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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

 

«A poesia (…) pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar.» 
Arte Poética – II

 

 

Pois te digo Sophia

 

Que sinto uma neve a embranquecer mais

Esclarecendo a vida mergulhada na vulnerabilidade

Onde e aonde expõe por fim toda a paisagem

Sempre que as exímias tuas palavras

Me levam pelos bosques para deles

Outra bainha outro sentir

 

E diria

Eis uma memória encontrada e coligada

A focos de luz boreais

De volta à nossa casa tão espessa quanto o coração

Tão revivida quanto o sinal mais inquietante com o qual dormi

Numa inesperada cadência que acreditei ir aclarando o coração dos homens

 

E tu sabes e eu 

Recordo-te

 

Sophia

 

Que nos olhamos por entre cortinas sobrepostas

Quanto te leio

E nos faço olhar as duas ao espelho

Àquele que é criatura de liberdade

Onde semeias/semeio

Os beijos

Cheios daquela vontade antiga e de agora

 

Tu

Ramificada pelo mundo

Nele a insinuares-te com contorno próprio

Entre a não liberdade da origem

E a vital presença

 

E sei que suscitas e suscitaste a surpresa

E sei que o lago me espera

 

Sophia

 

Tenho os teus poemas nas mãos

Vou com eles nadar de leve

 

A vida volta

 

Participámos já na grande festa da eclosão

Dos seres?

Ou a tarefa de sobreviver já nos iniciou na pequeníssima parte de um poema?

 

Ninguém pode compreender o que cada um é

 

Ninguém explica o não recordar-se

A chave é minúscula

Só quero saber evadir-me de um mundo a outro

E encontrar-te tão feliz

Como afirmaste sentir-te quando te sabias de partida

 

Sophia!

 

Talvez se possa partilhar um ir

Mas nada o explica

 

Cada um pode não ser mais do que aprendizagem

À procura de um ponto de encontro

Daquele mesmo

De onde voavas com o pássaro

 

Com aquele que se unia a si mesmo

E te fitava no voo e tu eras ele

Mais do que um cristal

Absolutamente límpido

Absolutamente lúdico

E tu, Sophia

 

Reconquistada

 

 

Teresa Bracinha Vieira
Janeiro 2019