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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL

 

9. NÃO CULPEM NEM SACRALIZEM O MAR (III)

 

Há necessidade de olhar para o mar através do encontro de culturas que é visível na arte, monumentos, religião, costumes e tradições deixados pelo interagir recíproco a partir das primeiras viagens, e em que ressalta, nos nossos dias, a disseminação da língua portuguesa pelos descobrimentos, pela diáspora lusíada, lusófona e contemporânea, pelo seu potencial geoestratégico, o que decorre, em primeiro lugar, de ter sido capaz de atravessar vários espaços geográficos deslocalizados territorialmente e alcançados pelo mar, numa descontinuidade linguística.

 

Se foi o mar, e não a UE nem a continentalidade europeia, que foi essencial para a internacionalização e vanguardismo de uma língua que não é apenas nossa, se é verdade que Portugal só é um país pequeno se lhe retirarmos o mar, tudo aconselha a uma mudança de atitude assente no facto de ser para nós um recurso estratégico, mas também, desde logo, para a Europa e o mundo lusófono, de que somos parte, por direito próprio.

 

Há um mar de oportunidades perdidas, há potencial que tem de se concretizar, há que recolher amostras no âmbito do projeto de extensão da plataforma continental que vai permitir ampliar a área de soberania autorizada pela convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar, há que catalogar, compreender, estudar e valorizar os seus recursos naturais, há que navegá-lo e explorá-lo em vez de apenas contemplá-lo. Desde os usos tradicionais como as pescas, construção naval, transportes e turismo, às energias renováveis, indústria eólica, criação de algas para produção de biocombustíveis e biomassa, expansão da aquacultura, exploração offshore de gás e petróleo, fixação de reservas marinhas para preservação da biodiversidade, desenvolvimento da biotecnologia marinha para a indústria farmacêutica, de cosmética e alimentar, extração de novos metais e minerais. Sem esquecer uma governação integrada do mar, onde também estão presentes o ambiente, a ciência, a defesa, a diplomacia, a cultura, incluindo a língua, a literatura e as artes em geral.   

 

Paradoxal e significativo que a cerimónia de assinatura de adesão à CEE tenha ocorrido nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos, celebrizando a importância do mar para Portugal, para a Europa e para o mundo e a que demos, via oceano, uma contribuição específica para a globalização planetária.   

 

Sem excluir as coexistências, urge que o mar volte a ter um significado e um valor especial para Portugal.

 

Sem o culpar nem sacralizar.

 

30.10.2018

Joaquim Miguel de Morgado Patrício