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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

30. PATERSON: ENTRE O TRIVIAL E A AUTOSSATISFAÇÃO POÉTICA

 

Paterson é motorista de autocarros e poeta.
Tem um trabalho que não dói, vida e afetos estáveis, uma domesticidade trivial.
A poesia é fundamental para Paterson, o autor, mas Paterson, a cidade, não é poética. Ele e a cidade de Paterson, New Jersey, nos Estados Unidos, partilham o mesmo nome.
Em casa tem livros de William Carlos Williams, entre os quais “Paterson”.

Ele e Laura amam-se e têm um buldogue inglês pacholas, ciumento e intruso.
A urbe que habitam é vulgar, trivial, apática, pouco cuidada.
Aparentemente não infunde poesia.
Mas a poesia está na rua e a rua na poesia. 
A poesia está em casa e em casa a poesia.
Em coisas triviais, como a rotina diária do chofer que a observa e vê passar pelo espelho retrovisor. Os versos dos poemas, sem rima e em prosa, são banais e modestamente poéticos, falando de caixas de fósforos, copos de cerveja, conversas de passadouro.

 

Em Poema de Amor, lê-se:

 

“Temos imensos fósforos em nossa casa. 
Mantemo-los sempre à mão.
   

Atualmente a nossa marca favorita é a Ohio Blue Tip (…)
Eles são excelentemente embalados, (…) com o texto em forma de megafone, (…) como que para dizer ainda mais alto ao mundo, “Eis o mais belo fósforo do mundo, (…) tão sóbrio e furioso e teimosamente pronto a explodir numa chama, acendendo, talvez, o cigarro da mulher que amas, pela primeira vez (…)”
.                                                      

 

Poema em que Laura figura como musa:      

 

“É isso que tu me deste, eu transformo-me no cigarro e tu no fósforo, ou eu no fósforo e tu no cigarro, resplandecendo em beijos que ardem em lume brando rumo ao paraíso”.  

 

Os poemas são minimais, frugais, despretensiosos, humildes e não eruditos, como a vida citadina, pessoal, social e espartana que vive e rodeia Paterson:

 

“Quando somos crianças aprendemos que existem três dimensões: altura, largura e profundidade.   Como uma caixa de sapatos. 


E mais tarde compreendemos que existe uma quarta dimensão: tempo.  Umm.
E há quem diga que podem ser cinco, seis, sete,…
Termino o trabalho, tomo uma cerveja no bar.
Olho para o copo e sinto-me contente”
.

Poemas de coisas concretas, materializando a matéria de que é feita a poesia:
“A água cai do céu singelo.      
Cai como cabelo, a cair dos ombros duma rapariga (…)”.    
“Estou em casa.     
Está agradável lá fora: quente.   
Sol na neve fria. 
Primeiro dia de primavera ou último de inverno”
.    
Poemas de pessoas em concreto, materializando o conteúdo de que é feita a poesia:
“Minha pequena abóbora,
às vezes gosto de pensar em outras raparigas,   
mas a verdade é     
se alguma vez me deixares 
arranco o meu coração
e nunca mais volto a pô-lo no lugar.   
Nunca existirá ninguém como tu. 
Que embaraçoso”
.      


Por que não publicar os poemas? Têm de ser publicados! Sugere e sentencia Laura.

Paterson diz que sim, num permanente adiar, não os divulgando, não querendo que os leiam, até ao dia em que Marvin, o buldogue, os mastiga e tritura: “O cão comeu-me o tpc, o trabalho de casa”. O que aceitou como um facto consumado, qual gesto de autossatisfação. Sem paixão? E perda de orgulho em si próprio, porque eram apenas palavras escritas na água? O protagonista nunca se assumiu como poeta, apenas como motorista.     


Paterson, filme do realizador japonês Jim Jarmusch, é um poema em prosa de aceitação da vida, onde pessoas boas, comuns, resignadas, cansadas, ensimesmadas, gabarolas, macambúzias e perdidas se confundem com a diversidade comum em uniformidade.


Onde a poesia é a sua imagem de marca por excelência, retratando e visando ultrapassar o trivial rumo a um equilíbrio de autossatisfação e de desejável felicidade, numa fusão de simplicidade e profundidade.   
E o nome de Laura, a amada de Paterson, é igual ao da amada de Petrarca…                                      

 

28.05.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício

ÁNGEL CRESPO: UMA VERDADEIRA FESTA DA LEITURA

 

Volto de quando em quando a Ángel Crespo. Volto à sua doçura recorrendo à memória do seu passo pelas ruas de Lisboa. O meu regresso à poesia de Ángel supõe sempre o introduzir-me num espaço de aprendizagem de contínuos assombros e desde sempre os seus livros foram a tal festa da leitura para mim.

 

Foi num estado de maravilha em que fiquei quando adquiri este seu livro em Barcelona. Nesta antologia sobressai a contemporaneidade criativa que só ele soube construir, mantendo o pulso no realismo espanhol e devotando-se ao entendimento do consenso sobre a realidade. O seu livro La realidad entera que dá titulo a esta antologia, surpreende num itinerário que envolve a própria filosofia medieva, raridade de um intelectual numa sua criação muito peculiar na cultura espanhola, na segunda metade do seculo passado. Ángel, pensador e poeta de uma claríssima consciência atravessa transversalmente o espaço do conhecimento que, na bela expressão de José Lezama a traduz como sendo a grande amiga de todas as coisas. Julgamos que a palavra poética de Crespo é uma experiência vital para que a poesia resulte entre linguagem e mundo, desafiando a aventura crespiana um espaço do sagrado como forma de conhecimento e de presença de um enigma que possa fazer parte de uma carta, de um animal, de um símbolo, de um amigo e sempre veículo sem estridências que um passeio matinal não cure. Mas a sua obra em geral mesmo em registo que não de poesia, constitui o descobrir de uma escultura, de uma pintura, de uma viagem, do frio e do Nada. Tudo são passos necessários à concepção integral da poesia de Crespo. E, no mesmo processo se encadeia, as suas conferências, o seu professorado, os seus ensaios, as suas traduções. Ángel afirmou

 

Por supuesto, mi própria poesia fue da estimuladora y, en cierta manera, la iluminadora del resto de mi escritura(…) la poesía se ha convertido en objeto casi exclusivo de mis inquietudes intelectuales, tal vez por haber sido, tanto en las circunstancias propricias como en las adversas, mi más decisiva señal de identidad y, desde luego, la celadora constante de mi libertad.

 

Lembremo-nos que estas coordenadas são o centro, o ponto de convergência que converte, dito nas palavras de Borges, ao destino da ética secreta do homem.

 

Crespo mostra-se também muito interessado pelos poetas de cultura portuguesa no momento em que começa a traduzir Virgílio.

 

Afirma então

He procurado, pues, passar de lo intuitivo (o, si se quiere, no racional, pero tampoco irracional) de la consciencia colectiva a lo enigmático de la consciência superior.

