AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO
XIII - COMO UM GRITO DE LIBERDADE DE UMA MARAVILHOSA IMPERFEIÇÃO E INSATISFAÇÃO…
Fixar limites éticos universais a manifestações e práticas artísticas, obrigaria à criação de uma norma universal e isso resulta, e tem resultado, em atos de censura, funcionalizando e impossibilitando a arte, criação e manifestações artísticas. Sabemos onde começam tais imposições, mas desconhecemos onde acabam.
As artes e as suas manifestações artísticas e culturais em geral, não necessitam de uma justificação, a não ser o desejo do artista, o contexto social que o motiva, o sentido da obra e o seu impacto. Se toda a obra de arte desencadeia efeitos e tem de tolerá-los, também é verdade que só existe um limite para a arte, o da boa arte, que é o da absoluta necessidade da obra e não outro, valendo tudo o que é necessário, e não tudo, o que se expressa numa sublime neutralidade.
A arte, criação e manifestações artísticas e culturais demoraram séculos a libertar-se da moral, da religião, da estética, a não serem concebidas como funcionalizadas ao funcionamento de qualquer Estado ou poder, libertando-se de interferências externas, valendo por si, não podendo ser usadas como meios para atingir determinados fins ideológicos ou outros.
Nesta perspetiva, são conceitos abertos e dinâmicos, de evolução contínua e em permanente expansão, mesmo se algo imprecisos e indeterminados, desaconselhando tal polissemia a evitar-se elaborações jurídicas deterministas positivamente consagradas em termos de direito.
São como um grito de liberdade, como o espaço ou laboratório da liberdade onde se experimenta, em permanente experimentação, o que não tem limites nem precisa de justificação.
Para quem entenda que toda a arte é uma religião, um meio ou expressão de emoções e de estados mentais tão sagrados e transcendentes como qualquer um que os humanos sejam capazes de experienciar, a arte, nesta conceção, é a única religião não dogmática, dado sermos convidados a sentir uma emoção e não a concordar com uma teoria ou dogmas.
Esta permanente insatisfação não o é de infelicidade, no sentido que o homem é sempre infeliz porque é eternamente insatisfeito, no seguimento do pessimismo de Schopenhauer. Antes sim, uma maravilhosa insatisfação e imperfeição de formulação de porquês geradores de outros porquês.
Como um grito de liberdade de uma maravilhosa imperfeição e insatisfação...
20.06.2017
Joaquim Miguel De Morgado Patrício