OS TEATROS E OS INCÊNDIOS
Faz-se hoje aqui referência a incêndios que atingiram dois teatros: um foi recuperado, o outro desapareceu. O primeiro continua em funções, se bem que o incêndio tenha destruído elementos artísticos obviamente irrecuperáveis. O outro deixou em definitivo de existir. E esclareça-se ainda que não se trata de situações inéditas ou mesmo inesperadas.
Trata-se então ao Teatro D. Maria II em Lisboa e ao Teatro Baquet do Porto. E começamos por este a evocação, pois cumpriram-se exatos 160 anos desde a sua fundação e 131 anos desde a sua definitiva destruição.
O Teatro Baquet foi inaugurado em 1859, construído por iniciativa de um alfaiate francês, Antoine Baquet. Ficaram referências à dimensão e expressão arquitetónica e decorativa que se reproduzia no interior da sala de espetáculos, segundo gravura e descrições da época.
A fachada era dominada por uma varanda com um total de 8 grandes janelas, e encimada por quatro estátuas alegóricas. E a sala de espetáculos tinha 68 camarotes em três ordens, alem obviamente da plateia devidamente dimensionada.
Pois em 20 de março de 1888 o Teatro Baquet ardeu. E morreram para cima de 120 pessoas. Ficou a memória e a gravura que aqui se reproduz.
Felizmente, o incêndio que, em dezembro de 1964 atingiu o Teatro de D. Maria II não fez vítimas. Tive ocasião de o visitar quando ainda se notavam focos do incêndio.
Recordo que subi a um camarote. O palco, visto da sala, nada mais mostrava que uma estrutura negra. E a sala, vista do palco, dava a imagem completa da destruição. Desde logo, realçou-se o desaparecimento das pinturas do teto, que fora rebaixado e redecorado por Columbano...
Recordemos que o Teatro ficou a dever-se a iniciativa de Garrett, mas tinha beneficiado de sucessivas obras de restauro e redecoração, a partir a inauguração em 13 de abril de 1846, com uma peça hoje esquecida, “Álvaro Gonçalves - O Magriço ou Os Doze de Inglaterra” de Jacinto de Aguiar Loureiro, aliás também ele mais ou menos esquecido como dramaturgo.
Em boa hora o Teatro D. Maria II foi devidamente recuperado e até hoje constitui um referencial da arquitetura de espetáculo e da vida artística portuguesa.
DUARTE IVO CRUZ