LONDON LETTERS
The return of the great state, 2017
Os investigadores interrogam-se sobre como interpretar os efeitos da globalização no tecido social que vota o Brexit no culminar de uma década de severa crise financeira. É o fim do liberalismo?
Está o conservadorismo social em marcha? Os resultados do 2017 British Survey Attitudes revelam as recentes macrotendências políticas no reino, esculpindo a recusa do austeritarismo e da tolerância quanto à fuga fiscal, a desintonia em torno da emigração e a exigência de um estado mais protetor. Dado interessante é que uma maioria de 48% está disponível para pagar altos impostos, a fim de alavancar uma justa distribuição da riqueza e financiar maior investimento público nas áreas da saúde, educação e segurança social. — Chérie. Autres temps, autres mœurs. A guerra civil no Labour Party regressa em força após a trégua eleitoral. Entre a murmuração de uma purga dos moderados, RH Jeremy Corbyn despede sumariamente três dos Shadow Cabinet Members por desobediência em voto favorável à manutenção do UK no mercado comum. — Hmm. A chain is only as strong as its weakest link. North Korea testa com sucesso um míssil intercontinental, capaz de atingir as costas do Alaska. O French President Emmanuel Macron convida o POUS Donald J Trump para as comemorações do Bastille Day, quando o seu governo de dias perde quatro ministros no altar da moralização da república. Madame Simone Weil parte aos 90 anos, testando uma notável história de coragem e de causas.
Light clouds at Central London. A atmosfera política em Westminster parece estabilizar sob os chuviscos refrescantes do veraneio, mas ainda reverberam as ondas de choque geradas no incêndio da Grenfell Tower ― entre o apoio às vítimas e os primeiros passos do inquérito oficial à tragédia. A Prime Minister RH Theresa May passa tranquilamente os primeiros testes ao poder do seu segundo governo, um ano depois do euroreferendo, da resignação de RH David Cameron do No. 10 e da entrada em Downing Street. Nas votações da House of Commons em torno do programa legislativo, enunciado no Queen’s Speech, apresenta confortável maioria de 15 votos, mais ampla, portanto, que os dez acordados com os unionistas irlandeses do DUP. Curiosa é ainda a fixação do eleitorado captada nas sondagens conduzidas após o desastre eleitoral de June 8 e as sequentes demissões nas lideranças partidárias, do imediato afastamento do MEP Paul Nuttall no Ukip ao ulterior abandono do MP Tim Farron nos Liberal Democrats. Com o já habitual ruído mediático a propósito ou a pretexto do Brexit divide no seio do Cabinet, eis reiterada confirmação em três sucessivos retratos à opinião pública do colapso dos pequenos partidos a par do crescendo do Labour Party. Com RH Jeremy Corbyn em alta de popularidade, contrastando com a inimitigável oposição no seio da respetiva bancada parlamentar, os trabalhistas recolhem entre 44 a 46% das preferências contra 39-41% dos Tories (face a 6-7% dos Lib Dems e 2-3% dos Ukippers).
A descolagem do Lab ancora-se nos jovens eleitores e relembra as dificuldades demográficas observadas por RH Margaret Thatcher no balanço da vitória na 1979 General Election (então com uma maioria de 43 MPs). Neste state of affairs, porém, os ministros do Mayism dedicam-se a esgrimir em público as red lines traçadas pela PM no eurodiscurso de Lancaster House (“no deal is better than a bad deal”) em paralelo com a necessidade de esquecer o défice & a dívida e doar nova prioridade a aumentos salariais no funcionalismo e a propinas gratuitas no ensino superior. Por outras palavras, e a fim de aplacar o surfar da vaga popular por Red Jezza, debate-se por cá o fim próximo das políticas austeritárias. Daí a interessante moldura do euroceticismo que à querela dá o Brit Survey Attitudes, apresentado em Westminster pelo National Centre for Social Research. Sob o título "Britain wants less nanny state, more attentive parents," o 34th NatCen Report revela "a kind-hearted but not soft-hearted country" enquanto examina o atual posicionamento cívico em torno de grandes temas como a erosão fiscal e a fraude nos benefícios sociais, a emigração massiva, o papel do governo, as liberdades e as moralidades públicas, desta feita auscultados na senda da agendada saída do UK da European Union. A síntese que soa na Atlee Suite de Portcullis House é claríssima: “Britain wants the state to open its wallet, keep a watchful eye to keep us safe, but let us live our private lives how we wish.”
Mas a quinzena está fortemente marcada pelos 2017 Tennis Championships. Wimbledon is back, com o wonderful sport a somar no encanto das cercanias. As atenções e as aspirações centram-se na defesa do título por Sir Andy Murray, em pleno Central Court, contando o escocês com fervor unânime do reino unido. No primeiro dia dos jogos no sudoeste londrino, Andy leva a audiência ao rubro ao vencer Mr Alexander Bublik em straight sets com convincente trio 6-1, 6-4, 6-2. Seguem-se mais difíceis oponentes e é de esperar renhida disputa quer pelo Open Grand Slam, quer também pelo pódio mundial entre o fantástico quarteto que compõe com Novak Djokovic, Roger Federer e Rafael Nadal. — Well. By turns fervent and witty, so Master Will presents us with the subtleties of the old game in Henry V, at the first lights of Agincourt, when the king receives a odd gift of tennis balls from the hands of the French Ambassador: — “We are glad the Dauphin is so pleasant with us; / His present … we thank you for: / When we have match’d our rackets to these balls. / We will, in France, by God’s grace, play a set / Shall strike his father’s crown into the hazard. / Tell him, he hath made a match with such a wrangler / That all the courts of France will be disturb’d / With chases."
St James, 3th July 2017
Very sincerely yours,
V.