 

A verdade é que nos resulta difícil fazer um relato dos caminhos de Crespo que exponham em profundidade a sua curiosidade intelectual insaciável. E chega à leitura de Dante em italiano, chega aos parnasianos - escola literária francesa dos poetas que cultivavam a arte pela arte e que defendiam a perfeição formal face a sentimentalismos excessivos do romantismo. Segundo a mitologia grega Parnaso é um monte onde habitaram as musas.Le Parnasse contemporain, recorde-se era o nome de uma revista francesa de poesia-, e simbolistas franceses em francês, a Baudelaire, à poesia hispano americana com Neruda, Rubén Darío entre outros e é um dos primeiros a reconhecer a alta qualidade de Juan Ramón Jiménez.

 

Mais tarde obtém na Suécia em 1973 o título de doutor em Filosofia e nesse mesmo ano traduz o inferno de Dante e a Antologia da poesia brasileira. O desejo de Crespo do conhecimento do homem através da obra do homem fá-lo viver o sentido do diálogo com o conhecimento sagrado da palavra poética num processo que se iniciou no início dos anos oitenta e em 1987 surge Lisboa y Las cenizas de la flor.

 

Por muito que falemos do percurso de Crespo, tudo é incompleto. Cremos plenamente que dentro do panorama espanhol ele é uma verdadeira exceção. É um poeta comprometido com uma conceção da poesia como conhecimento integrado na modernidade e colocando o sagrado numa situação de diálogo com os poetas que cruzam esse caminho, de Fernando Pessoa a Blake, a Mallarmé, entre outros.

 

Por profunda admiração, por não esquecermos o encontro com Crespo no Largo do Camões em Lisboa, por termos entendido nele uma ternura indizível, pelo orgulho por este grande poeta e em homenagem à sua linha de significação, o poema

 

«El INVISIBLE»

 

Yo sé que alguien me habla,

me habla con insistencia,

tercamente me dice cosas que debo saber,

pero ese alguien no usa mis palabras,

pero yo no conozco su lenguaje,

y los dos, frete a frente,

sin vernos, angustiados,

no podemos unir nuestros discursos.

 

A veces casi escucho su mensaje,

presiento cómo lucha junto a mí,

cómo trata de hablarme, de decirme,

cómo viene a mi libro, a mis papeles,

cómo se sienta al lado, invisible, en la silla

cómo hace a mi madre que diga cosas raras

que mi madre no querría decir,

para que yo le entienda.

 

También, cuando passeo,

a la cara me arroja hojas secas, y a veces

me hace tropezar en una brizna.

 

Pero yo no le entiendo,

yo no sé qué me quiere decir,

yo soy un tope incomprensivo, y sólo

sé abrir los ojos y exclamar con miedo:

Quién eres? Qué me quieres decir?

 

Pero se va

si nota mi impaciencia.

 

Teresa Bracinha Vieira

GREVE DAS MULHERES E O FEMINICLERICALISMO

 

1. Escrevi aqui recentemente sobre as mulheres na Igreja, perguntando: “E se as mulheres fizessem greve na Igreja?” Uma mulher de alta estatura intelectual, espiritual e social comentou: “As igrejas ficavam vazias.”

 

Nem de propósito, mulheres católicas alemãs de várias dioceses acabam de boicotar durante uma semana o seu trabalho voluntário nas igrejas e fazer greve às Missas, para protestar contra o machismo e os abusos do clero. “Deploramos os casos conhecidos e desconhecidos de abuso e o seu encobrimento e ocultação por parte dos líderes da Igreja.” E exigem “o acesso das mulheres a todos os ministérios.” Facto é que, como disse Thomas Steinberg, presidente do Conselho Central de Católicos Alemães, “sem as mulheres nada acontece” e, portanto, é necessário seguir um “caminho sinodal” por parte da Igreja, operando as mudanças que se impõem. Aliás, já antes, católicas francesas tinham denunciado o machismo na Igreja, causa dos abusos contra mulheres e crianças: “na Igreja, todo o poder está nas mãos de homens solteiros, os únicos com capacidade para decidir, governar, ensinar, e que dizem ser mediadores da relação com Deus e com o sagrado.” E insistem: “Isto não pode continuar por mais tempo. Tem que mudar.”

 

2. As mulheres não podem ser discriminadas na Igreja. Jesus não as discriminou. A prova está em que teve discípulos e discípulas, como testemunham muitos passos dos Evangelhos, e Maria Madalena foi determinante no cristianismo. De facto, foi ela que, depois da crucifixão, quando tudo parecia ter sido o fim, reuniu outra vez os discípulos à volta da experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado está vivo em Deus, que é Amor. Voltaram a reunir-se na fé em Jesus, o Vivente, e foram anunciar que Ele é o Messias, o enviado de Deus como “o Caminho, a Verdade e a Vida.” E testemunharam-no, dando a vida por isso. De tal modo Maria Madalena foi determinante que Santo Agostinho lhe chamou “a Apóstola dos Apóstolos”.

 

Também São Paulo fala com imenso respeito das suas colaboradoras. Por exemplo, na Carta aos Romanos, escreve: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que também é diaconisa na igreja de Cêncreas, recebei-a no Senhor, de um modo digno dos santos. Saudai Trifena e Trifosa, que se afadigam pelo Senhor. Saudai Andrónico e Júnia, meus concidadãos e meus companheiros de prisão, que tão notáveis são entre os apóstolos e que, inclusivamente, se tornaram cristãos antes de mim”. Na Carta aos Gálatas, 3, 26-29, escreve: “É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus, mediante a fé, pois todos os que fostes baptizados em Cristo revestistes-vos de Cristo mediante a fé. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus.” Portanto, na Igreja, e não só, há uma igualdade originária.

 

Jesus Cristo é, sem dúvida, quando se pensa a sério no que Ele fez, disse, foi e é, a figura mais determinante da História da Humanidade. São Paulo explicitou essa influência, a partir da sua própria experiência pessoal, avassaladora, que se traduz naquela conclusão: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher.” Que experiência foi essa, que o levou de perseguidor a Apóstolo, fazendo milhares e milhares de quilómetros, com os meios precários da altura, para anunciar o Evangelho? Há uma pergunta fundamental que Paulo faz: o que vale um morto?, o que vale um morto, concretamente um crucificado morto? Mas, ao fazer a experiência de fé de que esse Jesus crucificado está vivo em Deus, conclui que Deus o ressuscitou e, portanto, Ele vale para Deus, tem valor para Deus. E, se Jesus crucificado, morto, vale para Deus, como mostra a ressurreição, então todos valem, todos os homens e mulheres, independentemente do sexo, da etnia, da religião, da idade, da cor, valem para Deus, têm valor. Todos têm dignidade diante de Deus. Já não há escravo nem livre, nem judeu nem grego, nem homem nem mulher.

