CRÓNICAS PLURICULTURAIS
22. A BANALIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA
A fotografia foi uma arte.
Uma arte de memória.
De avivar a memória e ter boas recordações.
Discreta, pessoal, familiar, intransmissível.
Um bem escasso, raro e precioso.
Testemunho de momentos marcantes.
Copiando a realidade e colando-a em molduras e álbuns de família.
Desafiante e senhora dos seus limites, sabendo que o invisível, o imaterial e o impalpável não se fotografam.
Gradualmente democratizou-se.
Atualmente banalizou-se.
E massificou-se.
Hoje há a banalização da fotografia e inflaciona-se o seu culto via digital.
A fotografia analógica rareia.
Tornou-se uma relíquia.
Em paralelo com cartas ou missivas escritas à mão, com caligrafia identitária e singular, por maioria de razão se a tinta permanente.
Com a quantificação fotográfica altamente estandardizada, veio a banalização, a menorização da privacidade, a publicidade e transmissibilidade universalizada e indiscriminada.
Impera uma fotografia indiscreta, narcísica, hedonista, padronizada e massificada como meio para divulgação nas redes sociais, através de um fotografar maciço que as novas tecnologias proporcionam, em que a câmara fotográfica quase não pesa nem ocupa espaço.
Uma fotografia consumista, alheia da privacidade, sob o pretexto do global e do cosmopolitismo.
Sem esquecer as selfies, o gosto e o like de grandiosos, imensos e gloriosos eventos a publicar no Facebook, no Instagram e onde der, com sonante identificação geográfica, local e pessoal.
Mas há também a beleza, tantas vezes de natureza fugidia, que contemplamos e encontramos, que pode ser apreendida, captada e possuída tirando fotografias através de uma mera câmara ou máquina fotográfica (analógica ou atualizada), inversamente proporcional à sua banalização, massificação e consumo impulsivo.
Há, então, que desbanalizar a fotografia, dignificando-a e dando-lhe um maior lugar na nossa vida.
15.01.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício