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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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SOUSA BASTOS, DRAMATURGO E HISTORIADOR DE TEATROS

 

Fazemos aqui referência ao recente livro “Sousa Bastos”, assim mesmo intitulado, da autoria de Paula Gomes Magalhães, na série de Biografias do Teatro Português ligadas ao Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa, à Imprensa Nacional-Casa da Moeda e também aos Teatros de Dona Maria II e São João: e desde já se refira o interesse desta parceria na edição e na série de biografias críticas.

 

Recorde-se que a coleção publicou já estudos e biografias sobre a Companhia Rey-Colaço Robles Monteiro, Alfredo Cortez, António Pedro, Emília das Neves, agora Sousa Bastos (ed. 2018) e anuncia próximos volumes dedicados a João Anastácio Rosa e Francisco Palha. Um conjunto notável de personalidades de teatro-espetáculo que interessa efetivamente recordar e estudar.

 

Como escrevem no texto introdutório Maria João Brilhante e Ana Isabel Vasconcelos, responsáveis pela coordenação científica da série de estudos, “podemos agora aprofundar a contribuição de atores e atrizes, de cenógrafos, dramaturgos, empresários, companhias, críticos, pedagogos, diretores, encenadores... para a construção de um sistema teatral cujo impacto na sociedade portuguesa merece ser conhecido”. E na verdade, a parceria editorial e a seleção de dramaturgos, atores e encenadores biografados e anunciados constitui um valioso e em tantos aspetos inovador contributo para a História do Teatro Português.

 

Precisamente: a vasta e variada intervenção de Sousa Bastos (1844-1911) na atividade de criação dramatúrgica, empresarial, cénica e artística, e também na tantas vezes inovadora pesquisa histórica, constitui um caso singular mesmo tendo em conta a relevância que na época o teatro – espetáculo assumia em Portugal.

 

Nesse aspeto, o livro de Paula Gomes Magalhães abrange a variadíssima intervenção de Sousa Bastos na multidisciplinaridade, permita-se a expressão, que compõe a atividade criativa e analítica no teatro em si e no meio teatral e de espetáculo.  Mas também, note-se, da sua obra de escritor, historiador, critico e dramaturgo.

 

E dá relevância, ainda, à intervenção de Sousa Bastos no Brasil, onde se fixou, de 1881 a meados de 1884 e definais de 1885 a 1888, dirigindo sucessivos espetáculos sobretudo no Rio de Janeiro, mas também em São Paulo e em sucessivas tournées que se prolongariam ainda por anos, mesmo depois do retorno a Portugal.

 

Importa frisar que Sousa Bastos, para alem de dramaturgo/tradutor/adaptador de numerosíssimas peças sobretudo da época, portanto na altura modernas e renovadoras, foi também de certo modo o que hoje chamaríamos um historiador – doutrinador da literatura e da estética do espetáculo teatral.

 

Mas mais: a sua obra teórica concilia uma visão histórica e uma abordagem moderna no plano da doutrina e na prática teatral. Nesse aspeto, aqui temos referido com alguma frequência os livros que em vida publicou, designadamente a vasta “Carteira do Artista” (1989) com mais de 800 paginas e o “Diccionario de Theatro Português” (1908) que temos citado sobretudo na descrição que faz nada menos do que 213 teatros em Portugal, Brasil e África, desde teatros já “históricos” na época mas também bastantes então modernos e alguns e ainda hoje, em atividade.

 

E em 1947 foi publicada uma recolha de textos de Sousa Bastos intitulada “Recordações de Teatro”, prefaciado por Eduardo Schwalbach, “poucos dias antes de morrer”, diz-nos Paula Gomes de Magalhães, que destaca as “informações preciosas sobre a vida e obra de inúmeras figuras ligadas ao meio teatral, polvilhadas como sempre, com pequenas histórias, fait-divers, anedotas e  considerações pessoais, que permitem mergulhar a fundo nas singularidades de um tempo em que o teatro, enquanto estrela de todos os divertimentos, era vivido de modo bem particular”. (ob. cit. pag.124).

 

Terminamos com uma apreciação de Luis Francisco Rebello. No verbete dedicado a Sousa Bastos em “100 Anos de Teatro Português” Rebello considera Sousa Bastos como “uma das personalidades mais ativas e influentes da vida teatral portuguesa no último quartel do século XIX”.

 

Em próximo artigo, veremos os teatros referidos por Sousa Bastos no seu livro “Carteira do Artista”.

 

DUARTE IVO CRUZ