 

Alguém conhece revolução maior na História do mundo, de que lentamente se foi e vai tomando consciência, a ponto de se proclamar a dignidade inviolável de todas as pessoas, nomeadamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos? As comunidades cristãs celebravam a Eucaristia, lembrando Jesus, a sua memória e reconheciam-no na partilha do pão, em refeições festivas, e, pela primeira vez, senhores e escravos, homens e mulheres, judeus e gregos se sentaram todos à mesma mesa. E quem presidia era o dono ou a dona da casa, que recebiam a comunidade. Com o tempo, a Igreja tornou-se uma estrutura de poder e aí tudo se transformou, chegando-se ao cúmulo daquelas celebrações da Ceia de Jesus que já nada têm de fraterno, pois mais parecem cerimónias das cortes imperiais. Naqueles longos pontificais com pompa imperial, adornos de ouro e pedras preciosas, vestimentas luxuosas que por vezes até rondam o ridículo, em que participam inclusivamente patifes e ladrões sem o mínimo propósito de emenda nem conversão, alguém se lembra da Última Ceia de Jesus? Quem preside? Os “senhores”, donos de Deus e do sagrado. Evidentemente, as mulheres foram ficando excluídas da presidência. E, lentamente, a revolução evangélica de Jesus, da radical igualdade de todos, teve de ser proclamada fora da Igreja oficial e ser-lhe imposta de fora, como aconteceu com as proclamações dos direitos humanos.

 

3. E Francisco? Ele está convencido de que “é necessário ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja. As mulheres formulam questões profundas que devemos enfrentar.” Disse às religiosas: “Não às criadas. Nenhuma de vós se faz freira para ser uma servente dos padres.” Em Julho de 2016, nomeou uma comissão igualitária de homens e mulheres para estudar o papel das mulheres na Igreja primitiva. A comissão terminou o seu trabalho sem acordo e ele acaba de comunicar no Encontro internacional das religiosas que, sobre o caso do diaconado, “temos de ver o que havia no início da Revelação. Se o Senhor não nos deu o ministério sacramental para as mulheres, a coisa não dá. Por isso, estamos a investigar a história”. Francisco não fechou a porta, mas ficou atado com a questão do diaconado como sacramento ou não para as mulheres.

 

Aqui precisamente, chegámos ao nervo do problema, problema nuclear da Igreja, porque está na base do clericalismo e do carreirismo, “a peste da Igreja”, na expressão de Francisco. Foi o maior exegeta católico do século XX, professor da Universidade de Tubinga, Herbert Haag, que me ensinou que Jesus não ordenou ninguém “in sacris”,  nem homens nem mulheres. Na Igreja, há ministérios (Autrag), mas não há ordenação sacra (Weihe). Todo o povo de Deus pelo baptismo é Povo sacerdotal, mas  não há sacerdotes. Toda a Igreja é ministerial, mas o Novo Testamento evitou a palavra hiereus (sacerdote) e, entre os carismas (dons do Espírito Santo), não se refere o sacerdócio.

 

Neste enquadramento, Pepe Mallo foi ao essencial, quando escreveu: “Porque é que se há-de sacramentalizar os ministérios? É evangélico sacralizar (ordenar ‘in sacris’) as pessoas? Não se deverá dissociar ‘ordenação’ e ministério’? É certo que Jesus não ordenou mulheres, mas também não ordenou homens, e, menos ainda, no sentido, aspecto e categorias de que desfrutam hoje os clérigos. Jesus não instituiu nenhum sacramento da ‘Ordem Sagrada’, nem para mulheres nem para homens. As funções de diáconos e diaconisas, bem como de presbíteros e bispos  de que falam as Cartas no Novo Testamento eram pura e simplesmente ministérios da comunidade e para a comunidade. Não eram dignidades e privilégios de supremacia e domínio.” Na Igreja, tem de ser respeitada a dignidade de todos, mas não há dignidades nem dignitários.

 

Jesus dizia no Evangelho: “Tomai cuidado com os fariseus e os doutores da Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes. Vós sois todos irmãos.” Voltando às primeiras comunidades, é preciso reconhecer o sacerdócio de todos os baptizados, homens e mulheres, e, assim, proclamar e exigir a igual dignidade de todos. Mas, se as mulheres apenas reclamarem o poder dos homens na Igreja, então teremos o mal acrescentado:  ao mal do clericalismo machista acrescentar-se-á o do feminiclericalismo. Julgo que é este o receio do Papa Francisco, quando critica algum feminismo como “machismo de saias”.

 

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

Escreve de acordo com a antiga ortografia
Artigo publicado o no DN  | 26 MAI 2019

CADA ROCA COM SEU FUSO…

 

 

NA SEMANA DO DIA DE ASCENSÃO, RECORDAR AS FESTAS DA ESPIGA…
28 de maio de 2019

 

A minha Avó, cumpria religiosamente a antiga tradição das festividades da Ascensão. À hora de almoço, já havia sobre a mesa um ramo bem florido – e a festa era para todo o dia. E ainda hoje é feriado na terra de meus avós… A Quinta-feira da Ascensão celebra a subida ao céu do Senhor Jesus e ocorre este ano a 30 de maio, quarenta dias depois da Páscoa e dez dias antes do Pentecostes… . Popularmente chamado de Quinta-feira da Espiga, é considerado como “o dia mais santo do ano”. Para assinalar a data, a tradição pede que desde manhã cedo até do meio dia para à uma se suba a um  monte e se recolham espigas e flores que são depois colocadas num ramo. Colhem-se espigas de trigo, sempre em número ímpar, um pequeno ramo de oliveira, papoilas, margaridas e varas de videira. Diz o povo que a essa hora, as aves não vão aos ninhos, porque a natureza se une para festejar. Estamos, naturalmente, perante uma reminiscência das festividades pagãs dedicadas à Deusa Flora que assinalavam o surgimento dos novos frutos. Passado o dia festivo, o ramo era colocado atrás da porta de casa, para que nela pudesse haver pão, azeite, paz, amor e alegria durante todo o ano. Até 1952 foi feriado nacional em Portugal, tendo havido protestos de norte a sul pela perda deste dia especial para todo o País. Para compensar a perda de um dia tão enraizadamente sentido pelo povo, um número muito significativo de municípios adotou a quinta feira da Espiga como feriado municipal. Eis alguns exemplos: Alcanena, Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, Alvito, Anadia, Ansião, Arraiolos, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Beja, Benavente, Cartaxo, Chamusca, Estremoz, Golegã, Loulé, Mafra, Marinha Grande, Mealhada, Melgaço, Monchique, Mortágua, Oliveira do Bairro, Quarteira, Salvaterra de Magos, Santa Comba Dão, Sobral de Monte Agraço, Torres Novas, Vidigueira, Vila Franca de Xira. E assim, ainda hoje, podemos lembrar uma celebração muito antiga, bem arreigada nas nossas tradições…

 

Hoje recordo nestas linhas excertos da célebre Carta de Francisco Sá de Miranda a D. João III, obra-prima da nossa literatura e língua. É uma reflexão ética de quem muito preocupado está com o despovoamento do reino e com um império que depaupera os campos e as gentes. Talvez se lermos bem o poema, descobriremos a defesa da fixação contra o transporte, não a tese do regresso puro e simples ou da desistência. E se dúvidas houve, leia-se o camoniano Velho do Restelo, quer tem muitos traços deste camponês literato, que trouxe para a Pátria a medida nova italiana, criada por Petrarca, “dolce stil nuovo”…

 

Homem de um só parecer,
Dum só rosto, uma só fé,
Dantes quebrar que torcer,
Ele tudo pode ser,
Mas de corte homem não é.

