MORRER AINDA MAIS
Quem dois dias no mar a boiar junto aos mortos
Já não quer viver
Mas morrer ainda mais
Quem esqueceu o invisível muro da vida
Entre os corpos sem pulso
E o mundo da maldade obscena
Quem como também ela
Numa tristeza sem onde
Num olhar que não vive
É mais que espanto
Muito mais que pranto seco
Não sabe, não sabe
História é só ferida
E gozo ou dor será o mesmo
Sem beijos, mas lousa
Afã de uma verdade
Que bate contra as águas cardadas
Contra a carne a ferros
Quem?
Uns olhos se levantam
Na ruína do imenso
Quem?
Corpo inerte, mão no bem tangível
Dos morreres
E o naufrágio
Mentira!
Que o mundo clama
Para que se não contemple
Esse tronco vivo e mais morto
Numa data vazia
Quando a morte é de tudo e de todos
E as gentes sumo engano
Fissuras, punhais
Mas ingenuidades
Nunca
Teresa Bracinha Vieira
Julho 2018