CADA ROCA COM SEU FUSO...
NOS NOVENTA ANOS DE TINTIN, CRÓNICA DE KLOW
Episódio especial, 11 de janeiro de 2019
«Na sequência de “Tu Cá Tu Lá Com o Património”, iniciámos uma nova série para 2019, da autoria do nosso amigo Agostinho de Morais.
São crónicas amenas deste “gentleman farmer”, afilhado de Frei Agostinho da Cruz, de idade incerta, mas com uns bons anos de vida e de experiência. É um jardineiro nas horas vagas, cuida do seu MGA com mil cuidados e vive obcecado com o Brexit, com pavor que as peças para o seu vetusto automóvel se tornem incomportáveis de preço. É um anglófilo inveterado, cônsul honorário da Sildávia, detetive nas horas vagas, colecionador de borboletas exóticas, especialista em autores como Chesterton e Evelyn Waugh, e de Histórias aos Quadradinhos, pratica xadrez e bridge, e cultiva a teoria dos jogos. Em tempos escreveu três complexos opúsculos com misteriosos títulos “Para o Estudo do Paradoxo de Zenão – Aquiles e a Tartaruga” , “História da Sildávia até à Atualidade” e “ As Misteriosas descobertas do Father Brown”… São páginas de puro humor, história e matemática. É um conhecedor de temas históricos e linguísticos, e lê textos antigos em sânscrito, grego e latim. Quanto ao mais, é o que resultar das suas crónicas, a não perder!».
Eis o telegrama que acabamos de receber da cidade de Klow:
«Escrevo no dia 10 de janeiro de 2019, exatamente noventa anos depois da primeira publicação das aventuras de Tintin, no “Petit Vingtième”. Faço-o da cidade de Klow, capital da Sildávia, país adorável dos Balcãs. Aqui passaram-se momentos fundamentais na vida do herói de Hergé., que gosto sempre de lembrar. Vim passar uns dias de férias a este país, em homenagem a todos os cultores das histórias de quadradinhos. Bianca Castafiore definiu a Sildávia como “um país encantador, para quem gosta de velharias”. A Sildávia nasceu em 1127 quando o chefe tribal Hvegui expulsou turcos e adotou o nome Muskar. A Bordúria, o país arquirrival, ocupou a Sildávia em 1195, mas em 1275 a independência foi reconquistada. O rei Otokar IV tornou-se monarca em 1360 quando o barão Staszrvitch reclamou o trono e o atacou com uma espada, mas Otokar derrubou-o com seu cetro – então tornado símbolo nacional. Eis a razão do célebre título “O Cetro de Otokar” E, desde então, o rei da Sildávia deve trazer consigo o cetro e mostrá-lo ao povo no Dia de São Vladimir, sem o que perderá a sua legitimidade. Aquele que tiver o cetro será o novo rei. Sabemos bem que isso é assim pela leitura da obra de Hergé.. Em 1939 a Sildávia ficou sob o risco de uma invasão de sua vizinha Bordúria como parte de um plano para expulsar Otokar XII. Tintin desenvolveu uma estratégia para neutralizar a situação. Assim, de modo pacífico, Otokar XII viu-se regressado à plenitude poderes no seu pequeno reino, graças ao jovem e destemido Tintin, algo como um monarca constitucional de seu país. Ordenou a seus ministros e generais que se fizessem as mudanças necessárias para evitar um golpe e uma nova invasão. E assim se iniciou um longo paríodo de paz. Podem crer que é com sentida emoção que aqui me acho. O tempo está soalheiro, mas o frio é bastante… E para minha surpresa, aqui me encontrei quando ia a chegar ao Hotel Astória – Klow, onde estou hospedado, a figura mais bizarra que imaginar se possa, e que aqui veio, como eu, para celebrar os 90 anos de Tintin – bela e vetusta idade – falo-vos da figura rotunda de Oliveira da Figueira, o português mais célebre do mundo. Contou-me, aliás, que é sócio deste Hotel, que nos acolhe. A Bordúria regressou à instabilidade, que parecia afastada. Mas a Sildávia vive momentos de paz e moderada prosperidade, é por isso um bom lugar para prosperar, descansar e comemorar o glorioso aniversário de Tintin… Oliveira da Figueira está velho, mas feliz… Continuarei a escrever-vos desta terra tão acolhedora. Hoje apenas vos escrevo, porém, para homenagear o herói, prometendo voltar ao relato de viagem nesta terra de História rica e vicissitudes diversas….»
Agostinho de Morais