Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

 

Em setembro podem surgir maios em bouquet de rosas que adocicam o chão onde poisam as folhas caídas que já criam alterações sensíveis nos sentimentos e nos costumes dos olhos.

 

Hoje mesmo, um trovador de Veneza, sentado à margem das árvores que já cumprem os ritos da estação que chegará, puxou de sua lira e dela um hino de louvor de abrigo ao mundo, abriu os braços a quem passava.

 

E por entre quem passava podia-se escutar Steiner a dizer

 

«(…) noventa por cento dos seres humanos não contribuem nada para o avanço do conhecimento, para as conquistas estéticas ou científicas e para o legado das coisas extraordinárias, de que a nossa civilização depende.»

 

E setembro acrescenta

 

«Existe uma espécie de lepra, num mundo que permite a coexistência de crianças esfomeadas mental e fisicamente e de outras de ambientes super protegidos e rodeados de livros e vestimentas da bourgeoisie a fim de que futuramente possam parir um mundo igual em conteúdo de lepras e no eclodir de catástrofes.»

 

Desconheço toda a força do bouquet dos maios, digo, e também a de setembro no enfrentar a insignificante e poderosa escala dos forjadores da infelicidade dos tempos.

 

Os mexericos por eles usados para diagnosticarem se a dose dos seus processos resulta, são o único meio de, como ratos que são, continuarem a viver uma vida de terceira ou 14º ordem que esqueça, inclusive, aqueles que padecem da fragilidade física da doença, da idade ou da ausência de ternura e de amor de desempenho superior.

 

E é setembro! E mais outra vez o mal é a ausência do bem ou a ausência de tudo. Outono e Inverno mesclam-se de mãos para protegerem o bouquet dos maios. O trovador das estações dirige-se ao Verão numa filiação de esperança, mas sabendo que o credo continua a caracterizar a circunstância humana. Sabendo que o credo continua a perguntar-se à beira-mar. E a resposta.

 

Teresa Bracinha Vieira

Setembro 2017

"TAMBÉM ISSO PASSARÁ": escultura de Nuno Godinho

 

Tenho muito gosto em trazer ao Centro Nacional de Cultura a escultura de Nuno Godinho num movimento - quase metamorfose - de rara expressão e beleza da realidade.

 

Recordo o dia em que o Nuno me deu aos olhos esta decifração, ou, andamento de vida, por onde tudo passa. No meu sentir, vi um dizer do quanto o efémero se queda convincente e cunhado na nossa memória, se o mesmo for cúmplice da arte, verdadeiro impulso realista de um poema feito caminho de expressão de onde se parte para o encontro de nós.

 

Convido a que aguardemos pela janela do ver do Nuno Godinho, o quanto uma escultura é maturidade e privilégio, inquietude e tranquilidade, verdade e reconciliação com a força que sempre chega quando o mundo é visto pelo angulo de o tentar captar.

 

Teresa Bracinha Vieira

Setembro de 2017