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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

 

   Um gosto extremo pela verdade.

 

Um legado do meu tio-avô que em seus velhos anos sentia, no saber, satisfazer-se com o que tinha. 

 

Não sei até onde se contentou este meu tio em viver uma vida que ele chamava tão-somente desculpável e que não pesasse para ninguém. E eis esta outra consciência de que nesta verdade teria de se encontrar. Nesta verdade que queria dizer vida em total soberania, na qual, nem a lealdade dos filhos que não tinha, deixava de ser guardada num lenço de nariz amarrotado e que chegava aos olhos numa vigilância clara de quem faz contas às certezas.

 

E o desconhecido meu tio? como era?

 

Em silêncio, presumiu os vícios depois de os ter, mais ou menos estragados pelo exemplo de os repetir. Mais ou menos diferentes quando em si se acarinhavam. Também sentia este meu tio, como uma desgarrada de mentiras, quando alguém o acusava de furto, de uma espécie de furto por poder duvidar de que os outros é que estariam certos. Imprudência seria o que sobrava aos outros para causar boa impressão à mercê de a todo o tempo ser aprovada. Assim pensava e dizia, baixinho, enquanto rolava na cama que o sustinha em dor, em muita dor. E lá chegava a memória do livro que seguiria para Lisboa com os vinte escudos apertados entre a página 32 e 33.

 

Nunca fora avaro. A verdade ensinara-lhe que o dinheiro era coisa transitória e mundana, papelada poeirenta, a das contas. Ou, o que é pior, a do negócio. Toda a vida procurara desleixar e relaxar sem obrigações ou servidões ao dinheiro. Por temperamento e por sua condição coube-lhe pertencer segundo a sua vontade, à fotografia de si e das pessoas em si, e assim, tudo fluiu e fluiria até à sobrinha-neta, eu, que julgo ter entendido dele que o que nos imprime a condição de viver da comparação com outros, faz-nos sempre muito mais mal do que bem, pois atira lama ao gosto extremo pela verdade, no sentido de nos privarmos daquilo que queremos para atender às opiniões dos outros.

 

Com ele, com este meu tio-avô, ficou-me a possibilidade de me auto incentivar às viagens, ou elas não fossem em mim um desacordo com os costumes daquilo com que me querem e quiseram conformar. E a essa corrupção, eu digo e disse não, mesmo que na fotografia em seu dia esteja eu submetida a quem não tenha um gosto extremo pela verdade do entendimento, tal como este meu tio-avô, meu padrinho de batismo de vida, aristocrata de guerra aberta a quem lhe fedia, amante de ópera obstinado. Digno.

 

Teresa Bracinha Vieira

Maio 2017

SALVADOR SOBRAL: AMAR PELOS DOIS É AMAR PELO MUNDO (For The Both Of US)


Nunca é possível marcar uma data para vermos surgir Salvador, se dentro de nós nunca tivermos deixado de acreditar que ele representa a humanidade em processo constante e sem fim. Data afinal de olhar e surpreender o sonho. Eis.

 

Com 28 anos, define caminho. Sente-se que é ausente das imitações comportamentais de hoje. Tem dimensão e forma de pensamento.

 

Salvador Sobral, tão jovem, tão ele, tão nosso desejo, sabe o que é a libertação, conhece que a partir do momento em que ela se inicia, esse processo, nunca mais deixa de crescer até que daqui a bocadinhos quando por nós perguntarem, exaustos e devagarinho amaremos por dois, por ti que és mundo, por mim, que também me quero permitir saber ser mundo, e mesmo sabendo o que é sofrer, insiste Salvador em dizer 

 

Ninguém que foge da morte é imigrante. É sim, refugiado!

 

E há que ceder e sentir paixão até que a praia-mar se instale no coração e em nós esse local de encontro, Salvador que aceitamos agradecidos por coexistirmos na proposta que ofereces: – IN NAME OF THE WORLD, I LOVE 

 

Teresa Bracinha Vieira
Maio 2017