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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

 

Julgamos poder dizer que a ciência da política é uma ciência que pretende conhecer a realidade do político por dentro, no mínimo, com anterioridade à sua aparência formal e mesmo institucional. Talvez por esta razão sempre foi necessário ter um olhar acutilante, analisando a política como facto real e não se afastar dessa objetividade.

 

Caminhávamos pelo Jardim da Estrela, como era hábito, depois de sairmos da Capela do Rato, e, dizia-me o padre Jesuíno:

 

Gosto muito, quando venho a Portugal de ir ver os meus amigos daqueles tempos. Os que entenderam a razão do meu casamento que muito tem a ver com a política, e os outros também, os que só me apontaram. E muito gosto de recordar as tuas “palestras” sobre o político e a política, acima de qualquer curiosidade, porque tinhas 13 anos e tentavas comunicar com os teus amigos, temas que não eram do seu agrado, nem do teu saber, mas a sensibilidade…o teu irrequieto…, mas sim, a ciência política, como dizes agora, deve devotar-se ao político por dentro, ao que ele tem e que ainda não é sabido mas é manipulado.

 

Padre, - vou chamar-lhe sempre assim, como sabe tropeço no Jesuíno sozinho – vamos tomar um café?

 

Olhei-o muito compenetrada no que lhe queria dizer e Aristóteles foi o primeiro pensador que se ateve ao Estado “possível”, sendo este o que tem mais segurança e estabilidade, e tomou como ponto de partida não a ideia de Estado perfeito, mas a ideia de Estado composto pelos diferentes povos e suas consequências em função deste corpo assim diferentemente constituído. Se este pensamento realista desapareceu? Sim desapareceu. Recordo-me da leitura de Julián Marías, La Etica nicomaquea, e só surge de novo este pensamento realista na época moderna com Maquiavel, Hobbes, Locke, Marx, Montesquieu entre outros.

 

É certo, diz-me Jesuíno, mas nem todos eram “realistas” no mesmo sentido. Basta pensarmos que muitos não se interessaram particularmente pelas mudanças do corpo do Estado, mas muito o afetaram, muito o condicionaram, o modificaram. Estou a pensar em Hobbes e também Marx, encarnações diabólicas para outros pensadores. Não achas?

 

Acho padre Jesuíno, sobretudo aqui sentada neste jardim, acho que as pessoas não gostam que se destrua o confortável idealismo quando não, porque esse facto dá a cada um, uma ideia muito satisfatória de si mesmo, proporcionando igualmente um contentamento pela comunidade a que cada qual pertence. Contudo o realismo deixa de ser descritivo e passa a dinâmico com uma direção histórica precisa. Julgo que continuarei a dizer que a ciência da politica tem por objeto o estudo da sua estrutura e do seu funcionamento. É uma ciência descritiva, objetiva, pelo menos inicialmente, assim penso. Hoje, é indiscutível a mudança, bem como a força sociológica e jurídica em toda esta análise, considerando o respeito pelo Direito, a real força da legitimidade.

 

Avançam corpulentas estas árvores deste jardim, Padre. Crescem vaporosas na Antropologia cultural de um mundo, silenciosas e regadas de uma moral e de um direito, verdadeiras armas da luta política, e porque não da luta das suas folhas pelo sol. Há que não esquecer que a personalidade fanática ou democrática é tão-somente a representação de uma realidade mais ampla e da qual depende. O poder e o seu funcionamento constituem a realidade política. E poder, pode ser «Estado» ou «Governo.» Pode ser árvore.

 

Gostaria de me candidatar a um cargo político, disse Jesuíno.

 

Teresa Bracinha Vieira
Maio 2017

For the joy of it

 

A mais alegre entre as manhãs

Foi aquela de Maio

O meu amor passeava-se pela rua

E seus parentes vieram à boda

Assistiram à missa nova

Cantando as epístolas da estrela maior

O meu amor

De rosa na mão

Colocou a carta no correio

Aquela em que agradecia o céu na terra

A casa

O pão

Os beijos do barril de mel

E o meu amor dançou todos os mistérios

De um dia hei-de

Jejuar

Para te amar

E em ti o óvulo

Mais fértil entre as manhãs

De Maio

Quando só uma toda ela

A razão  

 

Teresa Bracinha Vieira

Maio 2017