO XX

 

ENQUADRAMENTO

1. A arte oficial entendia a obra de arte como uma cópia fiel da realidade. O advento da fotografia, imitando fielmente a natureza, numa multiplicação de imagens reais, libertou a pintura dessa função.

 

Libertando-a da necessidade de copiar ou imitar a natureza, a obra de arte autonomizou-se, emancipou-se, ganhou força própria, uma linguagem específica.

 

Sempre existiu um processo de destruição da imagem artística tradicional, mas é com  os vanguardistas que atinge o seu auge no século XX, nomeadamente com os pintores, que negam a tradição, a academia e os mestres, rompendo com toda e qualquer norma estabelecida.

 

Avant-garde, designação dada, em linguagem militar, aos soldados que combatiam na primeira linha de combate, começou mais tarde a designar, em França, anos antes da primeira guerra mundial, os que lutavam e queriam transformar a sociedade, no campo das artes, contra os academismos vigentes, pretendendo ser uma guarda-avançada ou movimento vanguardista de um novo processo criativo de criação artística em liberdade, numa procura permanente de novos materiais e técnicas.

 

Este movimento cultural e artístico, de caraterísticas avançadas, inovadoras e modernistas, não se confinou à pintura, mas por uma união das artes em geral contra a tradição, tida como impeditiva do progresso e da evolução, dado que as mesmas regras se aplicam ao cinema, ao teatro, à escultura, à arquitetura, à literatura.

 

Pela experimentação constante, que lhes é inerente, são efémeras, uma vez que ao romperem com o passado, inventam o futuro, protagonizando uma revolução plástica incompreendida e pouco inteligível para a época, tornando-se elitistas, nos primeiros tempos, sendo assimiladas, com o decurso temporal, por muitos daqueles que antes as tinham criticado.

 

Havia o culto de uma vida excêntrica, de pessoas tidas como não comuns que viviam a vida no limite. Era uma espécie de novo Renascimento, em que o artista livre vive o momento presente em liberdade, espontaneamente e sem constrangimentos, sem planos ou planeamento.

 

ESCOLA DE PARIS E VANGUARDAS HISTÓRICAS

2. Distinguem-se, nas primeiras décadas do século XX, as vanguardas históricas. Desde o fauvismo, ao expressionismo, cubismo, simultaneísmo, abstracionismo, futurismo, neoplasticismo, construtivismo, suprematismo, dadaísmo, pintura metafísica e surrealismo, onde a rutura com os velhos conceitos estéticos passa essencialmente pela inovação do não figurativo ou abstrato.

 

Dominava a Escola de Paris, com Picasso, Braque, Chagall, Modigliani, Pierre Mondrian, Pierre Bonnard, Matisse, Juan Gris, Robert e Sonia Delaunay, Fernand Léger, Picabia, Max Jacob, Utrillo, Soutine, Jean Cocteau, Miró. Com a grande criatividade e depuração de Brancusi, na escultura. Com a música de Debussy, Ravel, Satine. E Heminguay, Scott Fitzgerald e Gertrude Stein, todo um areópago de gente que dispunha de salões onde se reuniam e conversavam sobre todos os temas artísticos.

 

Criando, inovando, amando, bebendo, fumando, divertindo-se, escandalizando, trabalhando, estudando, vivendo e fazendo-o com gosto. Numa libertação de costumes, vida boémia, experimentação, inspiração e intuição. Até ao limite. Por isso alguns não resistiram. Com influência na primeira geração do modernismo português, nomeadamente em Amadeo de Souza-Cardoso, Santa Rita Pintor e Mário de Sá- Carneiro.

 

Sem esquecer uma literatura experimental que antepunha a originalidade à perfeição, onde impera, como vanguarda, o expressionismo alemão, com Brecht e Kafka. Nos anos 30 e 40 surge a tendência literária existencialista, com Sartre, Camus, Simone de Beuvoir.

 

ESCOLA DE NOVA IORQUE E VANGUARDAS MAIS RECENTES

3. Depois da segunda guerra mundial, com a ascensão da Escola de Nova Iorque, surgem as vanguardas mais recentes. Após a literatura e a arquitetura, é a vez da pintura alcançar a sua maturidade, libertando-se dos modelos do Velho Mundo, tornando-se uma verdadeira declaração de independência da arte americana. Os artistas nova-iorquinos coabitam com os colegas europeus, em fuga da segunda guerra mundial com destino aos Estados Unidos. Não os vemos apenas a criar, mas também a socializar uns com os outros. Numa nova e permanente experimentação, em que a dúvida e a busca permanente geram sempre qualquer coisa.

 

Na pintura surge a expressão action painting, designando os pintores do expressionismo abstrato. Exaltou-se o ato de pintar em si, excluindo a figuração e valorizando o gesto e o tratamento expressivo da matéria. A tela não é tida como um espaço para reproduzir ou exprimir um objeto, mas como o teatro de uma ação. Os trabalhos de Pollock são criados por gotas de tinta ou por tinta atirada à tela. Incentivaram-se as pinturas murais, mas também as artes gráficas, a fotografia, a música e o teatro. Sobressaiem nomes como De Kooning, Arshile Gorky, Gottlieb, Hans Hoffman, Franz Kline, Jackson Pollock, Mark Rotcko, Clyfford Still, Mark Tobey, Helen Frankenthaler. Sem esquecer, como colecionadora e mecenas, a extravagante Peggy Guggenheim.

 

A que acresce, na cena europeia do pós-guerra, a nível da pintura, o tachismo e o informalismo. Na escultura, Giacometti e Calder.

 

A que se seguiriam a arte pop, a inglesa, mais intelectual, e a americana, mais popular. Utilizando imagens e objetos ligados à comunicação de massas e à vida quotidiana, onde se distinguem os norte-americanos Oldenburg, Segal, Rosenquist, Roy Lichtenstein e Andy Warhol.  

 

Sem deixar de lado o novo realismo, o neodadaísmo, a op art (arte ótica), o minimalismo, a arte conceitual. E a arte do corpo (body art), ao fazer do próprio corpo humano o objeto da arte.  

 

07.03.2017 
  Joaquim Miguel De Morgado Patrício