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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO

 

XXXVIII - NATURALISMO

 

Na continuidade do realismo, surge o naturalismo, aproximando-se da natureza, aquele mais da fotografia.

 

O realismo preconizava a objetividade na mimetização da realidade e a necessidade de o artista não idealizar o real, mas tão só, provido de certo rigor científico, observá-lo com agudeza e isenção, fazendo artisticamente um retrato fiel do que observou na vida da sociedade.

 

Os naturalistas eram influenciados por conceitos da biologia, fisiologia, sociologia, especializados em ciências naturais, como a botânica e a zoologia, assim se diferenciado melhor dos realistas embora, como estes, mantivessem objetividade em relação à realidade.

 

Daí que a literatura naturalista seja expressão dos progressos científicos da fisiologia, bilogia e outras ciências, descrevendo as emoções através das suas manifestações físicas, demonstrando que os factos psíquicos estão sujeitos a leis rígidas, como os fenómenos físicos, não se limitando a observar e expor (como os realistas), o que levou o escritor Zola, por exemplo, a uma conceção determinista da existência humana, influenciado pelas teorias de Darwin e Haeckel sobre a hereditariedade.

 

Eça de Queirós, expoente da literatura realista em Portugal, alheou-se dos processos biológicos e fisiológicos para explicar o carater das personagens dos seus romances, tendo sido seguidores de Zola, entre nós, Júlio Lourenço Pinto, Abel Botelho e Teixeira de Queirós.

 

A Escola de Barbizon, em França, com a sua pintura ao ar livre, de ar-livrismo, teve muita importância na caraterização do naturalismo, cujo nome mais conceituado foi Théodore Rousseau.

 

Esta estética naturalista, aliada do realismo, teve forte impacto na pintura portuguesa, ao invés da literatura, onde vingou o realismo.

 

Em Portugal, ao nível da pintura, transitou-se do romantismo para o naturalismo, com uma breve passagem pelo realismo, por exemplo, com Miguel Lupi.

 

José Malhoa foi o pintor mais popular, conhecido e procurado. Maria de Lurdes de Melo e Castro a sua mais fiel discípula.

 

Não era pintor do regime, embora a sua obra efabulatória, de um certo Portugal paradisíaco, possa propiciar essa interpretação.

 

Preferia ambientes exteriores, ao sol, na rua, com figuras populares e o seu meio, preferindo o contacto popular. 

 

Pintor de paisagem, de género e de costumes, assim o qualificou Ana Ramalho Ortigão.  Em 1955, Egas Moniz, prémio Nobel da Medicina, considerou Malhoa como o maior pintor português de todos os tempos, o que mostra a dificuldade de outros pintores poderem singrar, caso de Almada Negreiros e Amadeu de Sousa Cardoso.

 

No retrato, temos Columbano Bordalo Pinheiro como o mais ilustre, sobretudo de análise psicológica.

 

Retratista de excelência, mais de intelectuais, como o de  Antero de Quental, tido como um ícone, onde o importante é o rosto, a cabeça, a inteligência, simbolizando a metafísica, correspondendo à parte iluminada do retrato, ficando na penumbro o resto do corpo.

 

A que acresce o retrato de Teófilo Braga, Bulhão Pato, Teixeira de Pascoais, Viana da Mota, António Ramalho, todos intimistas, introspetivos, de interiores, com forte presença psicológica, contraste de luz e sombra, luminosidade e penumbra, com chapas de luz criadoras de dinamismo na pintura, dando-lhe uma perceção dinâmica. É célebre a pintura a óleo O Grupo do Leão retratado, em 1885, por Columbano, com Henrique Pinto, Ribeiro Cristino, Malhoa, João Vaz, Alberto de Oliveira, Silva Porto, António Ramalho, Rafael Bordalo Pinheiro, Columbano, António Monteiro, entre outros. Além de retratista, foi pintor muralista, integrando a segunda geração naturalista.

 

O grande escultor do naturalismo português foi Teixeira Lopes, do realismo Soares dos Reis. 

 

11.12.2018
Joaquim Miguel de Morgado Patrício