AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO
XXVI - ARTE POP - I
MASSIFICAÇÃO, CONSUMISMO E POP ART
O progresso e a prosperidade do pós-guerra trouxeram consigo a massificação. A produção em larga escala, o modelo estandardizado e o facilitismo de acesso ao crédito estimularam e universalizaram o consumismo. Nascia o consumo de massas e a sociedade de consumo. Todo o desejo parecia alcançável. Imprensa, rádio, cinema, televisão e publicidade encarregavam-se de nutrir esses anseios e ilusões.
Tudo tende a reduzir-se a um modelo uniforme: pessoas e comportamentos pareciam igualar-se gradualmente, o mesmo sucedendo com comportamentos estandardizados na moda, em especial na feminina, e nas cidades, assemelhando-se umas às outras, em construção, urbanização e população.
A emancipação da mulher, as alterações da estrutura familiar e a queda de influência da igreja fizeram evoluir os costumes, gerando novos comportamentos demográficos e sexuais, havendo uma aceleração da mobilidade espacial e do ritmo de vida.
A generalização e universalização do ensino foi um meio excelente para a disseminação de ideias e valores vigentes, em que os media vão ter uma importância decisiva, tornando-se acessíveis ao grande público, em concordância com ele.
Como fuga às dificuldades e problemas quotidianos, as pessoas procuram todos os meios de evasão possíveis, desde a leitura de romances cor-de-rosa, folhetins, obras mais leves, banda desenhada, revistas, jornais sensacionalistas, anúncios publicitários. A que acresce o cinema, com o culto de novos desejos e das estrelas cinematográficas, sem esquecer as radiofónicas e televisas, tentando nivelar, pelo menos em sonhos, todos os espetadores. Além de grandes entretenimentos coletivos, assentes na popularidade da música ligeira e no desporto. Que coexistem com outros consumíveis duma sociedade de consumo: automóveis, estradas, postos de combustível, alimentos enlatados, aspiradores, frigoríficos, etc. Todos exemplos de manifestações da cultura de massas.
Embora mais nos Estados Unidos da América do que na Europa, foi neste contexto que surgiu a arte pop, uma abreviação do termo inglês que designa arte popular. Foi o crítico de arte inglês L. Alloway o primeiro a utilizá-lo.
Trata-se de um movimento caraterizado por um estilo indissociavelmente associado aos ritmos e modos de vida das urbes modernas, inspirando-se nas imagens de marca caraterísticas das sociedades de massas, na sua linguagem comercial e pressão que exercem sobre os seus destinatários e consumidores.
Os artistas pop aceitam o real, realçando-o. O processo através do qual transferem os objetos da vida real para o campo artístico, não se funda numa tomada de posição contestatária ou crítica, mas sim de aceitação, de confirmação, de reconhecimento. Afasta-se a exposição da complexidade interior do artista em benefício da representação e reprodução do quotidiano tido como notório e real, apenas confirmado e interpretado numa repetição mais ou menos verídica.
Expressões como vida urbana, consumo de massas, publicidade, império das imagens, culto do visual, lucro, sucesso e star-system, são emblemáticas e de grande importância na arte pop.
Conscientes de que imagens estereotipadas de sonho do bem-estar geram habituação, tornando os próprios indivíduos vítimas de objetos de consumo, com progressiva incapacidade de discernimento, os artistas pop foram tidos, para muitos, como cúmplices, ao conformarem-se de um modo acrítico e impessoal. Quer através de banda desenhada, desenho comercial, anúncios e cartazes publicitários, capas de discos, fotografia, néons, serigrafia, spray.
Ainda que a palavra “pop” abranja um amplo leque de significados, é duvidoso que seja a de uso mais popular na linguagem comum, entre os termos usados para designar os movimentos artísticos do século XX. Foi-o, nomeadamente, pela música pop (e suas vedetas), mais conhecida que a arte pop e seus criadores. Hoje, em minha opinião, é o termo “surreal”, cada vez mais adequado e presente na gíria de todos os grupos, com realce nas gerações jovens.
10.10.2017
Joaquim Miguel De Morgado Patrício