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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

24. O IMATERIAL

 

Diz o povo que há três coisas que não se veem: o vento, a dor e o pensamento.
Há também o ar, o falar, a inteligência, a música, a eletrónica. 
O vento, a dor e a música sentem-se.
O ar, o falar, a inteligência, o pensamento e a eletrónica não se sentem.
Há o que se não vê e se sente.
Há o que se sente e se não vê. 
E o que não se pensa.   
Por exemplo, a morte, em rigor, não é pensável.
É uma ausência que não pode ser dita.
Não a conhecemos.
Mas o vento, a dor, o pensamento, o ar, o falar e a música são pensáveis, mesmo que não visíveis, podendo ser audíveis, sentidas, ditas ou só percecionadas mentalmente. 
Não têm peso nem ocupam espaço, ao arrepio da matéria e das leis da física.
Nenhuma se vê, tem peso e ocupa espaço. 
São impalpáveis, incorpóreas, intocáveis, intangíveis, insubstanciais. 
Não se agarram, fogem ao determinismo.
São imateriais. 
E livres, essencialmente livres. 
Um grito de liberdade na sua não materialidade. 
Se não há machado que corte a raiz ao pensamento, porque é livre como o vento, porque é livre, de igual modo não há arma que corte ou mate a raiz ao ar, ao falar, à música, ao vento, à dor, à inteligência, à mente, razão e sabedoria, porque são livres como o pensamento.   
Imateriais e livres.       
Irmãos gémeos da liberdade.   

 

12.03.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício