PESCADORES DE ÍRIS
Pescávamos com búzios à beira do mar
Acedendo à festa dos mistérios das ilhas
Seguros de que aquele animal tutelar
Viria a nós ressurgir e libertar
À noite recolhíamos o cabo
Que nos segurava o espirito
E escutávamos o regresso sem dano
De uma visita às origens
E os búzios espias
Contavam dos espelhos
Superfícies polidas onde as sereias
Se comparavam na ideia de si
Com a que acreditavam que delas tivessem
E logo vaidoso
Cnossos – palácio cretense
Expunha-se ao nosso olhar de dentro e de fora
Abrindo as portas do seu labirinto
Expondo saídas, vocalizando tensões
E nós
Pescadores
Que nenhum ângulo queríamos perder
Acasalávamos ondulando no céu
Como se o desejo nos subtraísse ao peso
Prisioneiros de quem assim se ofereceu
Mas era demais
A grande borboleta hipnótica do escutar
- semi-deusa grega que o era de sempre
Saciou-se de nós pescadores
Que julgávamos saber pensar os limites
Nimbados do impensável
Nós que só estávamos na história
De corpo e arco a ceder
Então libertamos os búzios
E ao largá-los aflorámos seu feitiço
Enquanto a vida breve se eternizava
Ao abrigo do tempo
Ao lado das coisas
E ainda assim
Projeto
Delicado e difícil
Teresa Bracinha Vieira