Günter Grass
Deitando mão de uma escrita dinâmica que expõe a poesia, a prosa, a ilustração, Grass em Sobre a Finitude – tradução de João Bouza da Costa e chancela da D. Quixote, livro editado postumamente - surpreende em concisos sentidos que enfrentam e desafiam a velhice num possível novo, exposto em cartas de amor, dramas ciumentos, sátiras sociais, monólogos, exprimidos em felicidades amadurecidas e tristes, astutas e sensatas.
Falecido em 2015 recebeu o Nobel da Literatura em 1999. Escritor, poeta, dramaturgo e pintor, logo em 1959 lhe surge a notoriedade internacional com O Tambor de Lata, recordando-nos também do livro A Passo de Caranguejo que nas suas palavras constituía um “saltar para trás para ir para a frente” face à necessidade de se referirem vários eventos que nos levem a interpretar a história para uma melhor vivência com o futuro de uma realidade.
Mas Grass em Sobre a Finitude, não deixa de se fazer claro ao leitor quando afirma que será sempre alguém que se observa e porque não com uma ironia romântica dotada do necessário humor, nomeadamente quando
O que durante o dia, assim que o cansaço me vence, tendo a interpretar, com sardónico desprezo ou compreensiva ironia, como a consequência de uma fuga senil à cama, é no fundo, uma dádiva da velhice, pois assim que, por volta das três ou quatro horas – enquanto lá fora, parafraseando Quirinus Kuhlmann, «o escuro escurece» -, o sono me evita e o constante mudar de posição a vigília acentua, a fuga para aquela cela cujos livros amparam (…)
E Quando se soltam os ciúmes
(…) vê-se uma mão tentada
a abrir as cartas da outra,
exigem-se às dúzias juras,
sofre a alma nevralgias,
deita o ódio a mão
a objetos pontiagudos,
estilhaçam-se vidros, grita a aflição
e ameaçam gastar-se do amor as reservas –
conservadas frescas na cave –
colherada a colherada, até ao fim.
E também assim se imortaliza lápis, papel e memória, calmias e o que restará da finitude?
Eis.
Teresa Bracinha Vieira