ALGUNS TEATROS OITOCENTISTAS
A reforma estrutural de Garrett e a inauguração do Teatro de D. Maria II, ocorrida em 13 de abril de 1846 com o drama “O Magriço ou os Doze de Inglaterra” de Jacinto de Aguiar Loureiro, marcam de certo modo o início de um movimento de descentralização da infraestrutura teatral, prevista aliás desde 1836 por Garrett no Relatório de 12 de novembro de 1836, transformado em Portaria exatos 3 dias depois, e onde se prevê, logo no artigo 2º a criação de uma “Sociedade para a fundação do Theatro Nacional”, e no artigo 4º a criação de “uma nova companhia de atores nacionais”, assim mesmo.
O programa motivou um movimento de descentralização da infraestrutura e da atividade do espetáculo teatral: e são efetivamente numerosos os Teatros que ao longo do século XIX foram construídos e mantiveram-se em atividade, alguns até hoje. Mas em contrapartida, são também muitos os casos de demolição de Teatros por esse país fora.
Inclusive porque os Teatros regionais, chamemos-lhes assim, eram sistematicamente construídos em zonas centrais das cidades: e daí, também que ao logo dos tempos muitos deles foram demolidos ou adaptados a outras atividades.
Vejam-se ou revejam-se alguns exemplos.
O Teatro Portalegrense, inaugurado em 1858, elegante na sua estrutura típica da arquitetura de espetáculo da época, foi a cera altura transformado em ringue de patinagem.
O Teatro Rosa Damasceno de Santarém, é inaugurado em 1884: mas exatamente no mesmo local será construído um cinema. O que não é obviamente caso único, mesmo em Lisboa como bem se sabe. Mas há que lamentar as situações, e são tantas pelo país fora, em que restou o nome, ou as paredes mestras, e por vezes nem isso. Casos semelhantes foram habituais.
E muitos mais alinham nesta evocação pelas piores razões: o Teatro Nabantino de Tomar a certa altura foi transformado em café; o Teatro Vilafranquense de Vila Franca de Xira, a certa altura foi transformado em parque de estacionamento; e já agora, o Teatro Apolo de Lisboa, antes Príncipe, Real, também desapareceu...
Enfim: estão em funcionamento diversos teatros da mesma geração. E alguns deles em plena e intensa atividade. Sabemos no entanto o que aconteceu aos sucessivos Teatros/Cinema Condes de Lisboa, para não falar outra vez no Teatro Apolo, antes Príncipe Real, no Ginásio, e tantos mais...
O Trindade felizmente está em plena atividade!
Em qualquer caso: sobreviveram ainda assim diversos teatros da época, e muitos desses sobreviventes temos referido ou iremos referir. Para além dos de Lisboa e Porto, há uma tradição oitocentista de teatros em Santarém, Aveiro, Teatro Gil Vicente de Cascais, Teatro Calleya da Covilhã, ou no velho Teatro Brigantino, depois denominado Teatro Camões de Bragança...
E tantos mais de que, repita-se, ou já falamos ou iremos falando: e isto, a acrescentar aos do Porto e de Lisboa!...
DUARTE IVO CRUZ