Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) foi no seu tempo e na história da pintura portuguesa uma referência de primeira grandeza. Por isso, era muito procurado para que fizesse os retratos das mais diversas personalidades. E chegaram até nós obras-primas ligadas aos maiores vultos da cultura e da vida nacional. Enquanto seu irmão Rafael imortalizou no «Album das Glórias» os nossos maiores, Columbano fez retratos naturalistas que ombreiam com os de maior qualidade na pintura europeia. Naturalmente que tinha critério e muito selecionava os seus eleitos. Se nos lembrarmos da Galeria de Presidentes da República, fácil é de verificar que são de Columbano os retratos mais intensamente marcantes. Conta-se que havia o pedido especialmente insistente de um tal comendador Pinto, novo-rico endinheirado, brasileiro de torna-viagem, ostentando muitos ouros e sinais exteriores de opulência… E o certo é que o tal senhor não desistiu de conseguir a resposta positiva do pintor. Um dia o comendador veio a Lisboa e dirigiu-se sem anúncio prévio ao ateliê de Columbano, a S. Francisco, no Chiado. O artista quando soube da presença do estranho ficou incomodado com a impertinência, mas acedeu a recebê-lo, dizendo ter muito pouco tempo. Entrou o Comendador e Columbano recebeu-o de bata e com os pincéis na mão… Pinto começou a falar da grande admiração e do interesse em ser pintado pelo grande mestre. Mas este atalhou a conversa e perguntou: - Como disse Vossa Excelência que se chamava? – Pinto, comendador Pinto – redarguiu o interlocutor. – Ah! Pinto? … Não pinto!... E o assunto ficou por ali.
Enquanto a partilha de mundo é feita com muito menos caridade do que a feita por Deus segundo a balada de Schiller, alega-se que a humanização atinge glórias no nosso tempo. Falo daquela que por aí veem passar arrastada, a trote ou a galope ou em pose, consoante lhe propõe a selfie (photo you take of yourself com muita alegria e muita joy and others you may know) e desconhecendo a idade do tempo, a impaciência da fome e seus géneros.
As notícias negras de tudo o que aconteceu no dia anterior ou no exato momento, chegam-nos com o timbre de uma gutural água furtada, que pinga comoção e objetividade, em dose q.b. para não atrapalhar os poetas e comentadores de serviço e de função. E aí está o exclusivo que se quer oferecer a todos. O exclusivo sem procedência, mas proprietário de uma escola temente aos dias, não vá um dia não acordar igual ao outro e nascer desalmada, uma guerra do tira-olhos que para si não diligencie que os bonitos sempre dono têm na contenda disto tudo.
Enfim, no meiinho das mãos, no very deepinside da esmagadora maioria e de certas minorias, cada um de per si, como dizia um colega meu quando nada entendia do que lhe perguntavam, encontra uma petição de mercê e se não puder ser tanto, ao menos uma assinatura devota de gratidões, nesta crise entre a escola velha e a escola nova, quando os conteúdos de ambas se abraçam pelos ermos sucessos que festejam de si, Helas! num desgraciadamente promissor.
Aqui chegados, les gens, também conhecidos pelos hi people! continuam a partilhar mundo e nele o triunfo dos porcos, heróis de sentimentais melenas e gestos inspirados – o que não é muito fácil de realizar, cantando.
Foi-se embora hoje de entre nós, impaciente de encontrar sua mãe lá num céu exclusivo onde a colocara desde sempre.
Mesmo mendigo nas ruas de Lisboa, convocou a vida e nela se sinistrou: «deixa a vida me levar que ela leva eu», cantarolava. E sempre dizia «vou morrer devagar, falamos mais tarde».
A palavra “solidão” franzia-lhe até as pupilas dos olhos num querer dizer “agora já sei”, e ligava como podia os encontros do tempo. Lúcio Dantas, de nome Perivaldo o que agarrava o esférico como quem doma o mistério. Perivaldo que tanto sofria com a solidão, deixou-nos sozinhos neste atoleiro.
PERIVALDO
A solidão é vagabunda no meu peito
E recorda-me de agulhão a vida feliz
Com minha mãe
Única visita na minha saudade
A porreta dona Antonieta
Plumazinha de tanta força
Que me ensinou que quando a coisa me assustasse
Enfrentar o fim
Não seria realidade que pudesse sequer atrasar
Antes jogar, driblar e levantar-me mesmo sem saber