 

(...)
Tudo seu remédio tem
E que assim bem o sabeis,
E ao remédio também;
Querei-los conhecer bem,
No fruto os conhecereis.

Obras, que palavras não:
Porém, senhor, somos muitos,
E entre tanta multidão
Tresmalham-se-vos os frutos,
Que não sabeis cujos são.

 

(...)
Sempre foi, sempre há de ser,
Que onde uma só parte fala,
Que a outra haja de gemer:
Se um jogo a todos iguala,
As leis que devem fazer?

 

(...)
Do vosso nome um grão rei
Neste reino lusitano,
Se pôs esta mesma lei,
Que diz o seu pelicano
Pola lei, e pola grei.

 

(...)
Assim que seja aqui fim;
Tornem as práticas vivas;
Perdestes meia hora em mim,
Das que chamam sucessivas
Estes que sabem latim.

 

Agostinho de Morais

A VIDA DOS LIVROS

De 27 de maio a 2 de junho de 2019

 

 

Acaba de ser publicado entre nós o livro Santos e Pecadores – Ensaios Escolhidos (Livros do Brasil), com seleção e prefácio de Pedro Mexia e tradução de Miguel Freitas da Costa.

 

 

UM AUTOR INESGOTÁVEL
Quando em 1991 Graham Greene morreu, escrevi um pequeno obituário para o JL, no qual salientava a grande importância futura da obra multifacetada do escritor. O tempo encarregou-se de confirmar essa relevância, que superou todas as limitações circunstancias dos acontecimentos e do tempo em que ocorreram. Hoje não falo do romancista, mas do cronista e do seu testemunho. Os ensaios e as crónicas provêm de Collected Essays (1969), The Probable Graham Greene (1973), Yours etc. – Letters to the Press (1989), Reflections (1990) e The Graham Greene Film Reader (1993). A obra resulta de uma escolha muito cuidada e oportuna, através da qual Pedro Mexia nos põe em contacto com a riquíssima personalidade de um escritor tantas vezes incompreendido, sobretudo a partir de algumas falsas simplificações. Devo, aliás, nesta circunstância, saudar especialmente o facto justíssimo de Pedro Mexia ter sido galardoado, pela obra Lá Fora, (Tinta da China), com o grande prémio de crónica e dispersos literários da Associação Portuguesa de Escritores, com o apoio do Município de Loulé. E se o faço tal deve-se ao facto de o organizador e prefaciador deste volume, demonstrar com este livro de novo a importância da crónica e da atenção ao diálogo literário que se estabelece entre os escritores e os seus leitores. E não posso esquecer, na minha adolescência, que Graham Greene se tornou um dos meus autores preferidos, não apenas pela leitura apaixonante das suas obras e pelo acompanhamento da sua vida, mas também pela leitura de autores que sobre ele falaram, como João Bigotte Chorão, que aqui saudosamente recordo, e o Padre Manuel Antunes. E o prefácio de Pedro Mexia levou-me naturalmente à lembrança dessa minha paixão juvenil.

 

UM “ETHOS” DE PARADOXOS
Os tempos em que esteve nos serviços secretos, no MI6, e em que passou por Portugal nessa qualidade, afinaram nele o que o prefaciador designa como “um ethos de dissimulação e sinuosidade do qual nunca se libertou”. É, no entanto, mais do que isso, mas a verdade é que o culto dos paradoxos está ligado à essência do seu modo de ser. Isto apenas pode ser estranho para quem não entenda a raiz apostólica da “fé” abraçada em determinado momento da vida do romancista. Não por acaso, quando pediu o ingresso na Igreja Católica, o nome que adotou como catecúmeno foi o de Tomé, o do apóstolo que duvidou, e que apenas acreditou quando pôde colocar o dedo na ferida aberta pela lança no corpo de Jesus. Em toda a vida Graham Greene recordou este facto e a coerência desta atitude. Sendo muito diferente de Mauriac, Bernanos, Bloy, Chesterton e Waugh – o que o romancista “elogia nesses escritores não é a faceta apologética, mas a forma como utilizam, cada um a seu modo, a ‘dimensão adicional’ que a fé católica lhes oferece”. Assim se entende que diga: “Não aprecio muito a ‘literatura empenhada’, na medida em que divide o mundo em bem e mal. Não tenho desprezo por ela, mas é-me alheia. Não acredito que um escritor possa influenciar a política. Devemos deixar a política aos políticos”. Lembro-me bem das resistências de muitos relativamente às obras de Greene, por se pensar que os paradoxos que cultivava pudessem ter a ver com opções políticas extremas. Assim não era, porém. Se tinha bem presente o exemplo de S. Tomé, não esquecia as negações de Pedro ou os imprudentes encontros de Cristo com a samaritana ou com a mulher adúltera – que não podiam deixar de se relacionar com exemplo do clérigo alcoolizado de O Poder e a Glória. Por isso, sempre se incomodou quando o designavam como “escritor católico”. Por isso, tornou claro que “nunca escreveria um livro para chamar a atenção das pessoas para uma convicção política ou religiosa”. Por isso afirmou não ser possível criar um Homem Novo. O “mais que podemos desejar é uma mudança de condições que torne os pobres menos pobres e os ricos menos ricos. Sou por mais humanidade, não por um novo conceito de humanidade”. Quem leu com atenção o que escreveu, facilmente percebe que lhe interessaram sobretudo as pessoas – até porque desconfiava dos idealismos românticos. Não foi amigo de Fidel, mas considerava-o como uma fascinante mistura de idealismo e força retórica. Na guerra de Espanha era contra Franco, mas não podia aceitar o que aconteceu do lado republicano. E afirma: “a política romântica é perigosa e tende a ser desumana. Preferiria viver sob o senhor Gladstone”. A atração emocional pelo catolicismo sentiu-a no México, perante uma Igreja proscrita com os seus crentes perseguidos. “Vi os índios descerem das montanhas e entrarem nas igrejas, onde tentavam recordar os velhos ritos”. Além do culto do paradoxo, é a recusa do tédio que o levou a escrever, do mesmo modo que as injustiças lhe trouxeram os temas. “As injustiças de que me apercebo não me encolerizam; melhoram os meus poderes de observação. A distância é um dos requisitos da boa literatura”. E isto leva Graham Greene a ser um dos grandes cultores da boa literatura. Assim, mais do que o ethos da sinuosidade, o que encontramos no autor de O Nó do Problema é a busca dos caminhos insondáveis e difíceis em que a humanidade se manifesta. Daí uma inesperada proximidade com Chesterton, quando este reformula “o pensamento original com a frescura, a simplicidade e o entusiasmo de uma descoberta”. Qual a chave de Ortodoxia senão um labirinto de opções heterodoxas? Como entender o clube dos homens irados, como Bloy e Bernanos, senão através de uma tradição que remonta a Dante “que amava bem porque odiava”? E como não ligar Pascal e Mauriac no sentido da prioridade dada às ações humanas, imperfeitas e contraditórias?

