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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Se és fogo, como passas tão brando?

 

El oficio de Cupido, Los Siete Pecados Capitales, Las Siete Virtudes, Los amores de los dioses Cinco sentidos numa sumptuosa edição da TASCHEN, editora alemã cuja minucia da edição perfeita sempre nos surpreende e surpreenderá.

 

A recompilação das 143 magníficas gravuras dos princípios do séc. XVII que ilustram o amor em suas alegorias, os provérbios que envolvem a carga erótica latente, a mitologia, as breves frases de amor ardente que elucidam a cor da criatividade dos desenhos e o seu significado, encontram-se neste livro de rara e extraordinária qualidade e beleza.

 

Permite-nos esta obra viver e entender um mundo da era do Barroco, e, bem usa as figuras de linguagem para reforçar a tentativa de apreender a realidade por meio dos sentidos.

 

Nomeadamente despertam-nos pedaços soltos do poder do sentir

 

N’acusons point l’Amour mais notre ame indiscrete 

Ou 

Because I Have fettered myself

Perch’io stesso mi strinsi

 

Let us not accuse Cupid, but our own imprudent soul

 

A arte Barroca foi impactante, expressou as ideias e os sentimentos do artista do século XVII. Gerou encantamento e apelo visual e soube combinar realidades para expressar uma nova conceção de mundo.

 

O homem culto conhece o espanto que nos provoca a Editora TASCHEN, neste brio de publicação que não descuida a brilhante escolha de Carsten-Peter Warncke, autor nascido em Hamburg em 1947 e que estudou história de arte, arqueologia clássica e literatura, tendo-se doutorado em Hamburgo em 1975 e na Universidade de Gottingen e ser atualmente catedrático de história de arte; autor, aliás conhecido também pelos seus estudos sobre Pablo Picasso.

 

E porque o que farei na vida do meu pensar terá sempre um relacionar firme e fixo ao que pretendo exprimir, aqui recordo, terra e fogo, ar e agua na intersecção com a peça que sem estabilidade ou suporte que não a da alquimia do dizer, vi na Bastilha com Laure Mathis (Doreen Keir) e David Geselson (André Gorz), na peça “Doreen” em março de 2017.

 

 

Confessa um homem, à sua muito amada mulher, todo o seu imenso amor, em jeito de desculpa.

 

Não se fende a pedra filosofal, mas a sua invisível fratura consolidou-se na matéria-prima do coração e leva-o mesmo à corajosa decisão de ser.

 

Assim se rompeu a simetria e assim se volveu amor como ser-que-conhece o instante em que se perde e se reencontra, e, só depois se pode em rigor dizer que se conhece a distância e se compreende o ar que o separou respirando-o, respirando o amor que parecia consumido, mas que do longe nos vem, nos torna e tudo ousa. E assim o disse quase em segredo este homem à sua mulher de sempre. Esculpidos numa chama, ela no ouvir, ele no dizer, fez-se assim sentir a cor do carmim.

 

E baixinho, mas sólido, deste livro nos chega para que adormeçamos em paz

 

I have been fishing all night; I must dry my little net

 

E na gravura de oiro as mãos dele secam-lhe o corpo em certezas absolutas, certeiras e incansáveis, e os dois, no tal amor grande como o sono, afinal como o sono quando é gentil.

 

Teresa Bracinha Vieira