Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

The Lady, The Lyon and, The Butler, 2017

 

O discurso da Prime Minister RH Theresa May visa tocar sensível corda na mente coletiva. Renewing the British dream é o mote, porém, para desastrada encenação na Tory Party Conference.

A voz da senhora não resiste a uma constipação mal curada, cerca de 30 entrevistas em três dias e um discurso de 15 páginas, interrompido pela entrega de um boletim ‘P45’ e ainda um monumental ataque de tosse mais lenços mais água mais pastilhas. — Chérie! Il y a pas de rose sans épine. Em contratenor, com igual dose de ovações, o Foreign Secretary RH Boris Johnson MP faz uma poderosa intervenção de verbo churchiliano. Let that lyon roar é o eco que extravasa as paredes de Manchester e se espraia pelas veias dos ilhéus. — Well. A carpenter is known by his chips. Algures na ilha, o ex cabecilha dos Lib Dems Mr Nick Clegg apela à filiação no Labour Party para obviar à Brexit. Berlin e Paris alinham recusa aos termos do ‘Florence Speech’ para o período de transição da saída do UK da European Union. London apresta o… No deal. O parlamento da Catalonia debate amanhã a proclamação da independência.  O shining British Mr Kazuo Ishiguro vence o 2017 Nobel Prize in Literature, com romagens da memória como The Remains Of The day e esse mordomo de nome Stevens.

 

 

Vibrante é a comunicação do Brexiter mor RH Boris Johnson, “a lucky general” em campanha. Notem este finale do MP de Uxbridge ao perpetivar a retirada do reino do superestado europeu: “There are people say we can’t do it. / We say we can. / We can win the future because we are the party that believes in this country and we believe in the potential of the British people. [..] We are not the lion. / We do not claim to be the lion. / That role is played by the people of this country. But it is up to us now – in the traditional non-threatening, genial and self-deprecating way of the British – to let that lion roar.” A plateia é catapultada das cadeiras. Na Conservative Home, polvilhada de rumores de eventual candidatura do anterior Mayor of London à sucessão nos Tories e em Downing Street, Mr Paul Goodman é lapidar quanto ao X Factor: “[T]he week will have reminded them of an inconvenient truth – namely, that the Foreign Secretary stands out from his Cabinet colleagues in being able to make a mass Tory appeal with pizzazz, wit and gusto.”Still dry days at Great London. A petit histoire, para começar. Há muitos anos atrás, ao assistir a ilustre ópera num teatro português, soa um inesquecido comentário nas filas em volta no momento mais dramático do musical: ― “Morreu muito bem.” Efetivamente, após uma longa e trinada ária, a heroína jazia em palco. O episódio regressa, com um sorriso, quando escuto nas ondas hertzianas o discurso de Mrs May no último dia da Conservative Conference. O fantástico James O’ B cedo informa na LBC que caíra o “f” da mensagem atrás da oradora ― Building a country that works for everyone. Segue-se uma opereta trágico cómica. A meio da intervenção, a Husky voice da Premier fenece. A Lady tosse, regressa às palavras, tosse, a voz enfraquece, tosse, o som esvai-se. As interrupções são pontuadas pelo bom humor da PM. A sala ergue-se em apoio. A senhora retoma a prédica. É socorrida aqui e além, sendo até brindada com uma carta de desemprego por infeliz prankster. Resultado do evento? Os Mayists felicitam-na pelo figting spirit. Os críticos fustigam-na com a metáfora viva de quem have nothing to say. O imparcial Mr Tom Peck conclui que “not for anything like the first time in recent years, the satirist is reduced to transcriber.”

 

Em linha com o estilo de Sir Winston Churchill, aplauso e aclamação vai ainda para outro talento das imaginary homelands: Mr Kazuo Ishiguro. Muitos terão talvez presente o trabalho do 2017 Nobel Prize in Literature por via do filme The Remains of the Day, do Director James Ivory, com a dupla Mr Anthony Hopkins e Mrs Emma Thompson. As suas palavras soarão até revestidas pelo inconfundível timbre de Mr Stevens, the imperfectly perfect butler, ao exclamar “it's not my place to have an opinion” quando este rememora Darlington Hall ou celebra “the calmness of beauty, its sense of restraint” ao viajar por England. Pintam KI como um exótico híbrido de Mr Franz Kafka e Miss Jane Austen; leio-o com cores próprias. E vero prémio entrega a Stockolm Academy ao literato quer do quintessential British manor house book, quer de An Artist of the Floating World, When We Were Orphans ou A Pale View of Hills.Well, well. A fine reading for sure after those tricky lines of Master Will in Troilus and Cressida: — “The ample proposition that hope makes / In all designs begun on earth below / Fails in the promis'd largeness: checks and disasters / Grow in the veins of actions highest rear'd."

 

St James, 9th October 2017

Very sincerely yours,

V.