CRÓNICAS PLURICULTURAIS
17. AO PRAZER SEM CULPA DE BEBER UM COPO!
Beber um copo, só ou com companhia, é um ato social que se universalizou, em especial nas gerações mais novas.
Por vezes corresponde a uma imagem de marca, quando esse beber, no seu sentido literal, é protagonizado por protagonistas famosos, em séries de sucesso, pronto a ser imitado, como referência ou com reverência.
Refiro, a propósito, a protagonista feminina principal de House of Cards, a atriz norte-americana Robin Wright, ao beber e saborear, só, um copo de vinho tinto, de vez em quando, em momentos de evasão, inspiração, relaxe, refúgio e sossego. Com uma elegância escultural tantas vezes distante, fria, gélida ou glaciar. Poderia ser de vinho branco ou verde, bem fresco, mas talvez o clima, por aquelas paragens, apele mais ao tinto.
E se há 50, 40, 30 ou 20 anos, ou mais, era um ato de rebeldia mulheres sozinhas pedirem um copo de vinho, hoje é cada vez mais usual, mas ainda chamativo, por vezes um distintivo bem distinto, numa rebeldia elegante e fina sem perder o chá, em que pedir, por exemplo, um copo de vinho branco, bem fresco, numa esplanada em pleno verão, entre nós, já não é um ato ousado e de coragem, como outrora.
Pode ser o culto do prazer, na solidão ou na comunhão, no convívio ou na conversação, na amizade ou no amor, podendo-nos também ajudar a exaltar o prazer da mesa, e outras dimensões metafísicas, como a alegria, a inspiração, fazendo-nos esquecer, nem que seja por breves momentos, as agruras da vida, preocupações e maus pensamentos.
Pode haver momentos de alegria, criatividade, desinibição, euforia, introspeção, melancolia, nostalgia, paixão, saudade, tristeza, entre outros, incluindo uma associação de culpa, quando o excesso campeia.
O importante é que, com equilíbrio, nos libertemos da culpa associada ao prazer.
O que interessa é o prazer sem culpa.
O prazer sem culpa de beber um copo.
Ao prazer sem culpa de beber um copo! Chim, chim!
Mas não a qualquer preço.
25.09.2018
Joaquim Miguel de Morgado Patrício