A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
XLII - LÍNGUA E CULTURA
A cultura é a guarda avançada do imperialismo mental.
A língua é a ponta de lança dessa guarda avançada.
O inglês, como primeira língua depois do idioma materno de cada falante, promove produtos culturais que refletem o perfil do capital mundial e da potência dominante: Disney, Coca-Cola, Mac Donald, Microsoft, Google.
No atual quadro do imperialismo linguístico, o inglês é a língua dominante por excelência.
As outras são as línguas dominadas.
Em Portugal, a receção do inglês foi promovida e facilitada pelo cinema, pela televisão, pela edição fonográfica e sua veiculação e disseminação através da rádio.
No nosso país, a opção em legendar para português, em vez de dobrar os filmes exibidos, quer no cinema ou na televisão, fez com que o cidadão comum se habituasse a ouvir, no idioma original, a cinematografia e séries americanas e anglófonas em geral, razão pela qual a língua mais ouvida nos media passasse a ser, de modo involuntário e subtil, o inglês. Por motivos de economia de meios e custos, e não por razões estratégicas, passou a ser o idioma estrangeiro mais familiar.
Com a chegada da música pop, em inglês, suplantando a difusão musical radiofónica em português, consolidou-se, nas gerações mais jovens, uma relação sinonímica entre modernidade e língua inglesa, o que é reforçado, no nosso tempo, pelas novas tecnologias de ponta e publicações de investigação e natureza científica do mundo académico.
Enquanto o inglês passou a ser uma janela para o mundo futuro, o francês passou a ser associado ao idioma estrangeiro dos mais velhos, das enfadonhas e antigas elites de outrora, algo a evitar.
Portugal, a tal respeito, não se diferenciou significativamente do resto do mundo, embora países como a Espanha, França e Alemanha, dobrem filmes e séries.
E se a língua portuguesa não está em questão dentro do espaço da comunidade dos países lusófonos, dissolve-se no universo das restantes línguas faladas no nosso planeta, num laboratório geopolítico de que em certas situações é refém como cobaia, como na Europa da União Europeia e do Conselho da Europa.
09.10.2018
Joaquim Miguel de Morgado Patrício