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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

Their Finest Hour, 1940-2018

 

New beginnings. 2018 abre com abençoado regresso do olhar total, após brumosas intermitências na humana visão. O episódio recorda-me páginas do diário de Mr Samuel Pepys. Afinal, nunca se sabe o quanto algo ou alguém são essenciais até ao dia da ausência. — Chérie! Les événements présentent toujours des signes avant-coureurs.

O fogo regressa aos céus de London, com incêndio feroz em Waterloo Road. Também a Trump Tower fumega em New York, enquanto o US President Donald J Trump arde em lume pouco brando na fogueira mediática global. — Umm. Dog does not eat dog. Windsor prepara o state theater para a boda do Prince Harry of Wales com Ms Meghan Markle. Além Channel soam as sirenes de alarme orçamental. O European Commission President revela, em Brussels, que a Brexit abrirá “a massive financial hole of around £11bn.” Monsieur Jean Claude Juncker nada diz sobre o repartir da fatura pelos remanescentes estados membros. Já Berlin ultima o governo de coligação CDU-SPD, três meses depois dos eleitores retirarem a maioria à Kanzlerin Frau Angela Merkel. O filme Darkest Hour chega às salas britânicas, na esteira do Golden Globe 2018 para Mr Gary Oldman como best actor pelo papel de Mr Winston Churchill. A cerimónia nos USA serve também para testar a eventual candidatura presidencial de… Mrs Oprah Winfrey.

 

Freezing temperature at London. Apagadas as luzes da Christmas Season e com as camellias, magnolias & rhododendros prometendo florir lá para February, o ano arranca agitado em Westminster Village. Está em curso a Cabinet Reshuffle. Os jornalistas vão debitando os ups, ins & outs. Nada dramático nos primeiros movimentos. Em matéria de novidades, digamos que vigora o método Lampedusa: it all sounds pretty much the same. Ainda assim, a mexida dista de comum windows dressing. A Prime Minister Theresa May não toca nos top jobs, distribuídos por Brexiters e Remainers, mas quer aproveitar a oportunidade para premiar talentos e lealdades nas Tory grass roots. Dois nomes destacam-se desde já no lote do minoritário May Govt 3: a manutenção do controverso RH Jeremy Hunt na pasta da saúde e a saída da popular RH Justine Greening na da educação. Temo as nomeações seguintes, neste persistente balancear das desavindas fações ― com a Brexit como pano de fundo.

 

Histórica remodelação governamental ocorre no reino em 1942. Mr Winston Churchill ocupa o No. 10 e Great Britain está em guerra vital com a Nazi Germany e seus aliados. O líder conservador ousa nomear ministros do Labour Party e cria o cargo de Deputy Prime Minister para o major domestic rival, Mr Clement Attlee. Se o gesto afirma a unidade nacional em encruzilhada bélica da soberania, custa a cadeira primoministerial ao estadista nas eleições gerais de 1945 ― às mãos dos trabalhistas que promove. Attlee chefia o 1st post-war Lab government. WSC entra para a história; regressa em 1951. O posto de Deputy Prime Minister por cá continua e é a causa mediata do presente corrupio em Whitehall. Mrs May desbaratou o número dois na… Pestminster Operation, RH Damien Green MP, contrariando este a boa estrela do cargo. O anterior Deputy PM foi o ora Sir Nick Clegg, na Cameron Coalition dos Tories com os Liberal Democrats (2010-15), o qual, mui orwellianamente, acaba de ganhar napoleónica entrada na House of Lords, após perder o lugar de Member of Parliament por via do voto dos comuns.

 

O facto é inescapável! Contrastante é a estatura do atual pessoal político com o dos vintage 40’s. Ontem como hoje, Britain enfrenta dilemas estratégicos ― como sejam, a II World War e a Brexit. E agora, como então, a história observa os decisores. Em matéria do que o próprio Churchill cognomina como “the gathering storm” para uma “unnecessary war,” os paralelismos começam a ser mais que os previdentes na appeasement road. O futuro dirá. Do passado ditam várias fontes. Os primeiros Downing Street days de Right Honourable Winston Leonard Spencer Churchill são vivamente retratados no filme Darkest Hour. A película narra a ascensão do MP de Oxfordshire ao topo do poder. Estamos dois anos antes do All-parties Govt para bater a suástica de Herr Adolph Hitler, numa tormentosa Spring, marcada pela resignação do PM RH Neville Chamberlain e a dramática retirada militar de Dunkirk, Esta é uma fita maior de Mr Joe Wright, baseada em guião e livro de Mr Anthony McCarten: How Churchill Brought England Back from the Brink (Harper, 2017). O aparelho de produção é o de Theory of Everything (2014) e merece igual percurso do aplauso entre Globes e Oscars. A interpretação de Mr Gary Oldman como WSC é simplesmente superior, sobretudo por bem corporizar alguns dos mais poderosos discursos churchillianos, do "I have nothing to offer but blood, toil, tears, and sweat" a "We shall never surrender," com o plus de um apurado make-up e da mais humana tela do estadista visionada no celuloide; aliás, em contraponto com firme Mrs Kristin Scott Thomas (Dame Clemmie Churchill). Já o clever script de Mr McCarten enriquece se for lido com o rigor histórico de um clássico de Mr John Lukacs, Five Days in London. May 1940 (Yale Nota Bene, 1999).

 

Mão amiga envia-me já um outro livrinho, que, por momentos, abala Washington e arredores: Fire and Fury. Inside the Trump White House, de Michael Wolff (Little Brown, 2018). São 327 páginas carpinteiradas por laureado colunista da Vanity Fair e do Guardian. É também o último episódio de ‘Mr Donald & His Critics.’ O leitor apanha o tom da diatribe no primeiro parágrafo:

“The reason to write this book could not be more obvious. With the inauguration of Donald Trump on January 20, 2017, the United States entered the eye of the most extraordinary political storm since at least Watergate.” Cedo surge a necessidade de atar a leitura com o Article 20 da US Constitution, cunhado no mítico ano de 1933, para dispor da posse e da substituição do POUS, nomeadamente “if the President elect shall have failed to qualify.” Confirmando o estilo peculiar do detentor dos códigos nucleares atlânticos, viperina pena monta o cenário da destituição presidencial por mental reasons. Atendendo à fila, a par da famous Oprah, sobrevém a dúvida sobre se os cenógrafos não deveriam antes aprofundar o perfil público do Vice President Mike Pence "the fallback guy” pincelado por Mr Wolff como “not dumb,” “a cipher, a smiling presence either resisting his own obvious power or unable to seize it.". — Well, well. Consider what wrote Master Will in that older canvas of political transgression called Macbeth: — “To beguile the time, / Look like the time. Bear welcome in your eye, / Your hand, your tongue. Look like th' innocent flower, / But be the serpent under ’t.."

 

St James, 8th January 2018

Very sincerely yours,

V.