 

A MAGIA DO CINEMA
A título de exemplo leiam-se os textos sobre cinema – aí encontramos muito mais do que uma apreciação meramente técnica, deparamo-nos com a inovação (do cinema mudo ao sonoro, do preto e branco à cor) e com a apreciação relativamente aos diferentes temas e autores, sempre partindo de pessoas. E é delicioso o diálogo a propósito do filme O Terceiro Homem (1949) entre Graham Greene, Carol Reed e o produtor de E Tudo o Vento Levou David Selznick… Apesar de muitas dúvidas e bizarras sugestões, prevaleceu felizmente a ideia original, que se traduziu num extraordinário sucesso de um dos mais belos filmes do pós-guerra. Como afirma Pedro Mexia: “impregnado de teologia, impressionado com a Igreja dos humilhados e ofendidos, solidário com os católicos perseguidos (O Poder e a Glória, 1940), apoiante do Concílio Vaticano II e da Teologia da Libertação, Greene sempre se mostrou hostil a tudo o que lhe parecesse conservadorismo ou impiedade”. Mas a espessura humana do escritor é muito mais rica do que as simplificações ideológicas. E o tempo tem revelado que para si o mais importante era a compreensão do género humano.

 

Guilherme d'Oliveira Martins
Oiça aqui as minhas sugestões - Ensaio Geral, Rádio Renascença

 

CARTAS DERRADEIRAS DE CAMILO MARIA DE SAROLEA - XI

 

 

Minha Princesa de mim:

 

   Escreves-me, em resposta à minha última carta, que te pareci adoentado e pessimista... Dizes mal: na verdade, continuo afligido por dores e maleitas velhinhas e não me refugio em sonhos de recuperações passadas que, próprias de outras idades e viços, não creio que possam repetir-se. Mas, se dou comigo a cair em tentações de lástima ou resmunguice, logo tento eu mesmo entrar em dialética com a vida, neste tempo atual e em modos possíveis. Esqueço o que me pesa, tampouco olho para trás, procuro descortinar na realidade presente a substância das coisas por vir. Ganho a leveza necessária para, em vez de me prender ao que fui, voar até onde não estive ainda.

 

   Entrar em dialética com a vida que anima o mundo das pessoas e das coisas visíveis e invisíveis é como estabelecer uma relação de contacto e afeto com a realidade, isso a que, quiçá, muitas vezes chamamos progresso. Costumo, aliás, dizer para comigo que a diferença entre essa minha perspetiva dialética e a hegeliana, ou a marxista, é que a minha não é obsessivamente determinável, nem necessariamente fatal, antes se desenrola numa dinâmica de liberdade, isto é, em animação do espírito criador.

 

   E a talho deste, calha falar-te dum opúsculo de Paul Valéry, originalmente escrito em francês, mas para tradução em inglês e sua publicação na famosa e já antiga revista londrina Athenaeum - hoje dirigida por John Middleton Murry - em abril de 1919. Há um século... A Amazon, para comemorar tal centenário, edita agora, pela primeira vez, o original francês, intitulado La Crise de l´Esprit. O texto breve distribui-se por duas cartas, tendo a primeira sido publicada pela Athenaeum em 11 de abril de 1919, e a segunda em 2 de maio. Com um século, eis um documento profético, na medida em que já anuncia preocupações do nosso tempo, ecoadas em raros mas pertinazes passos de discursos e comentários hodiernos, no quadro desta campanha para as eleições europeias de 2019. Traduzo-te seguidamente alguns trechos das seculares cartas de Paul Valéry:

 

   Nós, as civilizações, sabemos agora que somos mortais.

 

   Ouvimos falar de mundos inteiramente desaparecidos, de impérios afundados a pique com todos os seus homens e engenhos; levados até ao fundo inexplorável dos séculos com os seus deuses e leis, as suas academias e as suas ciências puras e aplicadas; com as suas gramáticas, os seus dicionários, os seus clássicos, seus românticos e simbolistas, seus críticos e os críticos dos seus críticos. Sabemos bem que toda a terra aparente é feita de cinzas, que a cinza significa alguma coisa. Apercebemo-nos, através da espessura da história, dos fantasmas de imensos navios que vogavam cheios de riqueza e de espírito. Não podíamos contá-los. Mas esses naufrágios, ao fim e ao cabo, não eram de nossa conta.

 

   Elam, Nínive, Babilónia, eram belos nomes etéreos, e a ruína total desses mundos tinha para nós tão pouco significado como a sua própria existência. Mas França, Inglaterra, Rússia... seriam também belos nomes. Lusitânia também é um belo nome. E vemos agora que o abismo da história chega para todos. Sentimos que uma civilização é tão frágil quanto uma vida. As circunstâncias que atirariam as obras de Keats e de Baudelaire para o pé das obras de Meandro já não são inconcebíveis: vêm nos jornais. 

 

   ... ... Uma primeira ideia surge. A ideia de cultura, de inteligência, de obras magistrais, tem para nós uma relação muito antiga - tão antiga que raramente subimos até ela - com a ideia de Europa.

 

   Outras partes do mundo tiveram civilizações admiráveis, poetas de primeira ordem, construtores e até sábios. Mas nenhuma parte do mundo possuiu esta singular propriedade física: o mais intenso poder emissor unido ao mais intenso poder absorvente.

 

   Tudo veio à Europa e tudo dela veio. Ou quase tudo...

 

   Ora, no presente, levanta-se esta questão capital: irá a Europa conservar a sua preeminência em todos os géneros?

 

   Tornar-se-á a Europa no que, na realidade é: um pequeno cabo do continente asiático?

 

   Ou permanecerá a Europa aquilo que parece, ou seja: a parte preciosa do universo terrestre, a pérola da esfera, o cérebro de um vasto corpo?

 

 

   [Abro aqui um parêntese entre as citações de Valéry, para te lembrar, Princesa de mim, um passo de Os Lusíadas do nosso Camões (Canto III, 20):

 

                                       Eis aqui, quase cume da cabeça

                                       De Europa toda, o Reino Lusitano,

                                       Onde a terra se acaba e o mar começa

                                       E onde Febo repousa no Oceano.

                                       Este quis o Céu justo que floreça...

   Aí nos tens.]

 

   E termino as citações de La Crise de l´Esprit traduzindo o fim da segunda daquelas centenárias cartas do francês:

 

   Mas o Espírito europeu - ou, pelo menos, o que le tem de mais precioso - será totalmente difundível? O fenómeno da entrega do globo à exploração, o fenómeno da igualização das técnicas, o fenómeno democrático, que nos levam a prever uma deminutio capitis da Europa deverão ser considerados decisões absolutas do destino? Ou teremos nós ainda alguma liberdade de contrariar tal ameaçadora conjunção das coisas?

