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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

As feras do século XX (parte II). 

 

'Only the series of colors on the canvas with all their power and vibrancy could, in combination with each other render the chromatic feeling of that landscape.', M. Vlaminck

 

Foi a partir do encontro com Derain que em 1900, Maurice Vlaminck (1876-1958) resolveu abandonar o ciclismo, a mecânica e a música. Pinta violentamente. A cor estala com vivacidade e sem disciplina nas suas pinturas. O encontro com a obra de Van Gogh foi o acontecimento decisivo. Emprega a cor no seu estado puro, dinamizando a técnica daquele pintor. É transportado pelo instinto, expressando o mundo livre, cheio de vida. A partir de 1908, experimenta algumas composições cubistas. Mais tarde explora uma outra técnica com paisagens dramatizadas pelos contrastes de sombra e luz.

 

Ora, a obra de Georges Rouault (1871-1958) é fruto de uma experiência dolorosa. Foi atraído pelos tons luminosos e aprendeu a captar a realidade por instinto. Rouault inspira-se em Rembrandt. Dedica-se a pintar palhaços, prostitutas e acrobatas. Procura denunciar a realidade repugnante, representando também cenas religiosas. Curioso é saber que, também expõe em 1905 no Salão de Outono, juntamente com os fauvistas, tendo em conta que a sua obra está mais próxima do expressionismo.

 

O encontro com Dufy e Friesz levou Georges Braque (1882-1963) a interessar-se pela pintura fauvista. Inspira-se no trabalho de Carot e Poussin, dedicando-se no início da sua carreira ao impressionismo. Braque usa a cor pura. A partir da exposição de Cézanne, em 1907, dá uma nova direção à sua obra. Ao conhecer Picasso, desenvolve a técnica cubista. 

 

No atelier de Gustave Moreau, ao lado de muitos outros fauves, Albert Marquet (1875-1947) descobre a utilização da cor pura. Em 1907, organiza a sua primeira exposição. Aqui revela-se um pintor do ar livre, atraído pelas paisagens à beira-mar. O seu desenho é rápido, breve e preciso. Esforça-se por atenuar as cores muito fortes, trazendo uma ordem ao quadro através dos contornos fixos. Deixou o fauvismo para se dedicar a um impressionismo calma e simplificado.

 

Othon Friesz (1879-1949) ao aproximar-se de Matisse, em 1904, dirige-se para o estudo da cor. A sua evolução para o fauvismo foi acelerada por várias viagens. Numa viagem a Munique com Dufy, em 1909, executa vistas muito estruturadas que indicavam o abandono da cor no seu estado mais puro. Nunca, na verdade procurou os contrastes violentos. 

 

No Havre, no atelier do pintor Bonnat, Raoul Dufy (1877-1953), aprende o gosto pela pintura. Nas paisagens parisienses e na representação de praias emprega as cores primárias, sob influência de Matisse. Mas ao abandonar o realismo impressionista comanda-o a imaginação. Em 1906, com Friesz aumenta a intensidade da cor, para desligar-se da objetividade. É a ideia de criar um universo de formas que não se vêm, que representa segundo uma expressão reduzida. Foi a obra de Cézanne, que em 1907, o direcionou para o cubismo. Acabará por se dedicar ao expressionismo alemão. 

 

Esta breve viagem pela vida dos pintores mais marcantes do fauvismo, leva-nos a concluir que para a maioria, o movimento foi transitório. Unia-os a vontade de distanciar a realidade objetiva da representação. Por tal vontade, muitos transformaram-se em cubistas, onde a independência da representação é notória. É importante salientar a obra de Matisse pois foi a que se mostrou mais fiel à corrente por ele iniciada.

 

Ana Ruepp