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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

 

O credo é sempre o mesmo: a gente pergunta-se a si próprios onde estão os maus? Todos juntos? Ou é só um que se alarga de quando em vez? E os bons? Os bons?, somos nós. Ora, ora. Fomos sufragados por nós e estamos em maioria, e que se registe esse facto uma e outra vez. Não há dúvida, os bons somos nós. E que nenhuma serena, astuta e modorra ideia coloque a dúvida de que eles são os maus.

 

Nós temos uma estatística autorizada. Nós, os bons. É uma estatística mimética que nos confere o direito de nunca entendermos os maus, pois somos tão acima, que, nem em esforço desceríamos tão fundo para lhes salvar alguma verdade. E a ser verdade, a deles seria sempre fingida verdade.

 

Às vezes suamos muito para que eles sejam os maus, é certo, mas vale a pena. Calafetamos dúvidas nesse trabalho e fazemos provisões de mantimentos que nos mantenham a vida. Aos sábados reunimos o bando dos bons e em credo cruxificamos os maus e o mundo fica mais limpo para nós.

 

Desde as praias do Algarve até ao Minho cotejando litoral e interior, os bons e os maus solicitam fronteiras e são contra os estrangeiros. Existem pontos de encontro. Afinal.

 

E que ninguém conte com o dia de amanhã! A tolice é um trabalho sobremaneira triste e por demais sabido de todos. E nós, os bons, numa luminosa inteligência não veremos o dia em que acabaremos por cair todos, mas com a certeza de impedir a tempo que os maus nos prestem homenagem.

 

Disto os noticiários voltaram há pouco a fazer eco.

 

Teresa Bracinha Vieira

Agosto 2017

Envelhecer é uma arte

 

As relações de sexo podem ser vividas enquanto somos novos, mas os encontros de amor exigem maturidade, quase ausência de desejo. Gosto de estar aqui contigo, fazer festas no teu corpo já cheio de tempo, apetece-me beijar-te porque estou a beijar a tua história pessoal, aquilo que viveste, as tuas alegrias e as tuas dores. É nestas coisas que sinto que envelhecer é uma arte e que o amor só se vive plenamente quando o desejo já não comanda o nosso encontro mas sim aquilo que somos e a qualidade da nossa relação. Quando casei tu eras nova, mas nunca consegui estar contigo como estou agora.

 

(…) Volto à mesma. Temos que mudar a vida e isso não se consegue com revoluções. Consegue-se por outra forma de olharmos uns para os outros.

 

António Alçada Baptista, in “O Tecido do outono” 1999, ed. Presença 

 

Teresa Bracinha Vieira