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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO

 

 

XI - BAUHAUS

 

1. Tendo em comum o interesse pela abstração e que à beleza das coisas se deve aliar o da funcionalidade, surgiram três movimentos, entre 1917 e 1920: o construtivismo, na Rússia, o neoplasticismo, na Holanda e a Bauhaus, na Alemanha.

 

Defendiam a necessidade de a arte responder às novas exigências técnicas e sociais,  usando métodos e materiais de produção industrial, produzindo coisas úteis e funcionais. Esta conceção e estilo vingou sobretudo na arquitetura (nomeadamente na Bauhaus), mas também impulsionou o mobiliário e objetos de uso corrente, tais como cadeiras, candeeiros, adornos, faianças, cinzeiros, tinteiros (arte móvel) e até o vestuário.

 

A Bauhaus foi uma escola de arquitetura, arte e desenho, fundada por Walter Gropius, na Alemanha, em Weimar, em 1919, pretendendo a integração de todos os géneros artesanais e artísticos, através da renovação pedagógica do ensino da arte, dando aos artistas preparação e a oportunidade de conhecerem, usarem e trabalharem vários materiais, desde a madeira, metal, tecido, cor, fotografia, publicidade, impressão e tipografia, construção e arquitetura, a que não foi alheia a descoberta do ascensor e betão armado, que viabilizaram, nos Estados Unidos, os primeiros arranha-céus, na sua simplicidade formal e de linhas, por influência de Frank Lloyd Wright.

 

Para Gropius a arquitetura era a arte das artes, advogando que o fim último de toda a atividade criativa é o edifício. Daí o nome de Bauhaus, que em alemão significa casa de construção, casa dos construtores ou casa para construção.

 

O seu fundador reuniu em Weimar representantes de todas as escolas de arte abstrata, do grupo Cavaleiro Azul, de De Stijl e o do neoplasticismo à arte não-objetiva dos russos, onde ensinaram nomes como: Kandinsky, Klee, Feininger, Van Doesburg, Moholy-Nagy, Albers, Johannes Itten, Adolf Meyer. Em 1925, a Bauhaus transferiu-se para Dessau e, em 1932, para Berlim, sendo encerrada, em 1933, pelos nazis. 

 

2. Proclamando uma arte nova ao serviço da sociedade, a Bauhaus teve como grandes inovações as suas propostas sobre estética industrial, onde predominava uma funcionalidade de linhas retas e uma geometria linear e estrita. Nos grandes centros urbanos o cimento armado substituiu as laboriosas cantarias, tomando a propriedade horizontal o lugar das moradias familiares.

 

A arquitetura variava, segundo os regimes políticos, entre o neoclassicismo e o modernismo, via construção, nos regimes totalitários, de grandes construções e monumentos em estilo neoclássico, de modo a consolidar e perpetuar o poder instalado, usando os materiais e as novas técnicas de construção, ao invés dos regimes liberais americano e europeu, em que as linhas de construção são direitas e ausentes de ornamentações supérfluas.

 

Sempre vanguardista em termos de urbanização, criou uma arquitetura moderna, racional, funcional, de equilíbrios, que deixou influências, entre as quais a tendência do funcionalismo estético, em que para além dos arquitetos da Bauhaus, avultam outros nomes reconhecidos mundialmente, como o norte-americano Wright, o finlandês Alvar Aato e o suíço Le Corbusier.

 

Propondo uma adesão às necessidades funcionais e práticas da comunidade, nomeadamente nas coisas de uso corrente, a Bauhaus dá origem ao design, dedicando-se à feitura de projetos e ao desenho de modelos em especial destinados à indústria, sobretudo desde 1923, sob o impacto de uma nova equipa liderada por Albers e Moholy-Nagy, com a incontornável ajuda de T. Doesburg.

 

Encorajando os alunos a utilizar materiais modernos, a terem como referência composições suprematistas e construtivistas (de Malevitch, Rodchenko, Popova, Lissitzky, entre outros), transitou-se de uma produção artesanal para uma industrial de objetos belos, funcionais, sofisticados e bem acabados.  Destacam-se nomes como Marianne Brandt, criadora de um elegante serviço de chá em prata (1924), Wagenfeld e Karl Jucker, criadores de um candeeiro de mesa em vidro e metal, conhecido por Wagenfeld Lampe (1924), tido como um clássico e um dos exemplos de excelência do design industrial, Albers, ao conceber o seu Conjunto de Quatro Mesas de Empilhar (1927), ainda hoje vendáveis. A que acresce a Cadeira B3, de Marcel Breuer (1925), em aço cromado e faixas de tela, useira de salas de espera e de conferências mundiais. Sem esquecer as criativas cadeiras de Mies van der Rohe, concebidas para a exposição internacional de 1929, em Barcelona, também autor do inovador pavilhão alemão, tido como uma síntese de arquitetura de todos os movimentos de arte abstrata.

 

Na pintura a Bauhaus teve artistas de várias tendências: Muche, Itten, Klee e Kandinsky, com a sua espiritualidade e poética da geometria, Albers e Moholy-Nagy, virados para o racional e a técnica, Feininger e Schlemmer, tidos como independentes.

 

3. Toda esta experiência vivida, consolidada e reconhecida mundialmente, valendo por si e intrinsecamente peculiar e influenciadora no processo criativo e nas artes em geral, não impediu que fosse conotada com o esquerdismo, dada a sua preocupação de ligação  com o mundo exterior, excessiva e demasiado modernista, para muitos, sofrendo vários ataques no seu percurso, culminando com o encerramento da maior escola de artes e design até então conhecida, por ordem de Hitler, em 1933.

 

Hitler também ordenara que fossem confiscadas e retiradas dos museus alemães todas as obras de arte moderna posteriores a 1910, tidas como arte degenerada, o que sucedeu, entre muitas outras, com as de Kandinsky, Klee, Kirchner e Feininger.  

 

Iminente outra grande guerra, de que muitos artistas se aperceberam, juntamente com a perceção da sua ausência de liberdade criativa, uma grande parte emigrou para os Estados Unidos, o país que criara e fora ajudado a criar, por muitos deles, o modernismo, passando a ser o epicentro da arte moderna, emancipando-se e libertando-se, por um lado, e assimilando, por outro, uma significativa herança da arte europeia do século XX. Entre os que emigraram estavam Gropius, Albers, Ludwig Mies van der Rohe, Moholy-Nagy, Feininger, Marcal Breuer e Piet Mondrian.  

 

06.06.2017
Joaquim Miguel De Morgado Patrício