 

   Talvez procurando essa liberdade a criemos. Mas para tal procura será necessário abandonar por uns tempos a consideração dos conjuntos, e estudar no indivíduo pensante, a luta da vida pessoal com a vida social.

 

   E assim chego ao que te queria dizer. Como em cartas, mais recentes do que remotas, já te escrevi, a crise do mundo atual é, em sentido próprio, um ponto crítico, ou seja, um instante insistente, um momento em que se confrontam encruzilhadas, e caminhos parecem abrir-se como opções de orientação: não tenho nenhum dom profético, tampouco pensossinto que o profeta seja ou possa ser um adivinho... Mesmo profetizar é apenas anunciar que dado momento ou a presente hora é do apelo, da vocação, essa do chamamento que nos oriente, no íntimo de nós, para a via que nos aparece como a da virtude, isto é, da fortaleza na construção da cidade aberta a todos. Pois que não há convívio possível no mundo sem consciência da humanidade comum. E digo-te isto, minha Princesa de mim, não primeiramente por razão evangélica tão insistente nos escritos de S. João, mas por não poder, eu próprio, pensarsentir-me noutra condição que não seja essa, genética, comum a todos nós: Deus criou o Homem, e criou-o homem e mulher. Pertencemo-nos na nossa humanidade.

 

   Cada vez menos, e muito rapidamente, o mundo nosso habitat se divide entre centro e periferia, antes na ribalta vão surgindo povos e culturas clamando igualdade. Até o próprio fenómeno migratório massivo que todos os dias é invasivo mais não é do que um sintoma do impulso generalizado de emergência das gentes e da sua dignidade, a reclamarem o espaço de liberdade e progresso que perderam nas pátrias em que a ganância e o poderio de outros as submergiram.

 

   A urgência do momento atual não é equacionar poderes dominantes ou para tal vocacionados, é saber aceitar e compreender o diálogo como condição indispensável do convívio inevitável, para que este antes seja fator de construção de um mundo de justiça e paz. O Espírito da Europa - com a qual tudo foi ter, e da qual tudo, ou quase tudo veio - diz Valéry logo após o fim da Grande Guerra, talvez tenha essa missão de propor o caminho da liberdade, da tal liberdade que criamos quando a procuramos. Demanda só possível em jeito e amor de távola redonda dos povos todos, nos antípodas das tentações hegemónicas das grandes ou maiores potências ou das pretensões nacionalistas de pequenos satélites votados a sonhar com qualquer Retrotopia.  E, por falar nisto, fecho esta carta traduzindo-te trechos do final do livro de Sygmunt Bauman com o mesmo título (originalmente editado, em inglês, na versão que possuo, pela Polity Press, Cambridge, 2017):

 

   Todavia, há condições a respeitar para nos percebermos e tratarmos uns aos outros como ´válidos parceiros de diálogo´. As probabilidades de diálogo frutífero, tal como o Papa Francisco nos recorda, dependem do nosso recíproco respeito e a assumida, garantida e mutuamente reconhecida igualdade de estatuto:

 

   «A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É uma obrigação moral. Se quisermos repensar a nossa sociedade, precisamos de criar empregos dignificantes e bem pagos, especialmente para a gente nova. Fazê-lo requer conceber novos, mais inclusivos e igualitários modelos económicos, visando não só servir uns poucos mas beneficiar gente comum e a sociedade no seu conjunto. Isto chama-nos a passar de uma economia líquida para uma economia social.» 

 

   Não há atalhos para um regresso rápido, hábil e sem esforço à construção de diques contra a corrente - seja a Hobbes, às tribos, à desigualdade, ou ao ventre materno. Repito: a tarefa presente de se elevar a integração humana ao nível de toda a humanidade não terá provavelmente qualquer precedente, precisamente por se revelar tão árdua, onerosa e perturbante de perspetivar, realizar e completar. Temos que nos preparar para um longo período, marcado por mais perguntas do que respostas, mais problemas do que soluções, tal como para agirmos na penumbra de difíceis equilíbrios entre as probabilidades de êxitos e de derrotas. Mas neste caso - contrariamente aos casos em que Margaret Thatcher invocava falta de alternativas - o veredito de que "não há alternativa"

 

depressa perderá sentido e não beneficiará de qualquer apelo. Mais do que em quaisquer outros tempos, nós - habitantes humanos da Terra - estamos numa situação de ou/ou, assim ou assado: ou nos damos as mãos, ou iremos cair na mesma sepultura.

 

   As campanhas eleitorais europeias perderam mais uma oportunidade de suscitar uma reflexão cidadã.

 


Camilo Maria       

 

Camilo Martins de Oliveira

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, ESCRITORA E DRAMATURGA (II)

 

No artigo anterior, referimos o Colóquio sobre Sophia, entretanto realizado numa iniciativa conjunta da Fundação Calouste Gulbenkian, onde teve lugar, e do Centro Nacional de Cultura. Trata-se então do II Colóquio Internacional sobre Sophia: e houve ensejo de retomar a referência não só à escritora em si, como a textos apresentados e debatidos no Colóquio anterior que teve lugar tal como este na Gulbenkian.

 

Em ambos os Colóquios, ouviram-se intervenções de Guilherme d’Oliveira Martins como Presidente das duas entidades (FCG e CNC) e de Maria Andresen Sousa Tavares, bem como de dezenas de oradores, e isto para além dos intervenientes nos debates que se seguiam às intervenções.

 

Referimos então agora especificamente este II Colóquio Internacional.

 

 As intervenções e os debates, num total de mais de 30 temas, constituíram no seu conjunto uma notabilíssima abordagem da figura e obra de Sophia, mas mais do que isso: propuseram e permitiram uma visão amplamente analisada e debatida de aspetos variados da obra em si, da identidade e personalidade, e na literatura e cultura portuguesa e universal: e com destaque específico para referências a países e/ou culturas como a Grécia, a Espanha, a Inglaterra, a Dinamarca ou o Brasil. E isto, envolvendo também intervenções de entidades e individualidades ligadas a esses países mas também aos EUA, Itália, Alemanha, França.

 

Cita-se a propósito o início do Prólogo da peça “O Colar”:

 

“Esta História aconteceu/Num país chamado Itália/Na cidade de Veneza/Que é sobre água construída/E noite e dia se mira/Sobre a água refletida.//Suas ruas são canais/Onde sempre gondoleiros/Vão guiando barcas negras/Em Veneza tudo é belo/Tudo brilha e cintila”...   

 

Essa internacionalização do temário documenta de forma eloquente a própria internacionalização da arte e da literatura criada por Sophia. Aliás, é de assinalar que em 2003 Sophia foi agraciada com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, o que documenta e reforça o prestígio internacional.  E isso significa, note-se bem, a profundidade dos valores de cultura inerentes e bem presentes na sua vida e obra.

