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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O PÁTIO DAS ARCAS EM LISBOA

 

Evocamos hoje um dos primeiros espaços - edifícios de Lisboa vocacionados de forma estável para o espetáculo teatral. Trata-se do chamado Pátio das Arcas, na zona que é hoje a Rua Augusta. Trata-se do primeiro espaço de vocação para o teatro, definido e implantado, mais do que propriamente  “construído”, repita-se, na Baixa de Lisboa.  A iniciativa coube ao empresário castelhano Fernão Dias de La Torre, cerca de 1590.

 

E o documento que  evocamos data de 23 de novembro de 1622. Nele, o Município de Lisboa alerta para a situação precária do Pátio das Arcas. Vale a pena uma breve transcrição a partir do estudo de Eduardo Freire de Oliveira “Elementos para a História do Município de Lisboa” (1888), que cito no meu livro “Teatros de Portugal” (ed. INAPA 2005) e  posteriormente , em parte, na conferência comemorativa dos 150 anos do Teatro da Trindade (2017), num ciclo que, tal como aqui temos referido, integrou intervenções de Inês de Medeiros, Joaquim Paulo Nogueira, Isabel Pires de Lima, Luís Soares Carneiro, José Sarmento de Matos, Guilherme d’Oliveira Martins, Nuno Domingos e José Carlos Barros.

 

Diz então o documento:

“Viu-se em Câmara o escrito de Vossa Senhoria, pelo qual  lhe ordena que  deem despacho aos comediantes para que estes representem no Pátio em que agora o fazem, enquanto não houver mais outro concerto, capaz e se poder representar nele, ao que se satisfaz com se dizer das palavras do autor que fosse continuar como representar onde o fazia, até lhe ordenar coisas. Porém, pareceu significar a Vossa Senhoria o grande dano que resulta do  pejamento da rua das Arcas, onde estão arruados nem podem trabalhar em seus ofícios nem vender e dar expediente às suas obras o dia que ali se representa de mais de estar a rua impedida, que com dificuldade pode uma pessoa passar a cavalo por ela além de brigas que por estes respeitos são  causadas”...

 

Luís Soares Carneiro esclarece a propósito que “foi a aplicação a Portugal das leis que regiam os pátios de comédias em Espanha a primeira legitimação efetiva da atividade teatral, pois admitam a sua existência com carater permanente, desde que o rendimento desses pátios fosse entregue, no caso de Lisboa, ao Hospital de Todos os Santos” (in “Conferencia do Trindade” 2017).

 

Segundo Sousa Bastos, o Teatro ardeu em 1697, mas foi reconstruído e  reinaugurado três anos depois. Esclarece: “Tinha 20 camarotes no primeiro andar, seis camarotes e assentos gerais com cinco degraus em roda de todo o pátio no segundo andar, 21 camarotes no terceiro andar e outros 21 no quarto andar”. E  esclarece, no texto publicado em 1908  no  ”Dicionário do Theatro Português”,  que “o local em que este ficava este teatro era no sítio em que hoje está a rua Augusta junto ao Rossio (...) mais ou menos onde hoje está o segundo quarteirão da Rua Augusta”.

 

E finalmente: num estudo intitulado precisamente  “Teatros Portugueses” (ed. Sete Caminhos – 2005), Luciano Reis  diz que o Pátio das Arcas foi o segundo a ser construído e inclui uma gravura de Alberto de Sousa , que aliás não identifica, mas que aqui se reproduz: pois seja ou não seja, dá uma imagem feliz das zonas de espetáculo da época...

 

DUARTE IVO CRUZ