LONDON LETTERS
Necessary does not happen, 2017-2021
Porfiam, insistem e persistem. A persuasão não pára. Susto aqui, aviso acolá, advertência além. RH Tony Blair declara que "[is] absolutely necessary that Brexit does not happen." O ex Prime Minister tem direito a devido eco mediático e a réplica do seu antigo spin doctor no No. 10.
Sempre caloroso, Mr Alastair Campbell diz saber, “in my heart, that Brexit can be stopped”. Na Prospect é já o Professor AC Grayling quem remata, dizendo que “Brexit is dying.” — Chérie. À cœur vaillant rien d'impossible. HM Government prossegue, em Brussels, as negociações da saída do UK da European Union. A House of Commons agenda o debate da ‘Great Repeal Bill’ para o outono. — Hmm. Boys will be boys. Em reino polarizado comemora a Royal House of Windsor o seu primeiro centenário. Os Young Royals iniciam uma digressão continental em Poland. A Trump Saga avança em Capitol Hill, com inquirições familiares na Russian Connection. O French President Emmanuel Macron desentende-se com as esferas militares depois da visita do American Friend e da parada do Bastille Day, mas recupera com foto astronáutica nas revistas de charme. Os Lampedusians despedem o Mayor e a sua política de portas abertas pelo voto.
Sun and showers at Central London.
Entre caseiras aventuras informáticas e very sad news saídas do torneio em Wimbledon, eis que por cá irrompe nova, espetacular e prometedora série na praça mediática. Como qualificar a narrativa? Tudo se passa no círculo das celebridades e em casa aristocrata. Ora, a qualidade do guião é tal, que, momentaneamente, logra obscurecer no debate nacional a quarta vitória de Mr Chris Fromme no Tour de France e o 19.º título de Mr Roger Fedrer no Central Court ou até a chegada do épico Dunkirk às salas de cinema. Mesmo as lutas tribais de Westminster perdem luz. Também os cortes na saúde ou segurança social sossobram no altar da popularidade. Na town talk chamam-lhe o BBC Mon£y Show. Envolve dinheiro e poder, além da paga de licença sob pena de cadeia. Em plena era austeritária, com fartos tributos e soldos congelados, a estação pública remunera apresentadores & co com milhões. Pior. No topo das best-paid stars surgem rostos de programas desportivos, entre carros e futebol, com jornalistas, guionistas, produtores e, sobretudo, as mulheres que fazem igual trabalho, por vezes lado-a-lado no êcrã, a muitos cifrões de distância. A disciplina orçamental não é para todos, de todo em todo.
Há 100 anos atrás, com mão de mestre, é o King George V quem surpreende a opinião pública. Confrontado com a febre patriótica e o custo humano da guerra continental contra o primo Kaiser, em 1917 decide o avô da Queen Elizabeth II abdicar do apelido teutónico. A Royal Proclamation descontinua o uso de “all German titles and dignities” enquanto anuncia que os residentes no palácio serão doravante "styled and known as the House and Family of Windsor." O British Royal Blood tem trajetos admiráveis. Os últimos ingleses são os Tudor de 600. As raízes alemãs da atual família real recuam à House of Hanover, a qual sucede aos escoceses Stuart. Herdando o cetro, sem herdeiros, da Queen Anne of Great Britain & Ireland, cabe ao primo teutão Georg Ludwig naturalizar-se como George I. Sucedem-se quatro reis e a Queen Victoria, casada com o bávaro Prince Albert. O primogénito Edward VII assume o sobrenome régio da casa ducal do pai, Saxe-Coburg Gotha, abandonado depois pelo seu filho. Muitos o dizem como vencedor da I WW e salvador da monarquia. Se a dinastia formalmente dura sete anos, resta agora saber da perenidade secular dos Windsor. Já contam com três reis e uma rainha, simplesmente a jóia da linhagem.
Com o Palace of Westminster a cessar a atividade parlamentar e os MP’s de partida para férias, notas finais da cultura londrina. O que vem por aí, lá para October, a tal recomenda. Ocupado Whitehall nas rondas mensais da Brexit, faço ainda votos de a common long cool break. Assim, após o excitante triénio de referendos e eleições pelo veraneio, destaque agora para um tipo mais tranquilo de power play. No Theatre Royal Haymarket abre Queen Anne, pela Royal Shakespeare Company. A peça esteve em cena no Swan de Stratford-upon-Avon e desce ao palco de West End sob aplauso plural dos críticos. O espetáculo foca precisamente o reinado da last Stuart monarch. Da autoria de Mrs Helen Edmundson e dirigida por Mrs Natalie Abrahami, a história tem como protagonistas a rainha escocesa e a sua confidente: Mrs Emma Cunniffe (de Great Expectations) e Mrs Romola Garai (de Suffragette ou The Hour). Os ingredientes estão lá todos, para absorver a audiência em vésperas das outoniças conferências partidárias. Mostra acontecimentos históricos como a coroação, a união real de England e Scotland ou a emergência do bipartidarismo no reino. À conjuntura somam as intrigas palacianas e o poder por detrás do trono, a influente Duchess Sarah of Marlborough. — Well, well. Keep in mind how Master Will dissects the moral authority that comes with the sceptre in his Macbeth: — “Could trammel up the consequence, and catch / With his surcease success: that but this blow / Might be the be-all and the end-all, here, / But here upon this bank and shoal of time, | We’d jump the life to come. But in these cases / We still have judgement here, that we but teach / Bloody instructions which, being taught, return / To plague th’inventor."
St James, 24th July 2017
Very sincerely yours,
V.