CADA ROCA COM SEU FUSO…
NÃO HÁ TERRA 2…
19 de março de 2019
Continuo a dar-vos páginas do meu “Cavaleiro Andante” para meu e vosso deleite. Desta vez, recordo as aventuras de “Lolocas e Pompom”, no original “Modeste e Pompon”. Trata-se de uma criação de André Franquin (1924-1997) em 1955, para a revista Tintin, que também foi publicada fugazmente na revista “Spirou”. Os autores foram nomes consagradíssimos: Greg, Peyo, Tibet e mesmo Goscinny. Os desenhadores foram, além de Franquin, Dini Attannasio, Mittéi e Godard, Griffo, Bernard Duponr e Walli e Bom… Mas, por que razão me lembrei desta série? Não porque seja central na história da BD, mas porque me lembra a natureza, as traquinices, o ar livre…
É que esta semana, acompanhei do meu jardim com muito agrado os movimentos dos mais jovens na defesa do meio ambiente. Estou de alma e coração com o alerta lançado pela jovem sueca Greta Thunberg. Lembramo-nos do que disse em dezembro passado na reunião da COP 24 (24ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima): “Só fala de crescimento econômico eterno verde quem está com muito medo de ser impopular. Trata-se de seguir em frente com as mesmas ideias erradas que nos meteram nessa confusão, sobretudo quando a única coisa sensata a é puxar o travão de emergência. Isso está errado. Não se está maduro o suficiente para dizer como é. Mas não podemos tolerar que esse fardo seja deixado para a nossa geração”. A jovem Greta é descendente por parte do Pai de um Prémio Nobel da Química de 1903, Svante Arrhenius, e lançou um alerta sério, que não pode ser visto como algo de passageiro ou formal. É um movimento de tipo novo, que obriga cidadãos e cientistas, artistas e criadores de todas as idades a empenharem-se na adoção de medidas concretas, para que o ambiente não seja irremediavelmente destruído. Não temos uma Terra número Dois, não há Plano B para a destruição do Meio ambiente. Há cinquenta Anos em Estocolmo foi dado um grito de alerta que ninguém ouviu. Destruímos desde então mais do que tudo o que tínhamos destruído desde o início da humanidade. Esse movimento é mortal. Toda a humanidade está ameaçada. O apelo dos jovens, o alerta dado em todo o mundo tem de ser ouvido. Temos de dar-nos as mãos – cientistas e cidadãos, artistas e políticos!
E deixo-vos um poema de Pedro Tamen:
O mar é longe, mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira, até ser ele,
é doutro e mesmo, é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás, que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos, dedos, sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.
Pedro Tamen, in "Daniel na Cova dos Leões”.
Agostinho de Morais