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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A MAGIA DE UM PILOTO SEM ROSTO…

 

TU CÁ TU LÁ

COM O PATRIMÓNIO


Diário de Agosto * Número 
9

 

Jean Graton (1923) criou e desenhou a partir de 1957 para o “journal Tintin” as aventuras de um corredor de automóveis, Michel Vaillant, que depressa se tornou admirado pelos leitores portugueses, seguidores da Banda Desenhada (BD). Quando a lei portuguesa determinava que os heróis das aventuras traduzidas deveriam adotar nomes portugueses, o jovem corredor chamou-se Miguel Gusmão e viu as suas primeiras aventuras publicadas essencialmente no “Cavaleiro Andante”, a partir de 1958, ainda que “O Falcão” tenha tido a fugaz prioridade logo em 1957. Não me lembro francamente dessa primeira publicação, já que só quando comecei a ler o “Cavaleiro Andante”, na minha primeira classe (1958-59), me tornei fan do “Piloto sem Rosto”. E posso dizer que, só mais tarde viria a convencer os meus professores de português sobre as virtualidades da boa BD para o conhecimento da língua. Nessa altura vivíamos na clandestinidade, mesmo quando recusávamos as más traduções e o pouco cuidado da revisão. Devo dizer que as equipas de Adolfo Simões Müller, como depois as de Dinis Machado e Vasco Granja, tiveram sempre uma muito apurada consciência sobre a exigência quanto à comunicação e à língua. Só nos meus doze anos comecei a convencer os meus professores no Pedro Nunes de que as Histórias aos Quadradinhos (HQ) eram um bom estímulo para a língua e para a cultura. Afinal, líamos a Ilíada e a Odisseia nos textos de João de Barros, não confundíamos as coisas. Tudo se complementava (como agora com o Afonso Cruz). Como o António Mega Ferreira tem dito, a escola do “Cavaleiro Andante” e do “Tintin” belga foi utilíssima para abrir horizontes de cosmopolitismo, conhecimento e ligação às artes – e até de cidadania. Por outro lado, os milagres que os gráficos faziam e o cuidado com a legendagem foram-me, aliás, relatados pelo José Ruy – e constituem uma história fantástica. Hoje falo-vos de Michel Vaillant pela qualidade e rigor do desenho e pelo culto de um certo espírito de cavalaria no mundo dos automóveis. O pretexto, no entanto, é a magnífica imagem de Lisboa e de um avião da TAP. Mas poderia dar muitos outros exemplos.

 

E como não lembrar Álvaro de Campos? Ao volante do Chevrolet pela Estrada de Sintra!

 

«Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,
Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente,
Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero…
Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo
sem vê-lo,
À porta do casebre,
O meu coração vazio,
O meu coração insatisfeito,
O meu coração mais humano do que eu, mais exato que a vida.

Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim…»

 

Agostinho de Morais

 

 

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A rubrica TU CÁ TU LÁ COM O PATRIMÓNIO foi elaborada no âmbito do 
Ano Europeu do Património Cultural, que se celebra pela primeira vez em 2018
#europeforculture

 

 

 

 

PLANO HUMANO ARQUITETOS

O projeto da Capela Nossa Senhora de Fátima foi premiado recentemente, com o VMZINC® ARCHIZINC TROPHY, e está também nomeado para os prémios WAF - World Architecture Festival Awards, que irão decorrer em Amesterdão durante o próximo mês de novembro.

 

 Capela de Nossa Senhora de Fátima em Idanha-a-Nova

 

 

É de rara pureza estética e de escorreito primor arquitetónico esta Capela de Nossa Senhora de Fátima que nos deixa aberta a oração à proximidade com a terra, com o céu, com o abrigo inesperado, do qual todos queremos ser parte ao modo de cada um.

 

Os Arquitetos Pedro Ferreira e Helena Vieira entenderam o espaço, a excecional localização, e, o objetivo deste projeto, numa assimilação de rara vigília a todos os elementos a ter em conta para que a diferenciação do traço desdobrasse o instante em quimera de paz, de convite, de acolhimento e de firme consola que se apoia numa vontade de existir como vontade primeira.

 

Propomos que se procure esta Capela que se situa na região centro de Portugal - concelho de Idanha-a-Nova - no Centro Nacional de Atividades Escutistas (CNAE), do Corpo Nacional de Escutas-Escutismo Católico Português.

 

Em rigor a simplicidade escutista é um compromisso, tal como esta Capela de Nossa Senhora de Fátima o é, e é um compromisso com o que se não mede, com o parto amanhã e aqui fico, com a possibilidade de inúmeras pessoas ali poderem estar em comunhão com um altar cuja dimensão é sobretudo espiritual, ou, o profundo saber exprimir de um teto de duas águas e uma estrutura de doze vigas não nos acolhesse à memória dos Apóstolos como foi intenção destes Arquitetos. Note-se que até as extremas do edifício constituem uma alusão ao lenço escutista e a estrutura de madeira e zinco conferem a proteção gentil e calorosa que cada um possa querer sentir na sua estada na Capela de Nossa Senhora de Fátima, e, desta finalidade, não descuraram também os Arquitetos.

 

Esta Capela não tem mapa de sinal que não seja de Divino, de transcendente e de terrestre.

 

É a mão do homem que não adia a amplitude de um tempo que por nossa promessa de regresso nos trará ali também, para o sabermos fazer tributo ao respirar, desta beleza que expõe esta Capela que em nada parece assentar a não ser no ar que respira vindo da qualidade da criação arquitetónica. Eis.

 

Teresa Bracinha Vieira