Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
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John Ruskin - Arte, Trabalho e Sociedade. (Parte 1)
'But now having no true business, we pour our whole-masculine energy into the false business of money-making; and having no true emotion, we must have false emotions dressed up for us to play with, not innocently, as children with dolls, but guiltly and darkly.', John Ruskin
Ao experienciar constantemente beleza no mundo, somos ensinados a ver a vida na sua mais pura verdade.
O pensamento de John Ruskin (1819-1900) transporta a ideia de que a arte não tem qualquer relação com o intelecto ou com o conhecimento. Apresenta sim uma incessante busca pelo sagrado e pela verdade das coisas que demonstram a simultaneidade de Deus e da Natureza. Ruskin acreditava que a educação do gosto poderia influenciar a formação de um carácter. Debatia-se a favor do constante encantamento e glorificação pelo mundo.
Ruskin acreditava no uso da técnica pura, sem artifícios nem seduções, quase como uma prática religiosa, que implicava o retorno a uma condição social e a um ofício humilde e cuidadoso, que poderia trazer o contentamento puro. O artista já não é apenas um visionário isolado do mundo, mas um homem em polémica com a sociedade. O artista gostaria agora de afirmar a solidariedade como sendo o empenho primordial de todos os povos e todos os seres humanos. Cada linha, cada risco desenhado por este novo artista, se verdadeira, deverá ser intensa, inteira e decisiva, contendo todas as intenções possíveis. Ruskin reconhecia o trabalho automático da máquina como sendo o possível libertador do trabalho repetitivo e monótono.
'Fine Art is that in which the hand, the head, and the heart of man go together.', J. Ruskin
Ruskin protestava contra a busca exclusiva do lucro na era da Revolução Industrial, contra a exploração do homem pelo homem, assumindo assim uma postura política claramente socialista. Para Ruskin, uma sociedade baseada no tratamento desigual e indiferente em relação às pessoas e ao meio ambiente é alheia à beleza.
'When men are rightly occupied, their amusement grows out of their work, as the colour-petals out of a fruitful flower - when they are faithfully helpful and compassionate, all their emotions become steady, deep, perpetual and vivifying to the soul as the natural pulse to the body.', J. Ruskin
TU CÁ TU LÁ COM O PATRIMÓNIO Especial. 5 de dezembro de 2018
Passeio por Londres. A chuva miudinha não para. Mas entre as nuvens, aparece tímido o célebre luar londrino descrito por João de Lemos, e que não esqueço, recordando as noites serenas de inverno de outrora, entre poemas e declamações…
Passo em Limehouse e vêm-me à lembrança as leituras juvenis de E. P. Jacobs e da sua “Marca Amarela”.
Foi mesmo aí o cenário do misterioso enredo.
Os mistérios podiam ser desvendados nas salas do Centaur Club…
Como anglófilo incorrigível, dou-me a pensar nos efeitos desta dolorosa separação que se chama Brexit…
Alguma coisa se passará, antes deste divórcio que ninguém quer, mas que ninguém sabe como se ver livre dele.
Por agora, prefiro, porém, ficar-me a lembrar o poema célebre de João de Lemos.
Poderia invocar um texto pungente de William Blake.
Mas prefiro por estes dias citar um romântico em “Impressões e Recordações”.
Esperemos o que irão decidir os Comuns… E leio os conselhos avisados de Timothy Garton Ash.
Por que razão não chega uma centelha de bom senso?
«É noite; o astro saudoso Rompe a custo um plúmbeo céu, Tolda-lhe o rosto formoso Alvacento, húmido véu: Traz perdida a cor de prata, Nas águas não se retrata, Não beija no campo a flor, Não traz cortejo de estrelas, Não fala d'amor às belas, Não fala aos homens d'amor.
Meiga lua! os teus segredos Onde os deixaste ficar? Deixaste-os nos arvoredos Das praias d'além do mar? Foi na terra tua amada, Nessa terra tão banhada Por teu límpido clarão? Foi na terra dos verdores, Na pátria dos meus amores, Pátria do meu coração?
Oh! que foi!... deixaste o brilho Nos montes de Portugal, Lá onde nasce o tomilho, Onde há fontes de cristal; Lá onde viceja a rosa, Onde a leve mariposa Se espaneja à luz do sol; Lá onde Deus concedera Que em noites de Primavera Se escutasse o rouxinol.
Tu vens, ó lua, tu deixas Talvez há pouco o país, Onde do bosque as madeixas Já têm um flóreo matiz; Amaste do ar a doçura, Do azul céu a formosura, Das águas o suspirar; Como hás-de agora entre gelos Dardejar teus raios belos, Fumo e névoa aqui amar?
Quem viu as margens do Lima, Do Mondego os salgueirais, Quem andou por Tejo acima, Por cima dos seus cristais, Quem foi ao meu pátrio Douro, Sobre fina areia d'ouro, Raios de prata esparzir, Não pode amar outra terra Nem sob o céu d'Inglaterra Doces sorrisos sorrir.
Das cidades a princesa Tens aqui; mas Deus, igual Não quis dar-lhe essa lindeza Do teu e meu Portugal; Aqui, a indústria e as artes, Além, de todas as partes, A natureza sem véu; Aqui, oiro e pedrarias, Ruas mil, mil arcarias, Além, a terra e o céu!
Vastas serras de tijolo, Estátuas, praças sem fim Retalham, cobrem o solo, Mas não me encantam a mim; Na minha pátria, uma aldeia, Por noites de lua cheia, É tão bela e tão feliz!... Amo as casinhas da serra, Co'a lua da minha terra, Nas terras do meu país.
Eu e tu, casta deidade, Padecemos igual dor, Temos a mesma saudade, Sentimos o mesmo amor: Em Portugal, o teu rosto, De riso e luz é composto, Aqui, triste e sem clarão; Eu lá, sinto-me contente, Aqui, lembrança pungente Faz-me negro o coração.
Eia, pois, ó astro amigo, Voltemos aos puros céus, Leva-me, ó lua, contigo Preso num raio dos teus; Voltemos ambos, voltemos, Que nem eu, nem tu podemos Aqui ser quais Deus nos fez; Terás brilho, eu terei vida, Eu já livre, e tu despida Das nuvens do céu inglês».