 

Num artigo publicado no último número do Jornal de Letras (8 a 21 de maio de 2019) Guilherme d’Oliveira Martins procede a uma análise vasta e detalhada da vida e obra de Sophia de Mello Breyner Andresen. Aí se informa acerca de um conjunto de iniciativas que, ao longo do ano, se irão realizar, em Portugal, Itália, Brasil e Macau.

 

DUARTE IVO CRUZ

 

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

29. A “VERDADE HISTÓRICA”

 

Há verdades que não vale a pena contradizer.
Por exemplo, o 25 de abril de 1974 ocorreu nesse dia e ano. 
Afirmar ser mentira, é desnecessário e redundante.
Todavia, não temos uma verdade sobre o que foi o 25 de abril de 1974. 
Há várias interpretações: uma revolução, um golpe de estado e político, um golpe de estado militar e político, uma revolta militar, um movimento militar e popular pacífico. 
Não há uma verdade absoluta. 
Não há uma verdade com letra grande. 
Se uma revolução é ganha os ganhadores são heróis. 
Se a revolução se perde os perdedores são terroristas. 
Quando se ganha deixa-se de ser mau ou terrorista para se ser bom ou herói.
Os ganhadores, conquistadores e vencedores são os bons, os heróis, o poder. 
Os perdedores, conquistados e vencidos são os maus, os fracos, os dominados. 
Os vencidos são os maus que ainda não venceram.
São os maus que ainda não ganharam.
A História é uma construção, uma narrativa, há sempre nela uma interpretação subjetiva, embora a se deva interpretar o mais objetivamente possível.

 

21.05.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício 

CRÓNICA DA CULTURA

(…) naquela casa houve sempre neve a agudizar o frio: verão ou inverno os seres eram recrutados ao horizonte.

 

 

 

Bruno, meu amigo, minha tão jovem vaidade;

 

Só posso responder à tua carta dizendo-te que naquela casa, tanto quanto me recordo, houve sempre neve. Neve, lá mesmo dentro da casa. Diria que em certos dias havia neve dentro do próprio forno de lenha. Fora arrendada essa casa aos caseiros da quinta da tua avó. Recordas-te? Caía nela em charcos, a água das chuvas, a neve, em despedaçados e pesados flocos, fustigava-a com a ajuda do vento e tudo tão suportado pela casa estoica e pelos seus habitantes. Tenho a certeza de que era assim para que eles pudessem ser seres do mundo. Agora tenho outra certeza: mesmo no verão, no tempo dos milhos, o tempo, caía pelo buraco do teto da cozinha de chão de terra e, feito neblina, a qualquer hora, furava todas as velhas rachas da casa e expandia-se no ar, fazendo-nos sentir necessidade de algum agasalho. A casa era uma casa de aldeia, rural, marcada pelas pedras cinzentas e pelos sequeiros de pedra cinzentos e pela eira de pedra cinzenta. A casa era o bater do coração do ti Aires que a achava um mistério fundo, ou não guardasse ela, gentes e bichos, num orgulho de casa conforme a todas as necessidades, assim ele a descrevia. Confirmo-te que a tia São fazia o tal arroz de feijão no tacho, assente na grelha dos três pés, e, não havia melhor cheiro no mundo do que aquele que vivia no fumegar deste tacho ou na abertura da tampa do forno de lenha, onde, assada estava a galinha e cozido o pão, ambos a espreitar-nos como um vestido aberto às cerejas. E nós, Bruno, nós lá íamos perguntando à Ti São, qual a razão do repasto e por entre as perguntas, as lágrimas que ela limpava dizendo sempre:

 

Maldita constipação! E fazia por tossir.

 

A ti São dava-nos sempre suspiros que fazia com as claras dos ovos que sobejavam dos almoços com os amigos do marido, vizinhos de ambos, e em cuja mesa – que era a própria arca salgadeira das carnes do porco - ela se não sentava nunca, apenas de pé e de prato de alumínio na mão só o arroz de feijão provava. Ainda assim, para nós, abria o forno, metia a pá e lá vinham eles, os suspiros direitinhos provocar o nosso olhar.

 

Vá levai alguns, dizia-nos num sorriso de ternura.

 

Nós lá íamos para casa felizes com aquelas guloseimas únicas. No outro dia, ou melhor, em mais outro dia, seguia a ti São às 5h da manhã para o campo, de onde só regressava de novo por volta da meia hora, como quem diz, a um outro meio-dia e meia. Regressava para pôr no lume a sopa a fazer. Esta sopa levava couves e um pouco de gordura da barriga do porco e comiam-na com broa saída das mãos da Ti São. A nós ela deitava os olhos e dizia-nos:

 

Vá ide almoçar, isto não é para os meninos.

 

E tu reparavas que eles nunca falavam um com o outro durante o almoço, ou, falava o ti Aires por gestos secos, conhecidos da ti São depois de 50 anos de matrimónio. Talvez por isso havia sempre neve na casa. Talvez por isso o fulgor do mundo entrara há 50 anos, quando o tempo das promessas lhes obedecia, e, depois, rapidamente as fartas hortas foram ficando nuas, o quarto do casal com lençóis mais gelados, os porcos a engordarem sempre o mesmo e os secos polvos do Natal cada vez mais tesos e magros.

 

E o ti Aires lá seguia para a empa de pés nus e gretados enfiados nas botas velhas, e, a ti São de joelhos, lavava a roupa no riacho partindo previamente com as mãos o gelo da superfície da água; depois lavava a roupa, esfregava-a na pedra como se não tivesse chagas nas mãos. Num sol qualquer corava a roupa exposta no chão; puxava os bois à fonte, enchia os colchões de capas de milho, deitava semente ao lavrado e vinha para casa dar comida às galinhas e aos coelhos e com a tal constipação que a fazia chorar, cortava um pouco da barriga do porco que cozera na sopa do almoço, e acompanhava-a com batatas cozidas, evitando que fossem solteiras de acompanhamento. Para nós, lá vinha mais um suspiro.

 

Tudo em silêncio, ou quase.

 

E tens razão Bruno, nunca compreendemos porque chegada a quase noite, o ti Aires lhe batia, e lhe batia até com cordas. Depois bebia, dizendo que era para esquecer ou aquecer e deitava-se.

 

Nós e os suspiros de que falas. Nós que tanto gostávamos de passar o dia a brincar à volta daquela casa, e a dizer adeus à ti São, nós, olhávamos para os suspiros e esmigalhávamo-los nas mãos a cada chibatada do ti Aires na Ti São, e o que caia das nossa mãos era neve. Naquela casa houve sempre neve, houve sempre muito frio.

 

E a cebola no tacho também fazia chorar a ti São: e nós miúdos confundidos.

 

Bruno há sempre um envolvimento na reflexão a respeito de tudo e com a nossa atual idade tem de haver decantação. Alguns acontecimentos que referiste poderiam parecer-nos, nos dias de hoje, insignificantes, e, afinal surgem com um significado que no momento não pensámos ter sido tão violento por muito que esmigalhássemos os suspiros nas mãos. Vivemos naquela casa episódios lúdicos e presenciámos forças ensombradas, forças daquelas que impressionavam os olhos a chorar de tão brutas serem. Digo-te: é bom que te não queiras perdido daquele tempo. É bom que queiras que o criador tenha que optar.

