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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

A arte como consciência afirmativa de vida.

 

‘There is no wealth but life. Life, including all its powers of love, of joy, and of admiration. That country is the richest which nourishes the greatest number of noble and happy human beings; that man is richest who, having perfected the functions of his own life to the utmost, has also the widest helpful influence, both personal, and by means of his possessions, over the lives of others.’, John Ruskin

 

A arte é, sem dúvida, uma atividade primeiramente humana – é inexplicável, imperfeita, incompleta, contraditória e paradoxal. O princípio da arte não se prende à recompensa que poderá trazer nem à utilidade que poderá responder. Não é uma mensagem moral, nem filosófica e nem deseja impôr uma nova ordem. A arte é uma necessidade natural / essencial, é uma consciência afirmativa de vida, que toma a forma da matéria na qual é criada.

 

‘When conscience is absent (conscience exists only in a few individuals), then ignorance becomes active and dictates the rules of life.’, Cecil Collins

 

Cecil Collins, no ensaio ‘The Vision of the Fool’, associa a figura do Tolo (Fool) ao Artista, ao Poeta e ao Santo. Para Collins, o Tolo é um Salvador, é símbolo de vida. É o representante máximo da integridade afirmativa da vida. O Tolo é a poética imaginação da vida, é tão inexplicável como a essência da vida o é. Esta vida poética, está presente em todo o ser humano desde o nascimento e desenvolve-se durante a infância mas acaba por desaparecer por imposição da mecanização abstracta da sociedade contemporânea e por exigência do homem inerte que adere a toda e qualquer ordem massificada.

 

‘O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.’, Fernando Pessoa In ‘Livro do Desassogo’

 

‘The highest reward for a man’s toil is not what he gets for it but what he becomes by it.’, John Ruskin

 

Collins afirma também que o Tolo é toda a criança da vida e não uma virtude abstracta. É a pureza de consciência capaz de uma sabedoria que refunda a ordem das coisas – é uma sabedoria separada de tudo o que diz respeito a ambição, poder, vaidade, hiperactividade e acumulação vã de conhecimento. O Tolo está interessado na vida e sobretudo em estar vivo. É uma atenção constante sobre a identidade e a individualidade humana. Não é o produto de uma realização meramente intelectual mas sim uma criação da cultura do coração, que consegue restaurar no homem a sua inocência original mas consciente. O Tolo é simultaneamente sabedoria e eterna inocência, alegria e sofrimento, magia e tristeza, beleza e estranheza.

 

'Knowledge has two extremes which meet; one is the pure natural ignorance of every man at birth, the other is the extreme reached by great minds who run through the whole range of human knowledge, only to find that they know nothing and come back to the same ignorance from which they set out, but it is a wise ignorance which knows itself.', Blaise Pascal In 'Human Happiness' 

Ana Ruepp