 

É bom que saibas que tanto quanto me recordo, e tu te aproximas, naquela casa houve sempre neve a agudizar o frio: verão ou inverno os seres eram recrutados ao horizonte. E enfim, a indiferença, essa, em que os faziam jogar a própria vida…era, é…

 

Saudades te envio

 

Isa

 

Teresa Bracinha Vieira

"MOTU PROPRIO" ANTI-ABUSOS

 

1. Muitas vezes me tenho referido aqui, e não só aqui, à tragédia da pedofilia na Igreja. Foram milhares de menores e adultos vulneráveis que foram abusados. Mesmo sabendo que o número de pedófilos é muito superior na família e noutras instituições, a gravidade da situação na Igreja é mais dramática. Por várias razões: as pessoas confiavam na Igreja quase sem condições, o que significa que houve uma traição a essa confiança, e o clero e os religiosos têm responsabilidades especiais. O mais execrável: abusou-se e, a seguir, ameaçou-se as crianças para que mantivessem silêncio, pois, de outro modo, cometiam pecado e até poderiam ir para o inferno. Isto é monstruoso, o cume da perversão. E houve bispos, superiores maiores, cardeais, que encobriram, pois preferiram salvaguardar a instituição Igreja, quando a sua obrigação é proteger as pessoas, mais ainda quando as vítimas são crianças. O Papa Francisco chamou a esta situação “abusos sexuais, de poder e de consciência”. Também diz, com razão, que a base é o “clericalismo”, julgar-se numa situação de superioridade sagrada e, por isso, intocável. Neste abismo, onde é que está a superioridade do exemplo, a única que é legítimo reclamar?

 

 Felizmente, há hoje um alerta da opinião pública e, por isso, Francisco, em vez de condenar ou atribuir outras intenções aos meios de comunicação social, agradece, pois foi o meio para que também a Igreja acordasse do seu sono sacrílego.

 

E, aí, Francisco tomou uma iniciativa inédita e histórica, convocando uma Cimeira para o Vaticano, de 21 a 24 de Fevereiro passado. Foi uma Cimeira com 190 participantes, entre os quais 114 Presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, bispos representando as Igrejas católicas orientais, alguns membros da Cúria, representantes dos superiores e das superioras gerais de ordens e congregações religiosas, alguns peritos e leigos.

 

O Papa queria, em primeiro lugar, que se tomasse consciência da situação e do sofrimento incomensurável causado, que fica para a vida. E que se tomasse medidas concretas, de tal modo que se pudesse constatar um antes e um depois desta Cimeira verdadeiramente global e representativa da Igreja universal e nos seus vários níveis. Os três dias estiveram sob o lema tríplice: “responsabilidade”, “prestação de contas”, “transparência”. O Papa quer — não se trata de mero desejo — implantar “tolerância zero”.

 

2. Para implantar essa “tolerância zero” e pôr fim a esta catástrofe na Igreja, foi publicado, no passado dia 9 de Maio, o Motu Proprio (Decreto de iniciativa papal), que entra em vigor no dia 1 de Junho. Nesta Carta Apostólica, com o título “Vos estis lux mundi” (Vós sois a luz do mundo), o Papa Francisco decreta medidas concretas contra a pedofilia na Igreja.

 

Estas normas contra os abusadores e os encobridores impõem-se, porque, escreve Francisco, “o delito de abuso sexual ofende Nosso Senhor, causa danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e prejudica a comunidade dos fiéis.”

 

Os clérigos e religiosos ficam obrigados (não se trata de mera obrigação moral, mas legal) a denunciar os abusos aos superiores, bem como a informá-los sobre as omissões e encobrimentos na sua gestão. Todas as Dioceses do mundo têm a obrigação de criar no prazo de um ano um ou mais sistemas estáveis e de fácil acesso ao público, para que, com facilidade, todos possam apresentar informações sobre abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos e o seu encobrimento. O documento ratifica a obrigação de colaborar com a justiça civil dos países. Aliás, “estas normas aplicam-se sem prejuízo dos direitos e obrigações estabelecidos em cada lugar por leis do Estado, em particular as relativas a eventuais obrigações de informar as autoridades civis competentes”. Para lá do assédio e da violência contra menores (menos de 18 anos) e adultos vulneráveis, o texto inclui a violência sexual e o assédio que provêm do abuso de autoridade, bem como a posse de pornografia infantil e qualquer caso de violência contra as religiosas por parte de clérigos e ainda os casos de assédio a seminaristas ou noviços maiores de idade. Impõe a protecção dos denunciantes e das vítimas: quem denuncia abusos não pode ser objecto de represálias ou discriminação por ter informado; as vítimas e suas famílias serão tratadas com dignidade e respeito e devem receber a devida e adequada assistência espiritual, médica e psicológica; é preciso atender também ao problema das vítimas que no passado foram reduzidas ao silêncio. Estas normas aplicam-se à Igreja universal. Solicita-se vivamente a colaboração dos leigos, que podem ter capacidades e competências que os clérigos não dominam. Evidentemente, reafirma-se o princípio da presunção de inocência da pessoa acusada e o segredo da confissão deve manter-se como inviolável. Como escreve o Papa, “para que estes casos, em todas as suas formas, nunca mais aconteçam, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por acções concretas que envolvam todos os membros da Igreja.”

 

3. Na apresentação do documento esteve também Charles Scicluna, Arcebispo de Malta e Secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé, considerado o homem forte do Papa na temática anti-abusos. São suas estas declarações na altura: “Ninguém com responsabilidade na Igreja está acima da lei. Agora temos uma lei universal que determina as etapas fundamentais para a investigação de um membro eclesiástico, Bispo ou Superior Maior, religioso ou religiosa. Acabou a imunidade.”

 

Já depois da publicação do Motu Proprio, rebentou na Polónia mais um escândalo: um documentário sobre abusos sexuais do clero polaco, com o título “Não digas a ninguém”, abalou a sociedade. A película sobre casos de menores abusados sexualmente por religiosos católicos provocou uma onda de reacções na Polónia, com mais de três milhões de visitas na internet nas primeiras horas que se seguiram à sua publicação. Entre as vítimas está também o testemunho de um homem que foi abusado aos 12 anos pelo sacerdote que foi confessor do ex-presidente polaco e líder histórico do Solidariedade, Lech Walesa.

 

Estou convicto de que agora se está no caminho certo para acabar com esta chaga terrível na Igreja. Espera-se que, limpa, a Igreja possa ficar mais livre para dar o seu contributo imprescindível no sentido de ajudar a limpar da mesma chaga tantas outras instituições, com a instituição familiar à cabeça, que no mundo infernalizam a vida de inocentes.

 

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

Escreve de acordo com a antiga ortografia
Artigo publicado o no DN  | 19 MAI 2019

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